Tuesday, August 01, 2017

Aparente calma que esconde enorme tensão

Pedro J. Bondaczuk

A situação mundial, especialmente nos últimos 15 dias, revela uma aparência de calma. Isso se compararmos com outros períodos, até mesmo deste ano, e se considerarmos rotina os combates na Guerra dos Petroleiros, no Golfo Pérsico; na guerra civil libanesa; no Camboja; na fronteira sino-vietnamita; no Afeganistão ; na fronteira indo-paquistanesa e, principalmente, na América Central.

Mas, sob essa capa de aparente tranquilidade, há uma enorme tensão, uma espécie de corrente elétrica, de desassossego e medo no ar. A rica Europa encontra-se sob um clima de agitação trabalhista poucas vezes visto, especialmente entre os mineiros ingleses, os metalúrgicos alemães ocidentais e seus colegas franceses.

Em nossa América do Sul há manifestações no Uruguai, que lembra, contristado, com uma greve nacional, os onze anos de ditadura. Na Argentina, Alfonsin tenta, de todas as formas, obter um pacto nacional para enfrentar a enorme tempestade econômica que se avizinha, face uma provável ruptura com o sistema financeiro internacional. No Chile, atentados se sucedem, tanto na capital, quanto em importantes cidades, como Viña del Mar e Antofagasta. Na Bolívia, há revolta nos quarteis e descontentamento nos sindicatos. E a lista vai por aí afora, incluindo Venezuela, Colômbia, Peru e Brasil, mostrando um quadro sombrio, em que as pessoas, a muito custo, se contêm para evitar o pior.

Essa maré de descrença e perplexidade, essa fase sombria da história mundial lembra muito (e quem é contemporâneo dessa época sabe que estamos certos) o final da década de 30, quando diversos países viviam as consequências da grande depressão. Agitações trabalhistas. Focos limitados de guerra (que podem, a qualquer momento, “infeccionar” outros tecidos, aparentemente sadios) e todo um continente: a América Latina. Enredada em uma indecente dívida externa.

O que resultará de tudo isso vai depender muito dos líderes que se propõem a nos conduzir. Ou assumem objetivos amplos, pacificadores, que nos conduzam a soluções justas e abrangentes ou descambem para projetos megalomaníacos, ou para soluções elitistas, a exemplo do que fez Adolf Hitler, selando, de vez, nossa desunião. E o que pode vir depois não há profeta que consiga antecipar.

(Artigo publicado na editoria Internacional do Correio Popular, em 28 de junho de 1984).



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