Alma das coisas
Pedro J. Bondaczuk
O valor intrínseco
dos objetos inanimados
afere-se pela utilidade.
Asseguro, todavia,
que coisas inanimadas
também têm alma.
As paredes do meu
gabinete de trabalho
já testemunharam
sonhos impossíveis
angústias e desespero
e inesperadas alegrias.
Impregnadas de esperança,
absorvem saudável energia,
esponjas de areia e caliça.
Estas paredes têm alma.
No canto, bem no fundo,
Do aconchegante aposento,
guardada como relíquia,
minha Olivetti Lettera repousa.
Por suas teclas de chumbo
já passou um tempo do mundo,
nasceram crônicas, reportagens
dramas e ilusões
e desilusões de amor.
A Olivetti Lettera tem alma.
Encostadas nas paredes,
estantes pejadas de livros,
de poeira e de erudição,
onde convivem em paz,
- estranha vizinhança –
Platão e Marquês de Sade.
As estantes têm alma.
A poltrona, velha e macia,
que acomoda meu traseiro
em longas viagens imaginárias
das horas de meditação,
é onde gesto, verso por verso,
penetro o âmago do átomo,
e esquadrinho, assustado,
a vastidão do universo.
Esta poltrona tem alma.
A escrivaninha de mogno
atulhada de papéis.
de anotações apressadas,
esboços recados, notas
e fotos daqueles que amo
é cúmplice, silente e zelosa,
de aventuras literárias
e matérias para jornais.
A escrivaninha tem alma.
A caneta, de ponta fina,
afiada e implacável navalha,
espera, paciente e imóvel,
seu momento de atuar,
de cortar orações, períodos, parágrafos,
longos capítulos, sem fim,
e adequar verbos e substantivos,
suprimindo adjetivos supérfluos.
A caneta tem alma.
É certo que
o valor intrínseco dos objetos
afere-se pela utilidade.
Asseguro, todavia,
que coisas inanimadas
também têm alma,
e aparentada com a minha.
(Poema composto em Campinas, em 16 de setembro de 2011).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
Pedro J. Bondaczuk
O valor intrínseco
dos objetos inanimados
afere-se pela utilidade.
Asseguro, todavia,
que coisas inanimadas
também têm alma.
As paredes do meu
gabinete de trabalho
já testemunharam
sonhos impossíveis
angústias e desespero
e inesperadas alegrias.
Impregnadas de esperança,
absorvem saudável energia,
esponjas de areia e caliça.
Estas paredes têm alma.
No canto, bem no fundo,
Do aconchegante aposento,
guardada como relíquia,
minha Olivetti Lettera repousa.
Por suas teclas de chumbo
já passou um tempo do mundo,
nasceram crônicas, reportagens
dramas e ilusões
e desilusões de amor.
A Olivetti Lettera tem alma.
Encostadas nas paredes,
estantes pejadas de livros,
de poeira e de erudição,
onde convivem em paz,
- estranha vizinhança –
Platão e Marquês de Sade.
As estantes têm alma.
A poltrona, velha e macia,
que acomoda meu traseiro
em longas viagens imaginárias
das horas de meditação,
é onde gesto, verso por verso,
penetro o âmago do átomo,
e esquadrinho, assustado,
a vastidão do universo.
Esta poltrona tem alma.
A escrivaninha de mogno
atulhada de papéis.
de anotações apressadas,
esboços recados, notas
e fotos daqueles que amo
é cúmplice, silente e zelosa,
de aventuras literárias
e matérias para jornais.
A escrivaninha tem alma.
A caneta, de ponta fina,
afiada e implacável navalha,
espera, paciente e imóvel,
seu momento de atuar,
de cortar orações, períodos, parágrafos,
longos capítulos, sem fim,
e adequar verbos e substantivos,
suprimindo adjetivos supérfluos.
A caneta tem alma.
É certo que
o valor intrínseco dos objetos
afere-se pela utilidade.
Asseguro, todavia,
que coisas inanimadas
também têm alma,
e aparentada com a minha.
(Poema composto em Campinas, em 16 de setembro de 2011).
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