Sadat,
o controvertido
Pedro
J. Bondaczuk
A região do Oriente Médio,
que desde o gesto histórico de Anuar El Sadat, em novembro de 1977,
de descer em Jerusalém para apertar a mão do seu maior adversário
– o primeiro-ministro israelense Menachen Begin – estava
relativamente calma, voltou, repentinamente a se agitar. Um atentado,
há muito previsto pelos observadores políticos, mas jamais cogitado
pela população mundial, matou aqu8ele controvertido líder egípcio,
que gerou tanta esperança e tanto ódio, tanta admiração e tanta
repulsa, nessa explosiva área do Planeta. Esperança de paz para a
humanidade com o gesto simbólico – que inclusive valeu a esse
“felah”, filho de camponeses, junto com o ex-guerrilheiro Begin,
o Prêmio Nobel da Paz de 1978 – de reaproximação com o
tradicional adversário, pondo fim a 30 anos de conflito com seu
poderoso vizinho. E ódio – por parte dos palestinos, e por
consequência, dos seus aliados mais fieis – que interpretaram o
ato de Sadat como sendo mais uma iniciativa interesseira, visando
agradar os norte-americanos, de quem esperava dólares para mover a
emperrada economia egípcia, do que iniciativa séria e construtiva
para estabelecer a paz na região.
Na época da assinatura do
Tratado de Camp David – sob os auspícios e patrocínio do
ex-presidente Jimmy Carter – os analistas já assinalavam que
qualquer acordo viável para aquela explosiva e conturbada área
mundial, deveria, necessariamente, levar em conta, não apenas a
existência, mas também a autonomia palestina. Não foi o que
aconteceu com o criticado, falho e controvertido acordo.
Inimigos poderosos
levantaram-se contra o presidente egípcio. Estes foram desde o
histriônico e megalomaníaco coronel líbio Muammar Khadafi até o
prestigioso e calejado líder da Organização para a Libertação da
Palestina, Yasser Arafat. Desde o baatista presidente sírio Hafez
Assad, até os fundamentalistas iranianos do aiatolá Ruholah
Khomeini. Aliás, do líder religioso do Irã, Sadat já havia
despertado a ira quando acolheu o deposto ex-xá Mohammed Rhezza
Pahlevi. A partir de então, os iranianos juraram o presidente
egípcio de morte.
Anauar El Sadat, com suas
atitudes firmes e ousadas – embora quase sempre ineficazes em
termos práticos – conquistou simpatias no Ocidente. Principalmente
depois de haver rom,pido com Moscou, expulsando do Egito todos os
conselheiros militares soviéticos. Mas esta atitude também lhe
trouxe profunda repulsa dos vizinhos, que organizaram a Frente de
Oposição e Contestação aos Acordos de Camp David.
A forma, as audácia e o local
onde ocorreu o atentado que matou o presidente egípcio revelam
planejamento e organização. Mostram que havia um plano muito bem
urdido para o ataque. A morte de Sadat – que ocorreu num dos
momentos de maior tensão política que agita o mundo – pode ter
consequências muito mais sérias do que à primeira vista possa
parecer.
A zona do Golfo Pérsico
enfrenta uma guerra que já dura mais de um ano e que pode envolver
outros países da região, além de Iraque e Irã. Existem rumores,
por exemplo, de um complô em andamento na Arábia Saudita para depor
a dinastia Faiçal e impor um regime semelhante ao iraniano. Aliásd,
essa possibilidade (para muitos remota) polarizou as atenções da
opinião pública internacional nas últimas semanas, sobretudo após
a decisão do presidente norte-americano Ronald Reagan de armar os
sauditas, mesmo com o Capitólio em peso tentando barrar essa
decisão.
Já o Líbano – o outrora
“Jardim do Oriente”, comparado a uma espécie de Suíça da
região – está destroçado e dividido por uma guerra civil que já
dura seis anos e que lhe valeu uma humilhante ocupação militar
estrangeira. Nesse quadro sombrio e assustador, a morte de Sadat pode
se transformar no estopim para a explosão desse autêntico barril de
pólvora, que é o Oriente Médio. E ele explodindo, a explosão pode
afetar toda a humanidade. Deus que nos livre disse!!!!
(Artigo publicado na editoria
Opinião do Diário do Povo, em 7 de outubro de 1981).
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