Doce sensação do dever cumprido
Pedro J. Bondaczuk
A função dos profissionais envolvidos diretamente no processo de comunicação é, em geral, absorvente, espinhosa e nem sempre compensadora. Não, pelo menos, do ponto de vista financeiro, embora sob o aspecto de sua importância para a comunidade, seja bastante gratificante, quando quem cumpre seu dever tem a plena consciência de que fez o melhor possível para manter o público (destinatário de sua mensagem) bem informado. Há, em todo este trabalho, riscos que lhe são inerentes, principalmente para quem lida com a área de jornalismo. Em todo o mundo, periodicamente, gente da imprensa tomba no seu campo específico de luta, cumprindo a sua missão.
A TV Campinas, desde o dia de Natal (que acabou sendo uma data de grande tristeza para todos os seus funcionários) está de luto pela morte de um companheiro. Ronaldo Gomes de Oliveira, conhecido carinhosamente por todos que com ele privavam dessa tarefa, nem sempre agradável, de comunicar os fatos alegres e tristes da comunidade, pelo apelido de "Neguinho", foi colhido pela fatalidade, quando cobria o infausto acontecimento da véspera natalina, que foi o incêndio que destruiu o Supermercado Eldorado.
Na procura por um ângulo mais favorável para mostrar ao telespectador (razão de ser de toda a sua atuação profissional), o que estava acontecendo, o operador de vídeo, há cinco anos na emissora e que vinha praticando para ser cinegrafista, quedou no seu campo de "batalha" e no dos profissionais que lidam com a informação. Foi soterrado por uma das paredes do supermercado, que desabou sobre ele, não lhe dando a mínima chance de defesa.
O que os companheiros mais lembram hoje de "Neguinho" é o seu enorme espírito esportivo, a sua alegria, seu companheirismo. Dias antes, ele havia feito imagens festivas de crianças, em matéria especial de Natal. Mal sabia que não teria chances de ver e de comemorar mais esta data, colhido que viria a ser, brutalmente, pela fatalidade.
Mas, se tombou, o fez no seu posto de serviço. Morreu como sempre viveu. Buscando dar o melhor de si para que o trabalho que realizava (e no qual acreditava) saísse com a melhor das qualidades. Para que a matéria que estava ilustrando, com o testemunho indesmentível das suas câmeras, pudesse ter o maior brilho, o ângulo mais criativo e realista, o enfoque mais preciso, tudo isso em respeito ao telespectador.
Ronaldo certamente ficará na lembrança de todos como exemplo de dedicação. Servirá de paradigma aos futuros profissionais que um dia deverão ocupar o mesmo posto. Será sempre recordado por seus companheiros (e doravante, certamente, também pelo público que aprecia TV) como um homem que amava o que fazia e que não media sacrifícios para executar sua tarefa da maneira mais correta, honesta e dedicada possível. Mesmo que isso pudesse implicar nos naturais riscos, inclusive o de morte, a que determinadas missões expõem os que precisam estar no cenário dos dramas e tragédias diários, que acometem a comunidade, e que lhes compete registrar.
Hoje, é claro e compreensível, seus amigos e familiares lamentam a sua perda e estão chocados pela fatalidade que o colheu. Com o tempo (e este é o melhor remédio para todas as perdas, dores e tristezas) restará apenas uma suave lembrança da amizade e do carinho que ele dedicou aos que com ele conviviam.
Ficará uma saudade, mesclada com um sentimento de profundo respeito pela sua coragem, sua disposição profissional e seu entusiasmo pelo trabalho. Onde quer que hoje esteja (provavelmente está em um mundo melhor do que este), "Neguinho" certamente estará junto aos seus colegas, inspirando-os para que prossigam exercendo, com o melhor de seu talento, a sua missão. Descanse em paz, companheiro de lutas, certo de que você cumpriu, com louvor e invejável dedicação, o seu dever. Você jamais será esquecido por aqueles a quem tão bem serviu e tanto respeitou...
(Artigo publicado na página 20, Variedades, do Correio Popular, em 27 de dezembro de 1986)
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
Pedro J. Bondaczuk
A função dos profissionais envolvidos diretamente no processo de comunicação é, em geral, absorvente, espinhosa e nem sempre compensadora. Não, pelo menos, do ponto de vista financeiro, embora sob o aspecto de sua importância para a comunidade, seja bastante gratificante, quando quem cumpre seu dever tem a plena consciência de que fez o melhor possível para manter o público (destinatário de sua mensagem) bem informado. Há, em todo este trabalho, riscos que lhe são inerentes, principalmente para quem lida com a área de jornalismo. Em todo o mundo, periodicamente, gente da imprensa tomba no seu campo específico de luta, cumprindo a sua missão.
A TV Campinas, desde o dia de Natal (que acabou sendo uma data de grande tristeza para todos os seus funcionários) está de luto pela morte de um companheiro. Ronaldo Gomes de Oliveira, conhecido carinhosamente por todos que com ele privavam dessa tarefa, nem sempre agradável, de comunicar os fatos alegres e tristes da comunidade, pelo apelido de "Neguinho", foi colhido pela fatalidade, quando cobria o infausto acontecimento da véspera natalina, que foi o incêndio que destruiu o Supermercado Eldorado.
Na procura por um ângulo mais favorável para mostrar ao telespectador (razão de ser de toda a sua atuação profissional), o que estava acontecendo, o operador de vídeo, há cinco anos na emissora e que vinha praticando para ser cinegrafista, quedou no seu campo de "batalha" e no dos profissionais que lidam com a informação. Foi soterrado por uma das paredes do supermercado, que desabou sobre ele, não lhe dando a mínima chance de defesa.
O que os companheiros mais lembram hoje de "Neguinho" é o seu enorme espírito esportivo, a sua alegria, seu companheirismo. Dias antes, ele havia feito imagens festivas de crianças, em matéria especial de Natal. Mal sabia que não teria chances de ver e de comemorar mais esta data, colhido que viria a ser, brutalmente, pela fatalidade.
Mas, se tombou, o fez no seu posto de serviço. Morreu como sempre viveu. Buscando dar o melhor de si para que o trabalho que realizava (e no qual acreditava) saísse com a melhor das qualidades. Para que a matéria que estava ilustrando, com o testemunho indesmentível das suas câmeras, pudesse ter o maior brilho, o ângulo mais criativo e realista, o enfoque mais preciso, tudo isso em respeito ao telespectador.
Ronaldo certamente ficará na lembrança de todos como exemplo de dedicação. Servirá de paradigma aos futuros profissionais que um dia deverão ocupar o mesmo posto. Será sempre recordado por seus companheiros (e doravante, certamente, também pelo público que aprecia TV) como um homem que amava o que fazia e que não media sacrifícios para executar sua tarefa da maneira mais correta, honesta e dedicada possível. Mesmo que isso pudesse implicar nos naturais riscos, inclusive o de morte, a que determinadas missões expõem os que precisam estar no cenário dos dramas e tragédias diários, que acometem a comunidade, e que lhes compete registrar.
Hoje, é claro e compreensível, seus amigos e familiares lamentam a sua perda e estão chocados pela fatalidade que o colheu. Com o tempo (e este é o melhor remédio para todas as perdas, dores e tristezas) restará apenas uma suave lembrança da amizade e do carinho que ele dedicou aos que com ele conviviam.
Ficará uma saudade, mesclada com um sentimento de profundo respeito pela sua coragem, sua disposição profissional e seu entusiasmo pelo trabalho. Onde quer que hoje esteja (provavelmente está em um mundo melhor do que este), "Neguinho" certamente estará junto aos seus colegas, inspirando-os para que prossigam exercendo, com o melhor de seu talento, a sua missão. Descanse em paz, companheiro de lutas, certo de que você cumpriu, com louvor e invejável dedicação, o seu dever. Você jamais será esquecido por aqueles a quem tão bem serviu e tanto respeitou...
(Artigo publicado na página 20, Variedades, do Correio Popular, em 27 de dezembro de 1986)
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