Era da superpopulação
Pedro J. Bondaczuk
A humanidade está em uma
encrenca monumental e sequer se dá conta (aliás, são tantas que se
torna até difícil de nomear qual é a pior). Não me refiro ao
chamado efeito estufa, gravíssimo, posto que ignorado solenemente
pela opinião pública mundial. Refiro-me a uma de suas causas, se
não a principal. Não se trata, também, da crescente e dramática
escassez de água potável, que já afeta a, no mínimo, um bilhão
de pessoas e que tende a se agravar de ano para ano. Nem das ameaças
de uma impensável era de fome generalizada em decorrência dos
caprichos do clima. E nem do surgimento de novas doenças, com
ameaças de pandemias potencialmente incontroláveis, como é o caso
específico da chamada “gripe suína”.
Tudo isso, sem dúvida, é
grave e ameaça a espécie humana (quiçá todas as formas de vida do
Planeta). Mas para se buscar uma solução que, se não detenha, pelo
menos retarde o processo que, certamente, levará a uma catástrofe
de dimensões imprevisíveis, é preciso atacar as causas, não as
conseqüências. Por mais óbvio que isso pareça, e de fato seja,
não é o que vem ocorrendo.
Detesto escrever sobre
assuntos desse tipo, já que, até por temperamento, sou um sujeito
otimista e bem-humorado, que sempre espera o melhor do futuro.
Contudo, não sou alienado. Não posso deixar de pôr a boca no
trombone face àquilo que não apenas me ameace como indivíduo, mas
o faça, também, em relação aos meus descendentes. É, pois, meu
instinto de preservação da espécie que me leva a gritar, gritar e
gritar, embora me pareça que todos estejam surdos e se recusem a
ouvir, não apenas os meus brados, mas os alertas de especialistas
sobre o que vem acontecendo.
E qual é essa enorme encrenca
em que a humanidade está metida, maior do que o efeito estufa, a
escassez de água potável e de alimentos, as pandemias etc.? É a
“bomba populacional”! A população mundial vem se multiplicando
de forma assustadora, e justo nos países que não têm a menor
estrutura, a mínima condição de alimentar, vestir, educar e dar
condições de vida minimamente decente aos enormes contingentes que
anualmente se incorporam aos seus já problemáticos e numerosos
habitantes. E esse acelerado incremento de pessoas, que parecia
preocupar, há algum tempo, planejadores, economistas, líderes
políticos e os meios de comunicação, vem sendo deixado de lado,
notadamente pelos formadores de opinião. Alguns agem assim por mera
alienação. Outros, por comodismo. Outros ainda por pura ignorância.
E boa parte se o,ite e lava as mãos pelo fato do assunto não ser
“politicamente correto”.
Não se veem, mais, editoriais
na imprensa, alertando para o exagero da cegonha em trazer novos
passageiros à espaçonave Terra, já superlotada, emporcalhada, com
a despensa se esgotando, repleta de lixo e com o ar viciado e difícil
de respirar. Não se lêem, mais, declarações de especialistas a
respeito. É como se o problema não existisse e se vivêssemos num
Éden de eternas delícias. Obviamente, não vivemos.
Atentemos, por exemplo, para o
caso do Brasil. Ainda em 1970, éramos em torno de 90
milhões de habitantes. Todos se lembram, certamente, da musiquinha
que estimulava a Seleção Brasileira à vitória na Copa do Mundo do
México. Ela já começava por declinar a nossa população de então.
A letra dizia: “noventa
milhões em ação....”
Pois é, e quantos somos hoje?
Recentes estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística revelam que já somos em torno de 206
milhões de habitantes! E isso, porque a taxa de natalidade
brasileira despencou pela metade e se aproxima do índice dos países
desenvolvidos. Ou seja, em menos de quatro décadas, praticamente
triplicamos o número de pessoas no País. E os recursos, aumentaram
nas mesmas proporções? Longe disso! Como se pode, pois, aspirar a
um futuro minimamente tranqüilo e civilizado, face a essa realidade?
E olhem que sequer somos os piores.
O escritor Aldous Huxley, em
meados da década de 50 do século XX, fez uma previsão que soava a
profética e que, na verdade, não era mais do que mera extrapolação
lógica. Na ocasião, não foi ouvido. Pelo contrário, foi
classificado de “neomalthusiano”, de catastrofista e de outras
coisas piores. Houvesse, então, sido tomada alguma providência (não
me perguntem qual, pois eu não sei), hoje o panorama seria pelo
menos não tão sombrio e desolador. Não se tomou nenhuma.
Aldous Huxley escreveu, em
1957, no romance “Volta ao admirável mundo novo”: “O problema
dos números, que rapidamente se multiplicam em relação aos
recursos naturais, à estabilidade social e ao bem-estar dos
indivíduos, é a questão fundamental da humanidade; e permanecerá
sendo o problema crucial por outro século e talvez por muitos outros
séculos no futuro. Supõe-se que uma nova era se iniciou a 4 de
outubro de 1957. Porém, no contexto presente, toda a nossa
exuberante conversa pós-Sputnik é irrelevante. Se tomarmos como
ponto de referência as massas de humanidade, a era vindoura não
será a Era do Espaço e sim a Era da Superpopulação”.
Pois é, e agora, o que vem
sendo feito? Nada, nada e nada, absolutamente nada! Há campanhas
mundiais, por exemplo, propugnando pela paternidade responsável (o
mínimo que se pode fazer a respeito)? Onde? Encabeçada por quem?
Apontem-me uma peça publicitária, uma reles e única, com esse
teor. E as coisas só não estão piores porque, parodiando Carlos
Drummond de Andrade, “no meio do caminho havia uma Aids”. A
eclosão da pandemia dessa doença levou muitas pessoas a se
preocuparem com o sexo seguro. Não fora isso... Nem é bom pensar!
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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