Louvor à vida
Pedro J. Bondaczuk
O Natal, apesar de ter sido apropriado pelo comércio como uma época de zerar os prejuízos ou de consolidar os lucros (dependendo do caso e do estado da economia) é, sobretudo, uma louvação à vida. O próprio significado da palavra, "nascimento", sugere essa conotação.
Como tema literário (e jornalístico, diga-se de passagem), é dos mais difíceis, já que vem sendo explorado há quase dois mil anos por artistas de todas as tendências e línguas. Virtualmente, tudo o que se podia dizer, em qualquer das linguagens artísticas (e pior ainda, jornalísticas) que se utilize – a palavra (em qualquer idioma ou dialeto), o pincel (em qualquer estilo), o buril (em qualquer mão) ou o som (em qualquer tonalidade) – já foi dito por alguém em algum lugar e em algum tempo.
Quem se aventura a explorar a temática sabe que dificilmente (provavelmente nunca) conseguirá ser original. Mas será que a originalidade é tão importante neste caso? Ou há fatores mais relevantes na arte, como a visão pessoal, o bom gosto, a clareza, a simplicidade, etc, a serem enfatizados?
O que o artista contemporâneo acrescentará será somente sua experiência pessoal, que é única, desde que se disponha a perder o medo e se exponha de fato, de corpo inteiro, sem nenhuma espécie de pudor ou dissimulação, perante o público: com absoluta sinceridade, sem buscar criar estereótipos. E o jornalista, algo de inusitado que a data possa ensejar. No mais, tudo o que escrever ou disser não passará de variação em torno do mesmo tema.
Ainda assim, é um desafio que o artista de verdade, aquele dotado não somente de técnica, mas, sobretudo, de talento e sensibilidade (e o jornalista, reitero) deve encarar, mesmo correndo o risco de resvalar para o pieguismo, que é onde geralmente vão parar os textos que têm sido escritos anualmente sobre o Natal. É quase inevitável...
Há os que preferem se alienar da realidade e enveredar pelas fantasias, como se vivessem em mundo ideal e não no "perdido", no violento, no áspero, no duro, no inflexível no qual um deus precisou se fazer humano para salvar. Sua obra fica privada da verossimilhança. Outros descambam para um rumo diametralmente oposto. Também são inverossímeis. Tudo o que vêem no homem é violência, hipocrisia, mentira, vaidade, egoísmo e desamor.
Esquecem-se que essa espécie animal ainda está em formação, já que é extremamente "jovem" em relação não apenas à idade universal, mas da própria Terra, que foi formada, há no mínimo, 4 bilhões de anos. Em pouco mais de seis milênios, (uma piscada de olhos imperceptível de tão rápida, um quase nada da eternidade), evoluiu demais, tanto em termos materiais, quanto morais.
É certo que a história relata avanços e retrocessos contínuos, de acordo com as várias gerações, que são como safras. Umas são de primeira qualidade, outras somente medianas e outras ainda infestadas de pragas de toda a espécie, que não vingam e deixam vestígios de comportamentos doentios nos descendentes. Não se pode ser maniqueísta quando se trata de ser humano.
Os santos sempre foram raros e ninguém tem a absoluta certeza se sua santidade não foi apenas para "consumo público". A mente e o coração de uma pessoa são indevassáveis... No outro extremo, os piores monstros que já passaram pela Terra, os seres mais asquerosos e repelentes pelas atitudes hediondas que tomaram, certamente tiveram uma pontinha, um lampejo, uma centelha por menor que fosse de bondade, de grandeza e de racionalidade.
Tudo o que valoriza a vida e enfatiza o seu mistério e a sua beleza, deve ser preservado, cultivado e transmitido através das gerações. Mesmo com pieguismo... E o Natal, mais do que nunca, está nesta condição.
Porque a data marca não apenas o nascimento de um deus que se fez homem, mas o surgimento da esperança para uma espécie condenada ao desaparecimento por sua própria animalidade, por seus instintos e por suas inclinações.
Se a humanidade não tivesse "conserto", um Deus não se disporia a mandar para este inexpressivo planeta seu próprio filho para a tarefa da sua redenção, mesmo sabendo de antemão qual seria o seu destino na Terra, dada a sua onisciência (e esta é a base da nossa fé cristã).
Possivelmente, muitas gerações ainda irão se suceder. Algumas dessas "safras" serão magníficas. Outras, serão apenas comuns. Outras ainda vão ser de péssima qualidade. Estas últimas é que são perigosas, porquanto podem determinar, através de suas ações, a destruição do Planeta e de tudo o que nele há, se não forem condicionadas, não importa de que forma, a valorizar a vida.
Hoje, há milhões de arautos da morte espalhados pelo mundo. Basta ligar um receptor de televisão ou de rádio, assistir a qualquer filme ou ler os jornais e revistas para perceber onde está a ênfase. A mesma coisa vale em relação à literatura e por extensão às outras artes. Está na violência de toda a espécie, na marginalidade, na criminalidade, na exclusão, na controvérsia, na discórdia, nas guerras civis ou entre nações...Nos conflitos de toda a sorte...
Não que estejamos criticando a mídia. Se a imagem que determinado espelho reflete é horrível, não é este que deve ser quebrado. E os meios de comunicação não passam de reflexos dessa feia realidade que nos cerca. Daí tradições como a do Natal – não importa comemorado de que maneira ou descrito de que forma – são importantes de serem preservadas e transmitidas geração após geração. É a vida prevalecendo, com toda a sua fragilidade, sobre a ronda grotesca e permanente da morte... e do nada...
Pedro J. Bondaczuk
O Natal, apesar de ter sido apropriado pelo comércio como uma época de zerar os prejuízos ou de consolidar os lucros (dependendo do caso e do estado da economia) é, sobretudo, uma louvação à vida. O próprio significado da palavra, "nascimento", sugere essa conotação.
Como tema literário (e jornalístico, diga-se de passagem), é dos mais difíceis, já que vem sendo explorado há quase dois mil anos por artistas de todas as tendências e línguas. Virtualmente, tudo o que se podia dizer, em qualquer das linguagens artísticas (e pior ainda, jornalísticas) que se utilize – a palavra (em qualquer idioma ou dialeto), o pincel (em qualquer estilo), o buril (em qualquer mão) ou o som (em qualquer tonalidade) – já foi dito por alguém em algum lugar e em algum tempo.
Quem se aventura a explorar a temática sabe que dificilmente (provavelmente nunca) conseguirá ser original. Mas será que a originalidade é tão importante neste caso? Ou há fatores mais relevantes na arte, como a visão pessoal, o bom gosto, a clareza, a simplicidade, etc, a serem enfatizados?
O que o artista contemporâneo acrescentará será somente sua experiência pessoal, que é única, desde que se disponha a perder o medo e se exponha de fato, de corpo inteiro, sem nenhuma espécie de pudor ou dissimulação, perante o público: com absoluta sinceridade, sem buscar criar estereótipos. E o jornalista, algo de inusitado que a data possa ensejar. No mais, tudo o que escrever ou disser não passará de variação em torno do mesmo tema.
Ainda assim, é um desafio que o artista de verdade, aquele dotado não somente de técnica, mas, sobretudo, de talento e sensibilidade (e o jornalista, reitero) deve encarar, mesmo correndo o risco de resvalar para o pieguismo, que é onde geralmente vão parar os textos que têm sido escritos anualmente sobre o Natal. É quase inevitável...
Há os que preferem se alienar da realidade e enveredar pelas fantasias, como se vivessem em mundo ideal e não no "perdido", no violento, no áspero, no duro, no inflexível no qual um deus precisou se fazer humano para salvar. Sua obra fica privada da verossimilhança. Outros descambam para um rumo diametralmente oposto. Também são inverossímeis. Tudo o que vêem no homem é violência, hipocrisia, mentira, vaidade, egoísmo e desamor.
Esquecem-se que essa espécie animal ainda está em formação, já que é extremamente "jovem" em relação não apenas à idade universal, mas da própria Terra, que foi formada, há no mínimo, 4 bilhões de anos. Em pouco mais de seis milênios, (uma piscada de olhos imperceptível de tão rápida, um quase nada da eternidade), evoluiu demais, tanto em termos materiais, quanto morais.
É certo que a história relata avanços e retrocessos contínuos, de acordo com as várias gerações, que são como safras. Umas são de primeira qualidade, outras somente medianas e outras ainda infestadas de pragas de toda a espécie, que não vingam e deixam vestígios de comportamentos doentios nos descendentes. Não se pode ser maniqueísta quando se trata de ser humano.
Os santos sempre foram raros e ninguém tem a absoluta certeza se sua santidade não foi apenas para "consumo público". A mente e o coração de uma pessoa são indevassáveis... No outro extremo, os piores monstros que já passaram pela Terra, os seres mais asquerosos e repelentes pelas atitudes hediondas que tomaram, certamente tiveram uma pontinha, um lampejo, uma centelha por menor que fosse de bondade, de grandeza e de racionalidade.
Tudo o que valoriza a vida e enfatiza o seu mistério e a sua beleza, deve ser preservado, cultivado e transmitido através das gerações. Mesmo com pieguismo... E o Natal, mais do que nunca, está nesta condição.
Porque a data marca não apenas o nascimento de um deus que se fez homem, mas o surgimento da esperança para uma espécie condenada ao desaparecimento por sua própria animalidade, por seus instintos e por suas inclinações.
Se a humanidade não tivesse "conserto", um Deus não se disporia a mandar para este inexpressivo planeta seu próprio filho para a tarefa da sua redenção, mesmo sabendo de antemão qual seria o seu destino na Terra, dada a sua onisciência (e esta é a base da nossa fé cristã).
Possivelmente, muitas gerações ainda irão se suceder. Algumas dessas "safras" serão magníficas. Outras, serão apenas comuns. Outras ainda vão ser de péssima qualidade. Estas últimas é que são perigosas, porquanto podem determinar, através de suas ações, a destruição do Planeta e de tudo o que nele há, se não forem condicionadas, não importa de que forma, a valorizar a vida.
Hoje, há milhões de arautos da morte espalhados pelo mundo. Basta ligar um receptor de televisão ou de rádio, assistir a qualquer filme ou ler os jornais e revistas para perceber onde está a ênfase. A mesma coisa vale em relação à literatura e por extensão às outras artes. Está na violência de toda a espécie, na marginalidade, na criminalidade, na exclusão, na controvérsia, na discórdia, nas guerras civis ou entre nações...Nos conflitos de toda a sorte...
Não que estejamos criticando a mídia. Se a imagem que determinado espelho reflete é horrível, não é este que deve ser quebrado. E os meios de comunicação não passam de reflexos dessa feia realidade que nos cerca. Daí tradições como a do Natal – não importa comemorado de que maneira ou descrito de que forma – são importantes de serem preservadas e transmitidas geração após geração. É a vida prevalecendo, com toda a sua fragilidade, sobre a ronda grotesca e permanente da morte... e do nada...
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