Mark Twain e o Cometa de Halley
Pedro J. Bondaczuk
O escritor
norte-americano Samuel Clemens, que se consagrou com o pseudônimo de
Mark Twain e cujo sesquicentenário de nascimento transcorreu em
1985, teve, entre tantas particularidades na vida, uma especialmente
interessante. Tratou-se, provavelmente, de uma coincidência –
poucas vezes citada por seus vários biógrafos –, que por sinal se
repetiu mais uma vez, 76 anos depois da sua morte, ocorrida em 1911.
O
criador de personagens como Tom Sawyer, Huckleberry Finn e tantos
outros, familiares especialmente aos jovens de várias partes do
mundo, nasceu quando o Halley começou a se tornar visível no céu,
em fins de 1835. E Mark Twain morreu exatamente 76 anos depois,
quando o mesmo cometa passou de novo pelo Sistema Solar. Essa
“coincidência” (e várias outras) foi tratada com grande
maestria pelo escritor (e amigo) Edir Araujo, em seu romance “A
passagem dos cometas”
Tal
circunstância, conforme Mark Twain gostava de dizer, tornava-o um
ser humano “muito especial”. Achava que por isso (e não só pelo
seu reconhecido e enorme talento) estava predestinado à glória e à
fama, sujeito à admiração e à estima de milhões de leitores,
posto que não fadado à fortuna. Superstição? Talvez!
Grande
parte dos adolescentes, de várias partes do mundo, fazem, ainda
hoje, sua iniciação na leitura com as obras de Mark Twain. Numa
comparação – um tanto forçada, mas ainda assim válida –,
podemos afirmar que ele foi uma espécie de Monteiro Lobato
norte-americano (ou vice-versa, pois o autor do Sítio do Pica-pau
Amarelo nasceu quase meio século depois de Samuel Clemens).
Uma
das características marcantes de Twain foi o seu senso de humor, que
transportou, com grande maestria e talento, para seus personagens,
dando-lhes naturalidade, humanidade e, sobretudo, autenticidade.
Entre seus livros de maior sucesso destacam-se: “As Aventuras de
Tom Sawyer”, “Huckleberry Finn” e “O Príncipe e o Mendigo”,
todos três transformados em filmes de grande bilheteria por
produtores de Hollywood.
Samuel
Clemens, filho do juiz John Clemens, nasceu e cresceu na pequena
cidade de Hannibal, Estado do Missouri, a 208 quilômetros de Saint
Louis, às margens do Mississippi. O rio acabou sendo, na verdade,
mais do que mero cenário dos seus romances, o principal “personagem”
das suas histórias.
Mark
Twain teve – a exemplo do nosso Machado de Assis – a “vida”
como principal escola. Foi forçado pelas circunstâncias a
abandonar os estudos muito cedo, aos 12 anos de idade, em
conseqüência da morte do pai. Autodidata, tornou-se, no entanto, um
dos mais refinados, hábeis e lidos escritores norte-americanos de
todos os tempos.
Sua
educação – ele próprio costumava dizer – bem como o seu jeitão
afável e bem-humorado, foram forjados na estreita convivência com
os barqueiros do Mississippi. São célebres (e geniais) suas
“tiradas”, especialmente sobre a importância do dinheiro,
citadas, freqüentemente, ainda hoje, por escritores, jornalistas e
intelectuais de todas as áreas, no seu país e em tantas outras
partes do mundo.
Tal
foi a sua ligação com o mais extenso e caudaloso rio dos Estados
Unidos, e com tudo o que lhe dissesse respeito, que o pseudônimo,
“Mark Twain”, se originou de uma gíria utilizada pelos
barqueiros da região, que significa “marque aos pares”. Trata-se
de uma expressão que é usada quando se verifica a profundidade de
um curso de água, para evitar que os barcos encalhem em bancos de
areia.
Clemens
fez um pouco de tudo para sobreviver, antes de se tornar o escritor
famoso e bem sucedido em que se transformou. Foi piloto de barcaças,
mineiro, soldado, impressor, humorista, jornalista, contador de
histórias etc., entre tantas coisas.
Sua
estreia em literatura ocorreu em 1863, com 28 anos de idade, ocasião
em que adotou o pseudônimo com o qual ficou conhecido. A primeira
vez que usou o nome Mark Twain foi em um artigo, publicado no jornal
“The Virgínia City Enterprise”, em fevereiro daquele ano.
O
primeiro livro de Samuel Clemens foi “Forty-three days in a Open
Boat”, lançado em 1866. Desde então, seus romances se sucederam e
o sucesso foi crescente. Mark Twain, no entanto, não era nem um
pouco modesto. Confidenciou, por exemplo, aos amigos, que sua maior
ambição na vida era a de ser “a pessoa mais notável do mundo”.
Com certeza não chegou a tanto, mas se aproximou bastante disso.
Ernest
Hemingway costumava dizer que “Huckleberry Finn foi o primeiro, e
possivelmente o mais importante, de todos os romances escritos nos
Estados Unidos”. Não foi por acaso, portanto, que as maiores
universidades norte-americanas concederam a Mark Twain, genial
autodidata, títulos de “doutor honoris causa”. Entre estas,
destacam-se as de Oxford, Yale e a do Missouri.
O
sesquicentenário do nascimento de Samuel Clemens (em outra passagem
envolvendo o Halley), transcorreu em 30 de novembro de 1985, quando o
cometa estava despontando de novo no céu, em sua periódica
“visita”, que se repete há cada 76 anos, ao Sistema Solar!
Coincidência? Quem sabe...?
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