Saturday, August 26, 2017

Aparente calma esconde enorme tensão

Pedro J. Bondaczuk

A situação mundial, especialmente nos últimos 15 dias, revela uma aparência de calma. Isso se compararmos com outros períodos, até mesmo deste ano, e se considerarmos rotina os combates na Guerra dos Petroleiros, no Golfo Pérsico; na guerra civil libanesa; no Camboja; na fronteira sino-vietnamita; no Afeganistão; na fronteira indo-paquistanesa e, principalmente, na América Central.

Mas, sob essa capa de aparente tranquilidade, há uma enorme tensão, uma espécie de correte elétrica de desassossego e medo no ar. A rica Europa encontra-se sob um clima de agitação trabalhista, poucas vezes visto, especialmente entre os mineiros infgleses, os metalúrgicos alemães ocidentais e seus colegas franceses.

Em nossa América do Sul há manifestações no Uruguai, que lembra, contristado, com uma greve nacional, os onze anos de ditadura; na Argentina, Alfonsin tenta, de todas as formas, um pacto nacional para enfrentar a enorme tempestade econômica que se avizinha face uma provável ruptura com o sistema financeiro internacional; no Chile, atentados se sucedem, tanto na capital quanto em importantes cidades, como Viña del Mar e Antofagasta; na Bolívia, há revolta nos quarteis e descontentamento nos sindicatos. E a lista de conflitos vai por aí afora, incluindo Venezuela, Colômbia, Peru e Brasil, mostrando um quadro sombrio, em que as pessoas, a muito custo, se contêm, para evitar o pior.

Essa maré de descrença e perplexidade, essa fase negra da história mundial , lembra muito (e quem é contemporâneo dessa época sabe que estamos certos) o final da década de 30, quando diversos países viviam as consequências da grande depressão. Agitações trabalhistas, focos limitados de guerra (que podem, a qualquer momento, infeccionar outros tecidos , aparentemente sadios) e todo um continente, a América Latina, encostado contra a parede, acuado dentro da armadilha que imprudentemente caiu: a dívida externa. O que virá de tudo isso vai depender muito dos líderes que se propõem a nos conduzir. Ou assumem objetivos amplos, pacificadores, que nos conduzam a soluções justas e abrangentes ou descambam para projetos megalomaníacos ou soluções elitistas, a exemplo do que fez Adolf Hitler, e selam, de vez, nossa desunião. E o que pode vir depois não há profeta que consiga prever.

(Artigo publicado na editoria Internacional do Correio Popular, em 28 de junho de 1984).



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