Resgate da noção de valor
Pedro J. Bondaczuk
O professor Eduardo Gianetti
da Fonseca escreveu, num magnífico ensaio publicado em fevereiro de
1993, que "a convivência com a inflação alta é uma escola de
imediatismo, oportunismo e corrupção. A permanência da inflação
--- a ausência de uma unidade de valor estável na sociedade --- é
hoje, no Brasil, o pior inimigo da consolidação da democracia e da
conquista do mercado".
A correção desse desvio é o
espírito que norteia o plano de estabilização do ministro da
Fazenda, Fernando Henrique Cardoso. Sequer vamos entrar no mérito,
na parte técnica do programa, tarefa que compete aos economistas.
Nem pretendemos ser pitonisas para prever se vai dar certo ou não.
Mas a Unidade Real de Valor
pretende resgatar essa estabilidade perdida. Dar um parâmetro à
sociedade do quanto valem produtos e serviços. Conviria, portanto,
antes de descartar a URV como sendo mais um dos "truques"
do governo, analisá-la, entendê-la, corrigi-la se preciso, mas não
deixar passar mais essa oportunidade de empreender um combate
inteligente, honesto e eficaz contra a inflação.
Nascida como indexador que se
pretende único na economia, tem objetivos muito mais ousados. Ou
seja, entre outros, foi criada para servir de embrião da nova moeda
brasileira, o "real".
A propósito desse assunto,
gostaríamos de fazer uma retificação a um comentário nosso,
publicado na edição de sexta-feira. Um leitor telefonou-nos
alertando que cometemos um deslize quando afirmamos que o cruzeiro
foi instituído, por decreto do então presidente Getúlio Vargas, em
meados da década de 30.
A época verdadeira de sua
instituição foi novembro de 1942. Perdoem, os mais jovens, se de
alguma forma contribuímos para a desinformação acerca de nossa
História. Neste ato solitário de escrever, de tentar domar idéias
e esgrimir com palavras, estamos sujeitos ao "terror" dos
erros.
Uma simples indisciplina dos
dedos ao comprimir uma tecla que não deveria ser comprimida na
máquina, uma leve distração ao revisar o texto e pronto. Sai
impresso o que não deveria, comprometendo o rigor da informação.
Ademais, o tempo passa tão
depressa, que muitas vezes nos perdemos nos meandros dos anos. E,
diante disso, quase que maquinalmente, acabamos exclamando, como
Nelson Rodrigues, numa de suas deliciosas crônicas: "Como é
antigo o passado recente!".
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 6 de março de 1994).
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