Esperança, de novo, supera o medo
Pedro J. Bondaczuk
O presidente Luís Inácio
Lula da Silva – que se tornou, ontem, o segundo governante a ser
reeleito na história do Brasil, na quinta eleição direta para a
Presidência da República desde a redemocratização – disse, na
noite de 27 de outubro de 2002 (portanto, há quatro anos e três
dias), tão logo tomou conhecimento da sua consagradora vitória nas
urnas, em discurso que improvisou, na oportunidade, na Avenida
Paulista, em São Paulo –, onde os correligionários festejavam a
sua chegada ao poder, após três tentativas anteriores frustradas –
uma frase que se tornou emblemática e que caracterizou à perfeição
o que foi aquela batalha política: “A esperança venceu o medo”.
Claro que sua expressão, na
época, tinha endereço certo, político, voltada aos adversários
que na reta final da campanha buscaram atemorizar os eleitores,
pintando cenários assustadores, no afã de semear o terror e fazer
as mais estapafúrdias previsões caso ele fosse o escolhido. O
recado de Lula era voltado, mais especificamente, à atriz Regina
Duarte e ao candidato que derrotou, José Serra (que lançou mão
desse artifício em desespero de causa), para tentarem reverter um
quadro que, no final das contas, provou ser irreversível.
Bem que o presidente poderia
repetir, agora, até com muito mais razão do que há quatro anos, o
que disse em 2002. Mais do que nunca, nestas eleições de 2006, a
esperança venceu (e de novo) o medo, tolo e irracional, que seus
adversários tentaram, em vão, espalhar e instalar nos corações e
nas mentes dos brasileiros. Lula foi reeleito com mais de 60 milhões
de votos (mais do que a população total de países como a França,
a Grã-Bretanha ou a Itália). E venceu, também, pela segunda vez
consecutiva, o indisfarçável preconceito da elite contra um
operário competente, nordestino, que driblou as vicissitudes
adversas e a miséria e chegou, por méritos pessoais, ao supremo
cargo da Nação. Venceu armações de toda a sorte (como no ainda
nebuloso episódio do dossiê dos Vedoins) de uma oposição raivosa
e selvagem, ávida pelo poder a todo e qualquer custo, que entendia
que os fins justificavam os meios. E venceu, principalmente, a
indecorosa parcialidade da imensa maioria dos meios de comunicação
do País, que fizeram de tudo para que o presidente não fosse
reeleito, como se fosse questão de honra e, como se viu, se deram
mal.
A imprensa, salvo raras e
honrosas exceções, arriscou, nesse processo eleitoral recém-findo,
o maior patrimônio que seus integrantes, os jornalista, têm e que
deve ser preservado acima de todo e qualquer interesse: a
credibilidade. Por terem esquecido a ética profissional, os jornais,
revistas e emissoras de rádio e TV, na sua grande maioria, saem
bastante arranhados desse episódio. Quem sabe se agora baixam um
pouco a bola, se esquecem dessa bobagem de “Quarto Poder” que há
tempos se autoproclamaram que eram (não se sabe com que legitimidade
ou escolhidos por quem) e deixam de lado sua absurda arrogância e
calamitosa presunção.
Em 2002 – dias antes da
realização do segundo turno – Regina Duarte expressou (com todas
as letras, acentos e pontos) seu temor diante da possibilidade do
fundador do PT vencer as eleições (se sincero ou não, era
impossível de se avaliar, já que aquilo que ela declarou entrava no
nebuloso campo dos sentimentos e no das presunções sobre sua
sinceridade ou falta dela), vitória que, àquela altura, era
iminente. Mas a resposta de Lula, depois de eleito, valeu, não
somente para ela ou para os adversários da ocasião, mas para toda a
sociedade. E valeria um bis, agora, em 2006, quando teve que
enfrentar não apenas outra renhida batalha eleitoral, mas uma guerra
suja e cruel, na qual seus adversários entenderam que valia tudo
para ser ganha – até insinuações malévolas e irresponsáveis à
honra do presidente e à de sua família, entre outras tantas
agressões (e que, salvo engano, tende a prosseguir ao longo do seu
segundo mandato).
Dezenas de episódios, na
política, na economia e na vida, opuseram esses dois sentimentos,
esperança e medo –, que parecem antagônicos, mas que, no entanto,
quase sempre se manifestam de forma simultânea –, tanto em 2002
quanto no correr dos últimos quatro anos, quer no plano individual,
quer coletivamente. Sua menção é até desnecessária. Cada um dos
leitores, se forçar um bocadinho só a memória, certamente vai se
lembrar de vários casos, pessoais ou coletivos, desse confronto. É
certo que a esperança não prevaleceu em todas as circunstâncias.
Contudo, em algumas, as pessoas deixaram de obter marcantes
conquistas, inibidas, justamente, pelo “medo de tentar”.
A vitória de Lula, em 2002,
despertou, na população, um clima de inusitado otimismo, mesmo com
a escalada da inflação que então se verificava, com as incertezas
no cenário internacional (econômicas e também políticas, pois na
época era iminente a invasão norte-americana ao Iraque, que acabou
se confirmando meses depois) e, principalmente, com o alto índice de
desemprego no País. Mas o presidente (queiram ou não seus
adversários) arrumou a casa, que estava uma bagunça. Controlou a
inflação, que já beirava os 20%, multiplicou as exportações,
pagou antecipadamente o Fundo Monetário Internacional, valorizou o
real (quando assumiu, um dólar valia R$ 4,00 e hoje oscila por volta
dos R$ 2,16), lançou importantes programas sociais, gerou empregos,
valorizou o salário-mínimo e, sobretudo, reduziu a miséria de
milhões de brasileiros. Decepcionou alguns, é verdade, que viam
nele um mágico, e não um mero presidente, capaz de operar milagres.
Ninguém é. Agradou, porém, a maioria, que é o que importa. Por
isso, sai, de novo, consagrado nas urnas e nos braços do povo, a
despeito da ação raivosa da imprensa.
(Editorial do jornal "Roteiro", de Campinas, publicado em 25 de novembro de 2006).
(Editorial do jornal "Roteiro", de Campinas, publicado em 25 de novembro de 2006).
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