Vitalidade do texto
Pedro J. Bondaczuk
O
saudoso escritor mineiro Otto Lara Resende – amigo íntimo e um dos
heróis do não menos saudoso e controvertido jornalista (chamado de
“o anjo torto”) Nelson Rodrigues – em artigo publicado no
jornal “Folha de S. Paulo”, negou que o brasileiro esteja lendo
cada vez menos. Admitiu que o número de leitores pode não ter
crescido na mesma proporção do aumento populacional. Mas
tranqüilizou os que vivem desse espinhoso ofício de escrever,
provando que não há razões para alarme.
E
não há mesmo. Prova disso, é o sucesso das seguidas bienais do
livro promovidas em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e em
outras importantes cidades do País. Outra demonstração da
vitalidade do texto é o crescente sucesso dos vários blogs, em
especial os de caráter literário, na internet.
Otto
demonstrou, há uns vinte e cinco anos (se não me falha a memória)
que o descaso pelo hábito da leitura não era coisa apenas do
Brasil. E que, portanto, não tínhamos que ficar nutrindo complexos
a respeito. Escreveu: “E vamos deixar de bobagem: o desapego ao
livro não é coisa de brasileiro”.
Otto
Lara deu alguns exemplos reveladores. Informou, entre outras coisas,
que os jovens na Alemanha, que tinham o costume de ler jornais,
diminuíram de 11% para 7%. Certamente, hoje, essa redução é ainda
mais expressiva. Destacou que, na Espanha, pesquisa do “El País”
havia comprovado que 50% dos adultos espanhóis nunca liam nada. E
que na Inglaterra, entre 1984 e 1991, os empréstimos de livros nas
bibliotecas caíram em cerca de 100 milhões.
Eu
acrescentaria que, outro mito, muito difundido de uns anos para cá,
o de que o brasileiro não sabe escrever, igualmente não é
verdadeiro. Claro que a maioria não sabe mesmo, dado o número
elevado de analfabetos (contando, aí, os “funcionais”, que
apenas conseguem “desenhar” os nomes e mais nada) que ainda
existe no País.
E
há, também, não se pode negar, mesmo entre os profissionais do
texto, os que assassinam o vernáculo ou que, a pretexto de mostrarem
erudição, escrevem de maneira tão confusa e complicada, que nem
eles mesmos entendem o que escreveram. São os que praticam a
anticomunicação.
Uma
prova de que os brasileiros, e especialmente os jovens, sabem
escrever, é o livro “Charges e Crônicas”, reunindo textos de
alunos de um tradicional colégio da cidade em que resido, Campinas.
A coletânea contém trabalhos de adolescentes entre 13 e 14 anos,
que cursavam a 7ª série. Dá gosto de ver a criatividade e o poder
de comunicação dessa moçada, além do aguçado senso crítico
desses “projetos de escritores”.
E
não se trata de caso único. Há alguns anos, prefaciei, ou editei e
revisei, pelo menos mais três livros semelhantes, de outras escolas
da cidade. Uma delas promoveu uma oficina literária, que resultou em
um romance coletivo. Cada participante escreveu um capítulo, sem que
a continuidade da história ficasse comprometida nem o suspense do
enredo fosse quebrado.
O
que esses escritores, jornalistas e comunicadores do futuro não têm
é incentivo e, acima de tudo, divulgação. Mas isso pode ser
sanado, não é mesmo? Vai ser! O espaço “Literário” que edito
é uma excelente oportunidade para desmentir os pessimistas e os
derrotistas, que só veem coisas ruins no País. Pelo menos é o que
me proponho a fazer enquanto tiver paciência e disposição.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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