Motor do sucesso
Pedro J. Bondaczuk
A motivação, ou seja, a expectativa de que o que somos ou o que fazemos possa resultar em alguma forma de reconhecimento (ou pecuniária, ou eventual promoção profissional ou social, ou homenagens que nos satisfaçam o ego, ou tantas outras), é um dos motores das grandes realizações. Não é o único, na verdade, e nem o mais potente. Essa primazia cabe à “necessidade”. Quando precisamos demais de alguma coisa, nos desdobramos e acabamos, de uma forma ou de outra, realizando o que não raro até nos pareça impossível.
Cultivamos, porém, virtudes, talentos e características positivas não apenas para satisfação pessoal, mas para sermos apreciados (e amados) por alguém. Todas as grandes obras e realizações ao longo do tempo, que ensejaram o progresso e a civilização, tiveram, por motivação primária, o amor. Ele é o grande motivador das nossas vontades, reflexões e ações, mesmo que não o saibamos ou tentemos negar.
Há, claro, outros fatores motivadores. Um deles é a justa remuneração pela obra que produzimos. É certo que raramente nos damos por satisfeitos por essa paga, por maior que ela seja. Sempre nos consideramos merecedores de mais, de muito mais do que nos remuneraram. Desde que não exagerada, essa insatisfação tende a ser até positiva. Torna-se em poderosa forma de motivação.
O escritor português, Alexandre Herculano, chegou à seguinte conclusão, em seu épico “Eurico, o presbítero”: “Realidade ou desejo incerto, o amor é o elemento primitivo da atividade interior; é a causa, o fim e o resumo de todos os afetos humanos”. E não apenas de afetos, mas de virtudes, comportamentos e atos. Entenda-se amor, aqui, não propriamente no sentido mais comum e usual do termo. Pode também ser (e é), apreciação sincera e profunda do que somos e do que fazemos.
E qual é a grande motivação do escritor, que o impulsiona a produzir obras profundas, valiosas, lapidares até? Intrinsicamente, também é o “amor”, ou seja, a aspiração pela apreciação dos seus méritos, do seu talento e da sua virtude. Mas ela nunca vem só. Os motivadores sobressalentes variam de uma pessoa para outra. Alguns homens de letras sentem-se motivados, apenas, quando seus livros tornam-se best-sellers. Para estes, a remuneração pelo seu trabalho é a melhor (quando não única) forma de reconhecimento. Quando uma de suas produções esgota edições após edições, desdobra-se para produzir outras, e outras, e outras, e cada vez melhores, no afã de repetir o sucesso. Às vezes, consegue. Outras tantas, fracassa.
Alguns, desmotivam-se face ao insucesso. Há, até, os que deixam de escrever por causa disso e se afastam por completo do meio literário, que passam a detestar. Há os que insistem, e insistem e insistem, na esperança de repetir o êxito que um dia tiveram (isto, quando tiveram). Tudo depende da sua personalidade e do modo de encarar a arte e, sobretudo, a vida.
Mas não é somente o dinheiro que motiva escritores. Para alguns, o prestígio tem até maior importância do que a remuneração. Há, até, casos extremos dos que se sentem envergonhados por terem que vender seus livros, que consideram como “filhos espirituais”. Tolice, claro. Mas, como afirmei, a falta de motivação, qualquer que seja sua natureza, não raro mata no ninho extraordinários talentos. Por não verem resultados, nem financeiros e nem de qualquer outro tipo, ou seja, um mínimo de reconhecimento, muitos escritores criativos e geniais param, até, de escrever.
Para exemplificar o que quero dizer, cito o caso de um amigo, desses talentos raros de se encontrar, sujeito genial, criativo ao extremo e competente no manejo das “ferramentas” do ofício, notadamente das palavras do nosso idioma. Cronista de um jornal diário de porte médio, tinha uma legião de leitores, que a cada crônica sua, manifestavam-lhe apreço e admiração, ou por cartas, ou por e-mails, ou por telefonemas, ou pessoalmente. Instado por colegas, resolveu escrever seu primeiro livro.
Posso atestar a qualidade dessa obra, porquanto tive a honra de ser convidado a prefaciá-lo. Pronto o livro, veio a “romaria” em busca de uma editora. Após quatro ou cinco recusas, encontrou, afinal, quem se dispusesse a publicar sua obra. Sentia-se eufórico, mais criativo do que nunca, motivado por esse sucesso inicial. Começou a escrever, até, seu primeiro romance (muito bom, por sinal, cujos primeiros capítulos tive o privilégio de ler). Suas crônicas no jornal, que já eram muito boas, tornaram-se ótimas. Cresceram em qualidade.
Veio, afinal, o tão aguardado dia do lançamento. Em conjunto com a editora, foi programada uma noite de autógrafos, em uma das mais badaladas livrarias da cidade. O tal amigo enviou convites para cerca de 300 pessoas. O jornal deu uma nota bem visível a respeito. Meu amigo esperava esgotar três centenas (ou mais) de exemplares de cara, durante o evento. Para ter certeza da presença dos convidados, teve o capricho de telefonar para cada um deles, confirmando que estariam presentes. Fez despesas que nem poderia fazer. Contratou, por exemplo, um dos buffets mais tradicionais e mais caros da cidade, para recepcionar os potenciais compradores do seu livro.
Veio, finalmente, a tal da noite de autógrafos. Detesto esse tipo de badalação, mas, como me comprometi a comparecer, cumpri o compromisso. A princípio, julguei, até, que o evento havia sido adiado. Na hora marcada, havia, apenas, quatro pessoas na livraria, além de três ou quatro funcionários. Ninguém dos que juraram que iriam à noite de autógrafos compareceu. O evento foi um fracasso. Um dispendioso e frustrante fiasco.
Desmotivado, o amigo quis, daí por diante, distância de tudo o que se referisse a literatura. Demitiu-se do jornal e voltou a advogar (além de jornalista, é, também, competente advogado). O tal romance que havia iniciado, fez questão de apagar da memória do computador. E só não rompeu nossa amizade, de longuíssima data, porque me propus a jamais tocar no tema literatura. E nunca toquei com ele.
Embora discorde da atitude do amigo, estive a pique de seguir seu exemplo, face ao fracasso (até aqui) de vendas dos meus livros “Cronos e Narciso” e “Lance fatal”, que não estão vendendo coisíssima alguma. Ainda bem que não programei nenhuma noite (ou tarde, ou manhã, sei lá) de autógrafos e nem fiz despesas por conta. O insucesso dói, humilha, frustra, arrasa nossa autoconfiança e (por que não?) nossa criatividade. Claro que não pensei em parar de escrever crônicas, e nem poderia, face aos inúmeros compromissos que assumi a propósito.
Só que sou um pouquinho mais teimoso do que meu amigo. E encontro nova motivação – esta mais poderosa, posto que realista – no amor que tenho pela literatura. Continuo e continuarei escrevendo meus livros, mas sem expectativa sequer de que venham a ser publicados. Encaro, agora, esse exercício não mais como atividade potencialmente lucrativa, mas como mero “hoby”. Diverte-me e me satisfaz e isso me basta. Se um dia, as circunstâncias para publicação deles forem favoráveis, publicá-los-ei, sem nenhum problema. Porém, sem nutrir expectativas deles virem a ser best-sellers. Mesmo que, surpreendentemente, sejam.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
Pedro J. Bondaczuk
A motivação, ou seja, a expectativa de que o que somos ou o que fazemos possa resultar em alguma forma de reconhecimento (ou pecuniária, ou eventual promoção profissional ou social, ou homenagens que nos satisfaçam o ego, ou tantas outras), é um dos motores das grandes realizações. Não é o único, na verdade, e nem o mais potente. Essa primazia cabe à “necessidade”. Quando precisamos demais de alguma coisa, nos desdobramos e acabamos, de uma forma ou de outra, realizando o que não raro até nos pareça impossível.
Cultivamos, porém, virtudes, talentos e características positivas não apenas para satisfação pessoal, mas para sermos apreciados (e amados) por alguém. Todas as grandes obras e realizações ao longo do tempo, que ensejaram o progresso e a civilização, tiveram, por motivação primária, o amor. Ele é o grande motivador das nossas vontades, reflexões e ações, mesmo que não o saibamos ou tentemos negar.
Há, claro, outros fatores motivadores. Um deles é a justa remuneração pela obra que produzimos. É certo que raramente nos damos por satisfeitos por essa paga, por maior que ela seja. Sempre nos consideramos merecedores de mais, de muito mais do que nos remuneraram. Desde que não exagerada, essa insatisfação tende a ser até positiva. Torna-se em poderosa forma de motivação.
O escritor português, Alexandre Herculano, chegou à seguinte conclusão, em seu épico “Eurico, o presbítero”: “Realidade ou desejo incerto, o amor é o elemento primitivo da atividade interior; é a causa, o fim e o resumo de todos os afetos humanos”. E não apenas de afetos, mas de virtudes, comportamentos e atos. Entenda-se amor, aqui, não propriamente no sentido mais comum e usual do termo. Pode também ser (e é), apreciação sincera e profunda do que somos e do que fazemos.
E qual é a grande motivação do escritor, que o impulsiona a produzir obras profundas, valiosas, lapidares até? Intrinsicamente, também é o “amor”, ou seja, a aspiração pela apreciação dos seus méritos, do seu talento e da sua virtude. Mas ela nunca vem só. Os motivadores sobressalentes variam de uma pessoa para outra. Alguns homens de letras sentem-se motivados, apenas, quando seus livros tornam-se best-sellers. Para estes, a remuneração pelo seu trabalho é a melhor (quando não única) forma de reconhecimento. Quando uma de suas produções esgota edições após edições, desdobra-se para produzir outras, e outras, e outras, e cada vez melhores, no afã de repetir o sucesso. Às vezes, consegue. Outras tantas, fracassa.
Alguns, desmotivam-se face ao insucesso. Há, até, os que deixam de escrever por causa disso e se afastam por completo do meio literário, que passam a detestar. Há os que insistem, e insistem e insistem, na esperança de repetir o êxito que um dia tiveram (isto, quando tiveram). Tudo depende da sua personalidade e do modo de encarar a arte e, sobretudo, a vida.
Mas não é somente o dinheiro que motiva escritores. Para alguns, o prestígio tem até maior importância do que a remuneração. Há, até, casos extremos dos que se sentem envergonhados por terem que vender seus livros, que consideram como “filhos espirituais”. Tolice, claro. Mas, como afirmei, a falta de motivação, qualquer que seja sua natureza, não raro mata no ninho extraordinários talentos. Por não verem resultados, nem financeiros e nem de qualquer outro tipo, ou seja, um mínimo de reconhecimento, muitos escritores criativos e geniais param, até, de escrever.
Para exemplificar o que quero dizer, cito o caso de um amigo, desses talentos raros de se encontrar, sujeito genial, criativo ao extremo e competente no manejo das “ferramentas” do ofício, notadamente das palavras do nosso idioma. Cronista de um jornal diário de porte médio, tinha uma legião de leitores, que a cada crônica sua, manifestavam-lhe apreço e admiração, ou por cartas, ou por e-mails, ou por telefonemas, ou pessoalmente. Instado por colegas, resolveu escrever seu primeiro livro.
Posso atestar a qualidade dessa obra, porquanto tive a honra de ser convidado a prefaciá-lo. Pronto o livro, veio a “romaria” em busca de uma editora. Após quatro ou cinco recusas, encontrou, afinal, quem se dispusesse a publicar sua obra. Sentia-se eufórico, mais criativo do que nunca, motivado por esse sucesso inicial. Começou a escrever, até, seu primeiro romance (muito bom, por sinal, cujos primeiros capítulos tive o privilégio de ler). Suas crônicas no jornal, que já eram muito boas, tornaram-se ótimas. Cresceram em qualidade.
Veio, afinal, o tão aguardado dia do lançamento. Em conjunto com a editora, foi programada uma noite de autógrafos, em uma das mais badaladas livrarias da cidade. O tal amigo enviou convites para cerca de 300 pessoas. O jornal deu uma nota bem visível a respeito. Meu amigo esperava esgotar três centenas (ou mais) de exemplares de cara, durante o evento. Para ter certeza da presença dos convidados, teve o capricho de telefonar para cada um deles, confirmando que estariam presentes. Fez despesas que nem poderia fazer. Contratou, por exemplo, um dos buffets mais tradicionais e mais caros da cidade, para recepcionar os potenciais compradores do seu livro.
Veio, finalmente, a tal da noite de autógrafos. Detesto esse tipo de badalação, mas, como me comprometi a comparecer, cumpri o compromisso. A princípio, julguei, até, que o evento havia sido adiado. Na hora marcada, havia, apenas, quatro pessoas na livraria, além de três ou quatro funcionários. Ninguém dos que juraram que iriam à noite de autógrafos compareceu. O evento foi um fracasso. Um dispendioso e frustrante fiasco.
Desmotivado, o amigo quis, daí por diante, distância de tudo o que se referisse a literatura. Demitiu-se do jornal e voltou a advogar (além de jornalista, é, também, competente advogado). O tal romance que havia iniciado, fez questão de apagar da memória do computador. E só não rompeu nossa amizade, de longuíssima data, porque me propus a jamais tocar no tema literatura. E nunca toquei com ele.
Embora discorde da atitude do amigo, estive a pique de seguir seu exemplo, face ao fracasso (até aqui) de vendas dos meus livros “Cronos e Narciso” e “Lance fatal”, que não estão vendendo coisíssima alguma. Ainda bem que não programei nenhuma noite (ou tarde, ou manhã, sei lá) de autógrafos e nem fiz despesas por conta. O insucesso dói, humilha, frustra, arrasa nossa autoconfiança e (por que não?) nossa criatividade. Claro que não pensei em parar de escrever crônicas, e nem poderia, face aos inúmeros compromissos que assumi a propósito.
Só que sou um pouquinho mais teimoso do que meu amigo. E encontro nova motivação – esta mais poderosa, posto que realista – no amor que tenho pela literatura. Continuo e continuarei escrevendo meus livros, mas sem expectativa sequer de que venham a ser publicados. Encaro, agora, esse exercício não mais como atividade potencialmente lucrativa, mas como mero “hoby”. Diverte-me e me satisfaz e isso me basta. Se um dia, as circunstâncias para publicação deles forem favoráveis, publicá-los-ei, sem nenhum problema. Porém, sem nutrir expectativas deles virem a ser best-sellers. Mesmo que, surpreendentemente, sejam.
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