A mãe das reformas
Pedro J. Bondaczuk
O deputado Delfim Neto, em
recente palestra em São Paulo, disse que a reforma política --- que
parece não estar sequer em cogitação na atual legislatura ---
deveria merecer prioridade absoluta no Congresso, porque viabilizaria
todas as demais.
E tem toda a razão. Hoje, por
exemplo, entre outras coisas, inexistem a fidelidade partidária, uma
legislação coerente e clara sobre financiamento de campanhas, voto
distrital, etc.
Os eleitos estão distantes de
seus eleitores, que em muitos casos sequer se lembram que votaram
neles. Cobranças, nem pensar. Políticos mudam de partido por dá
cá, toma lá e votam de acordo com os próprios interesses,
raramente cumprindo qualquer determinação partidária. Programas
não passam de ficção.
Os regimentos internos da
Câmara de Deputados e do Senado são ultrapassados, burocráticos,
sem criatividade e impedem que projetos tenham fluência rápida e
normal. Parodiando o presidente iraquiano Saddam Hussein, Delfim
afirmou que a política é a "mãe de todas as reformas". E
de fato é.
Vejam o que está ocorrendo no
atual Congresso. Questões de importância menor, ou até
absolutamente desimportantes, bloqueiam o debate de assuntos de suma
relevância, não apenas para um governo (no caso o atual), mas para
todos os que virão no futuro. Questiúnculas paroquiais ou meras
fofocas parlamentares substituem temas de relevância nacional. O
corporativismo impera.
A administração pública
precisa ser mudada, para que seja ágil, enxuta e barata (ou pelo
menos não tão dispendiosa quanto agora). A previdência tem que ser
reformada, mas não naquele ponto em que o projeto que está no
Senado se concentra, o das aposentadorias de trabalhadores da
iniciativa privada, mas nas do serviço público, hoje um ralo por
onde escoa perdulariamente o já parco recurso de que o Estado
dispõe.
Salários de servidores e
precoces e superdimensionados benefícios previdenciários consomem
mais de 90% do orçamento federal, sobrando migalhas para investir em
saúde, educação, segurança, transportes e agricultura, entre
outros. Com isso, o País deixa de crescer. Agrava o problema social
e amplia o profundo fosso, o imenso abismo que divide as classes.
Festas juninas no Nordeste,
por exemplo, paralisaram os trabalhos no Congresso e já se prepara
uma convocação extraordinária para o período de férias, em
julho, a um custo estimado de R$ 25 milhões. Quem vai cobrar dos
congressistas por este disparate? Quem os cobra por qualquer ação
ou omissão? Quem conhece a fundo a atuação do deputado ou do
senador a quem delegou mandato? A reforma política, portanto, tem
que entrar, com urgência, na pauta de prioridades.
(Texto escrito em 23 de junho
de 1997 e publicado como editorial na Folha do Taquaral).
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