Monday, August 21, 2017

Era da superpopulação

Pedro J. Bondaczuk

A humanidade está em uma encrenca monumental e sequer se dá conta (aliás, são tantas que se torna até difícil de nomear qual é a pior). Não me refiro ao chamado efeito estufa, gravíssimo, posto que ignorado solenemente pela opinião pública mundial. Refiro-me a uma de suas causas, se não a principal. Não se trata, também, da crescente e dramática escassez de água potável, que já afeta a, no mínimo, um bilhão de pessoas e que tende a se agravar de ano para ano. Nem das ameaças de uma impensável era de fome generalizada em decorrência dos caprichos do clima. E nem do surgimento de novas doenças, com ameaças de pandemias potencialmente incontroláveis, como é o caso específico da chamada “gripe suína”.

Tudo isso, sem dúvida, é grave e ameaça a espécie humana (quiçá todas as formas de vida do Planeta). Mas para se buscar uma solução que, se não detenha, pelo menos retarde o processo que, certamente, levará a uma catástrofe de dimensões imprevisíveis, é preciso atacar as causas, não as conseqüências. Por mais óbvio que isso pareça, e de fato seja, não é o que vem ocorrendo.

Detesto escrever sobre assuntos desse tipo, já que, até por temperamento, sou um sujeito otimista e bem-humorado, que sempre espera o melhor do futuro. Contudo, não sou alienado. Não posso deixar de pôr a boca no trombone face àquilo que não apenas me ameace como indivíduo, mas o faça, também, em relação aos meus descendentes. É, pois, meu instinto de preservação da espécie que me leva a gritar, gritar e gritar, embora me pareça que todos estejam surdos e se recusem a ouvir, não apenas os meus brados, mas os alertas de especialistas sobre o que vem acontecendo.

E qual é essa enorme encrenca em que a humanidade está metida, maior do que o efeito estufa, a escassez de água potável e de alimentos, as pandemias etc.? É a “bomba populacional”! A população mundial vem se multiplicando de forma assustadora, e justo nos países que não têm a menor estrutura, a mínima condição de alimentar, vestir, educar e dar condições de vida minimamente decente aos enormes contingentes que anualmente se incorporam aos seus já problemáticos e numerosos habitantes. E esse acelerado incremento de pessoas, que parecia preocupar, há algum tempo, planejadores, economistas, líderes políticos e os meios de comunicação, vem sendo deixado de lado, notadamente pelos formadores de opinião. Alguns agem assim por mera alienação. Outros, por comodismo. Outros ainda por pura ignorância. E boa parte se o,ite e lava as mãos pelo fato do assunto não ser “politicamente correto”.

Não se veem, mais, editoriais na imprensa, alertando para o exagero da cegonha em trazer novos passageiros à espaçonave Terra, já superlotada, emporcalhada, com a despensa se esgotando, repleta de lixo e com o ar viciado e difícil de respirar. Não se lêem, mais, declarações de especialistas a respeito. É como se o problema não existisse e se vivêssemos num Éden de eternas delícias. Obviamente, não vivemos.

Atentemos, por exemplo, para o caso do Brasil. Ainda em 1970, éramos em torno de 90 milhões de habitantes. Todos se lembram, certamente, da musiquinha que estimulava a Seleção Brasileira à vitória na Copa do Mundo do México. Ela já começava por declinar a nossa população de então. A letra dizia: “noventa milhões em ação....”

Pois é, e quantos somos hoje? Recentes estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística revelam que já somos em torno de 206 milhões de habitantes! E isso, porque a taxa de natalidade brasileira despencou pela metade e se aproxima do índice dos países desenvolvidos. Ou seja, em menos de quatro décadas, praticamente triplicamos o número de pessoas no País. E os recursos, aumentaram nas mesmas proporções? Longe disso! Como se pode, pois, aspirar a um futuro minimamente tranqüilo e civilizado, face a essa realidade? E olhem que sequer somos os piores.

O escritor Aldous Huxley, em meados da década de 50 do século XX, fez uma previsão que soava a profética e que, na verdade, não era mais do que mera extrapolação lógica. Na ocasião, não foi ouvido. Pelo contrário, foi classificado de “neomalthusiano”, de catastrofista e de outras coisas piores. Houvesse, então, sido tomada alguma providência (não me perguntem qual, pois eu não sei), hoje o panorama seria pelo menos não tão sombrio e desolador. Não se tomou nenhuma.

Aldous Huxley escreveu, em 1957, no romance “Volta ao admirável mundo novo”: “O problema dos números, que rapidamente se multiplicam em relação aos recursos naturais, à estabilidade social e ao bem-estar dos indivíduos, é a questão fundamental da humanidade; e permanecerá sendo o problema crucial por outro século e talvez por muitos outros séculos no futuro. Supõe-se que uma nova era se iniciou a 4 de outubro de 1957. Porém, no contexto presente, toda a nossa exuberante conversa pós-Sputnik é irrelevante. Se tomarmos como ponto de referência as massas de humanidade, a era vindoura não será a Era do Espaço e sim a Era da Superpopulação”.

Pois é, e agora, o que vem sendo feito? Nada, nada e nada, absolutamente nada! Há campanhas mundiais, por exemplo, propugnando pela paternidade responsável (o mínimo que se pode fazer a respeito)? Onde? Encabeçada por quem? Apontem-me uma peça publicitária, uma reles e única, com esse teor. E as coisas só não estão piores porque, parodiando Carlos Drummond de Andrade, “no meio do caminho havia uma Aids”. A eclosão da pandemia dessa doença levou muitas pessoas a se preocuparem com o sexo seguro. Não fora isso... Nem é bom pensar!


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