Sunday, September 18, 2011







Quem perde é o Terceiro Mundo


Pedro J. Bondaczuk


As dramáticas mudanças que estão ocorrendo em todo Leste europeu vêm agitando não somente os meios políticos do chamado Primeiro Mundo, esse grupo seleto e restrito dos países industrializados, com altíssimo padrão de vida e muito capital para investir. Também os detentores de tais recursos, ou seja, as poderosas empresas privadas do Ocidente, vivem a excitação deste momento, de olho não exatamente na paz mundial, mas nos lucros que poderão auferir de todo esse processo.

Afinal, o que vem motivando, entre tantas coisas, o clamor dos povos do bloco sob a influência soviética, e principalmente da própria superpotência marxista, por mudanças, é a ansiedade de entrar na era do consumismo, que chegou ao Ocidente há décadas, mas que ali não passa ainda de uma promessa. Seria, pois, como unir a “a fome com a vontade de comer”.

Para os países industrializados, a abertura de novos mercados é fundamental, já que todos eles possuem altas taxas de desemprego. No Terceiro Mundo, evidentemente, eles vêem mais um concorrente do que um cliente. Principalmente porque, tendo que fazer saldos superavitários crescentes em suas balanças comerciais, para honrar os cada vez mais pesados compromissos de sua monumental dívida externa, os terceiromundistas são, prioritariamente, vendedores por excelência, nunca compradores.

Daí os mercados do Leste europeu serem tão tentadores. Todavia, junto com os produtos, certamente irão capitais. Sem dinheiro, a Perestroika, certamente, não passará de mero projeto, e não é esse o desejo de Mikhail Gorbachev, é evidente. E muito menos dos demais dirigentes marxistas, que têm que mostrar serviço, agora, para se conservar no poder, pois a linguagem da força bruta, das ameaças, da repressão armada até agora adotada, não funciona mais.

O processo mudancista, posto em marcha, é irreversível. Mas de onde vão sair os recursos que o financiem? Os capitais que serão desviados para o Leste da Europa são os que antes vinham para o Terceiro Mundo! Por isso, os países endividados e carentes de meios para a promoção de seu desenvolvimento podem esperar tempos muito difíceis. Bem piores do que este que estão enfrentando na atualidade.

Possivelmente, a própria renegociação das dívidas será mais problemática. Os terceiromundistas, em outras palavras, vão ter que se virar, que usar a imaginação e o talento para sair da enrascada em que estão metidos. Precisarão, por exemplo, controlar sua taxa de natalidade. E, sobretudo, investir bem os poucos recursos que vierem a obter, que tenderão a ser meras “sobras da mesa” dos países do Leste.

Portanto, a década que se avizinha prenuncia tempos dificílimos para os povos que vivem abaixo da linha do Equador. Quem duvidar, basta que confira dentro de alguns poucos anos.

(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 29 de novembro de 1989).

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