Sunday, December 20, 2009




Foi salvo o planeta errado?

Pedro J. Bondaczuk

O
local onde há quase 2 mil anos nasceu o Salvador da humanidade está hoje, 24 de dezembro de 1988, como naquele tempo, cercado por soldados. Naquela oportunidade, tratavam-se de centuriões romanos, que fiscalizavam a realização de um censo, de caráter militar. Hoje, o que leva tanta gente armada a se concentrar num local que deveria ser símbolo da paz é o levante palestino nos territórios ocupados. Como os homens receberiam Cristo se ele tornasse a vir ao mundo, na forma humana, nos dias atuais? Haveria alguma alma generosa, dita "cristã", para dar abrigo à sua família, do frio que normalmente faz nesta época do ano na região? A criança nasceria em alguma maternidade, cercada de toda a atenção médica e sem os riscos inerentes a um parto em más condições? Ou se repetiria o drama do passado, quando o filho do Criador do Universo foi recebido neste inexpressivo e minúsculo planetazinho azul, que gira ao redor de uma estrela de quinta grandeza de uma galáxia de porte médio, numa gruta para guardar animais? Num estábulo improvisado?

A violência (guardadas as devidas proporções, ditadas pela evolução da tecnologia da morte) é a mesma. Como naquele tempo, a região permanece conflagrada. Belém, ironicamente, vê passar por suas ruas estreitas os mesmos homens armados de há quase dois milênios. Só que ao invés de a espada, eles portam metralhadoras e lança-mísseis ultra-sofisticados. O egoísmo, por sua vez, multiplicou-se por mil. A solidariedade desapareceu, virtualmente, da Terra, cedendo espaço a um cínico e inconseqüente hedonismo, que a nada leva.

É verdade que o Natal é uma festa de aniversário e como tal deve ser comemorado. Mas Cristo jamais pregou a ostentação perdulária e o desregramento mesquinho. Nunca defendeu os poderosos (que nada podem, já que são mortais). Ao contrário, disse que os humildes eram bem-aventurados, porque um dia seriam exaltados. Enquanto pessoas cometem excessos na comida e na bebida, há milhões de crianças à beira da morte por inanição na África, na Ásia e mesmo na cidade em que residimos, seja ela qual for e esteja onde estiver, debaixo dos nossos narizes, nesta exato instante.

Enquanto muitos trocam votos falsos de felicidade, quando estão com seus corações repletos de inveja e de rancor, há pessoas infelizes, solitárias, em busca não de manjares ou de licores, mas somente de atenção. De uma, uma única palavra amiga, de solidariedade e de compreensão, que seja dita com sinceridade. De um sorriso de satisfação. De alguém que pelo menos ouça, sem zombar, as suas aflições. Será que Cristo tentou salvar o mundo errado??!!

(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 24 de dezembro de 1988)

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