Friday, August 25, 2017

Esperança, de novo, supera o medo



Pedro J. Bondaczuk



O presidente Luís Inácio Lula da Silva – que se tornou, ontem, o segundo governante a ser reeleito na história do Brasil, na quinta eleição direta para a Presidência da República desde a redemocratização – disse, na noite de 27 de outubro de 2002 (portanto, há quatro anos e três dias), tão logo tomou conhecimento da sua consagradora vitória nas urnas, em discurso que improvisou, na oportunidade, na Avenida Paulista, em São Paulo –, onde os correligionários festejavam a sua chegada ao poder, após três tentativas anteriores frustradas – uma frase que se tornou emblemática e que caracterizou à perfeição o que foi aquela batalha política: “A esperança venceu o medo”.

Claro que sua expressão, na época, tinha endereço certo, político, voltada aos adversários que na reta final da campanha buscaram atemorizar os eleitores, pintando cenários assustadores, no afã de semear o terror e fazer as mais estapafúrdias previsões caso ele fosse o escolhido. O recado de Lula era voltado, mais especificamente, à atriz Regina Duarte e ao candidato que derrotou, José Serra (que lançou mão desse artifício em desespero de causa), para tentarem reverter um quadro que, no final das contas, provou ser irreversível.

Bem que o presidente poderia repetir, agora, até com muito mais razão do que há quatro anos, o que disse em 2002. Mais do que nunca, nestas eleições de 2006, a esperança venceu (e de novo) o medo, tolo e irracional, que seus adversários tentaram, em vão, espalhar e instalar nos corações e nas mentes dos brasileiros. Lula foi reeleito com mais de 60 milhões de votos (mais do que a população total de países como a França, a Grã-Bretanha ou a Itália). E venceu, também, pela segunda vez consecutiva, o indisfarçável preconceito da elite contra um operário competente, nordestino, que driblou as vicissitudes adversas e a miséria e chegou, por méritos pessoais, ao supremo cargo da Nação. Venceu armações de toda a sorte (como no ainda nebuloso episódio do dossiê dos Vedoins) de uma oposição raivosa e selvagem, ávida pelo poder a todo e qualquer custo, que entendia que os fins justificavam os meios. E venceu, principalmente, a indecorosa parcialidade da imensa maioria dos meios de comunicação do País, que fizeram de tudo para que o presidente não fosse reeleito, como se fosse questão de honra e, como se viu, se deram mal.

A imprensa, salvo raras e honrosas exceções, arriscou, nesse processo eleitoral recém-findo, o maior patrimônio que seus integrantes, os jornalista, têm e que deve ser preservado acima de todo e qualquer interesse: a credibilidade. Por terem esquecido a ética profissional, os jornais, revistas e emissoras de rádio e TV, na sua grande maioria, saem bastante arranhados desse episódio. Quem sabe se agora baixam um pouco a bola, se esquecem dessa bobagem de “Quarto Poder” que há tempos se autoproclamaram que eram (não se sabe com que legitimidade ou escolhidos por quem) e deixam de lado sua absurda arrogância e calamitosa presunção.

Em 2002 – dias antes da realização do segundo turno – Regina Duarte expressou (com todas as letras, acentos e pontos) seu temor diante da possibilidade do fundador do PT vencer as eleições (se sincero ou não, era impossível de se avaliar, já que aquilo que ela declarou entrava no nebuloso campo dos sentimentos e no das presunções sobre sua sinceridade ou falta dela), vitória que, àquela altura, era iminente. Mas a resposta de Lula, depois de eleito, valeu, não somente para ela ou para os adversários da ocasião, mas para toda a sociedade. E valeria um bis, agora, em 2006, quando teve que enfrentar não apenas outra renhida batalha eleitoral, mas uma guerra suja e cruel, na qual seus adversários entenderam que valia tudo para ser ganha – até insinuações malévolas e irresponsáveis à honra do presidente e à de sua família, entre outras tantas agressões (e que, salvo engano, tende a prosseguir ao longo do seu segundo mandato).

Dezenas de episódios, na política, na economia e na vida, opuseram esses dois sentimentos, esperança e medo –, que parecem antagônicos, mas que, no entanto, quase sempre se manifestam de forma simultânea –, tanto em 2002 quanto no correr dos últimos quatro anos, quer no plano individual, quer coletivamente. Sua menção é até desnecessária. Cada um dos leitores, se forçar um bocadinho só a memória, certamente vai se lembrar de vários casos, pessoais ou coletivos, desse confronto. É certo que a esperança não prevaleceu em todas as circunstâncias. Contudo, em algumas, as pessoas deixaram de obter marcantes conquistas, inibidas, justamente, pelo “medo de tentar”.

A vitória de Lula, em 2002, despertou, na população, um clima de inusitado otimismo, mesmo com a escalada da inflação que então se verificava, com as incertezas no cenário internacional (econômicas e também políticas, pois na época era iminente a invasão norte-americana ao Iraque, que acabou se confirmando meses depois) e, principalmente, com o alto índice de desemprego no País. Mas o presidente (queiram ou não seus adversários) arrumou a casa, que estava uma bagunça. Controlou a inflação, que já beirava os 20%, multiplicou as exportações, pagou antecipadamente o Fundo Monetário Internacional, valorizou o real (quando assumiu, um dólar valia R$ 4,00 e hoje oscila por volta dos R$ 2,16), lançou importantes programas sociais, gerou empregos, valorizou o salário-mínimo e, sobretudo, reduziu a miséria de milhões de brasileiros. Decepcionou alguns, é verdade, que viam nele um mágico, e não um mero presidente, capaz de operar milagres. Ninguém é. Agradou, porém, a maioria, que é o que importa. Por isso, sai, de novo, consagrado nas urnas e nos braços do povo, a despeito da ação raivosa da imprensa.

(Editorial do jornal "Roteiro", de Campinas, publicado em 25 de novembro de 2006).


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