Tuesday, August 08, 2017

Brisa liberalizante sopra sobre a Polônia


Pedro J. Bondaczuk


O telespectador polonês, acostumado a mensagens ideológicas diárias por parte de suas autoridades e dos ideólogos do Partido Comunista, deve ter ficado surpreendido, ontem. Ao ligar seu receptor, teve a oportunidade de ver e ouvir uma figura que lhe é pouquíssimo familiar. E mais, ouviu palavras, jamais ditas, desde 1939, em seus meios de comunicação. Não se tratou, claro, de nenhum pronunciamento do seu dirigente Wojciech Jaruzelski e muito menos do líder soviético Mikhail Goprbachev, ou de qualquer outra personalidade do leste europeu. Agradavelmente surpreso, o telespectador polonês pode ouvir alguém defendendo a liberdade (política, econômica e principalmente sindical), sem que a pessoa que falava a esse respeito fosse detida como “subversiva”.

Tal mensagem veio de ninguém menos que o vice-presidente dos Estados Unidos, George Bush, que está, desde sábado, em Varsóvia, em plena campanha eleitoral. Explica-se: a colônia polonesa é bastante representativa em várias regiões norte-americanas. É uma das mais ativas e numerosas das tantas existentes nesse país. O pré-candidato conquista a simpatia de uma comunidade que pode ajudar na sua eleição. O governo de Jaruzelski, por seu turno, espera obter o apoio de Washington na difícil renegociação de sua volumosa dívida externa.

Mas o fato que ressalta, por ser inusitado, é a permissão dada ao visitante para que defendesse, publicamente, o que a até pouco tempo era indefensável na Polônia. Isso indica que uma leve brisa liberalizante está soprando, também, pelos lados desse tão sofrido país europeu. Sinais disso, aliás, já haviam sido dados antes. Um deles, por exemplo, foi o diálogo franco que Jaruzelski teve com o papa João Paulo II, no Vaticano, no primeiro semestre deste ano, em que o dirigente marxista chegou a fazer um público “mea culpa”no tocante aos direitos humanos. Ou a visita do pontífice feita posteriormente à sua terra natal, que soou como atestado de maturidade do visitante para com seus anfitriões.

A imprensa ocidental chegou a mencionar, porém, incidentes envolvendo membros do Solidariedade durante o giro de João Paulo II. De regresso ao Vaticano, todavia, o próprio papa encarregou-se de desfazer a imagem negativa. Criticou, inclusive, duramente os meios de comunicação que veicularam essa versão, chamando-os de “sensacionalistas”. De quebra, o papa elogiou o comportamento moderado das autoridades polonesas durante sua permanência na Polônia.

Como se vê, não é somente na URSS que os ventos liberalizantes estão soprando pelos lados do leste europeu. Oxalá eles não venham, mais uma vez, a serem contidos por algum incidente banal, desses que costumam comprometer processos de abertura promissores por aquelas bandas.

(Artigo publicado na editoria Internacional do Correio Popular, em 29 de setembro de 1987).



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