Aparente
calma que esconde enorme tensão
Pedro
J. Bondaczuk
A
situação mundial, especialmente nos últimos 15 dias, revela uma
aparência de calma. Isso se compararmos com outros períodos, até
mesmo deste ano, e se considerarmos rotina os combates na Guerra dos
Petroleiros, no Golfo Pérsico; na guerra civil libanesa; no Camboja;
na fronteira sino-vietnamita; no Afeganistão ; na fronteira
indo-paquistanesa e, principalmente, na América Central.
Mas,
sob essa capa de aparente tranquilidade, há uma enorme tensão, uma
espécie de corrente elétrica, de desassossego e medo no ar. A rica
Europa encontra-se sob um clima de agitação trabalhista poucas
vezes visto, especialmente entre os mineiros ingleses, os
metalúrgicos alemães ocidentais e seus colegas franceses.
Em
nossa América do Sul há manifestações no Uruguai, que lembra,
contristado, com uma greve nacional, os onze anos de ditadura. Na
Argentina, Alfonsin tenta, de todas as formas, obter um pacto
nacional para enfrentar a enorme tempestade econômica que se
avizinha, face uma provável ruptura com o sistema financeiro
internacional. No Chile, atentados se sucedem, tanto na capital,
quanto em importantes cidades, como Viña del Mar e Antofagasta. Na
Bolívia, há revolta nos quarteis e descontentamento nos sindicatos.
E a lista vai por aí afora, incluindo Venezuela, Colômbia, Peru e
Brasil, mostrando um quadro sombrio, em que as pessoas, a muito
custo, se contêm para evitar o pior.
Essa
maré de descrença e perplexidade, essa fase sombria da história
mundial lembra muito (e quem é contemporâneo dessa época sabe que
estamos certos) o final da década de 30, quando diversos países
viviam as consequências da grande depressão. Agitações
trabalhistas. Focos limitados de guerra (que podem, a qualquer
momento, “infeccionar” outros tecidos, aparentemente sadios) e
todo um continente: a América Latina. Enredada em uma indecente
dívida externa.
O
que resultará de tudo isso vai depender muito dos líderes que se
propõem a nos conduzir. Ou assumem objetivos amplos, pacificadores,
que nos conduzam a soluções justas e abrangentes ou descambem para
projetos megalomaníacos, ou para soluções elitistas, a exemplo do
que fez Adolf Hitler, selando, de vez, nossa desunião. E o que pode
vir depois não há profeta que consiga antecipar.
(Artigo
publicado na editoria Internacional do Correio Popular, em 28 de
junho de 1984).
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