Brisa
liberalizante sopra sobre a Polônia
Pedro
J. Bondaczuk
O
telespectador polonês, acostumado a mensagens ideológicas diárias
por parte de suas autoridades e dos ideólogos do Partido Comunista,
deve ter ficado surpreendido, ontem. Ao ligar seu receptor, teve a
oportunidade de ver e ouvir uma figura que lhe é pouquíssimo
familiar. E mais, ouviu palavras, jamais ditas, desde 1939, em seus
meios de comunicação. Não se tratou, claro, de nenhum
pronunciamento do seu dirigente Wojciech Jaruzelski e muito menos do
líder soviético Mikhail Goprbachev, ou de qualquer outra
personalidade do leste europeu. Agradavelmente surpreso, o
telespectador polonês pode ouvir alguém defendendo a liberdade
(política, econômica e principalmente sindical), sem que a pessoa
que falava a esse respeito fosse detida como “subversiva”.
Tal
mensagem veio de ninguém menos que o vice-presidente dos Estados
Unidos, George Bush, que está, desde sábado, em Varsóvia, em plena
campanha eleitoral. Explica-se: a colônia polonesa é bastante
representativa em várias regiões norte-americanas. É uma das mais
ativas e numerosas das tantas existentes nesse país. O pré-candidato
conquista a simpatia de uma comunidade que pode ajudar na sua
eleição. O governo de Jaruzelski, por seu turno, espera obter o
apoio de Washington na difícil renegociação de sua volumosa dívida
externa.
Mas
o fato que ressalta, por ser inusitado, é a permissão dada ao
visitante para que defendesse, publicamente, o que a até pouco tempo
era indefensável na Polônia. Isso indica que uma leve brisa
liberalizante está soprando, também, pelos lados desse tão sofrido
país europeu. Sinais disso, aliás, já haviam sido dados antes. Um
deles, por exemplo, foi o diálogo franco que Jaruzelski teve com o
papa João Paulo II, no Vaticano, no primeiro semestre deste ano, em
que o dirigente marxista chegou a fazer um público “mea culpa”no
tocante aos direitos humanos. Ou a visita do pontífice feita
posteriormente à sua terra natal, que soou como atestado de
maturidade do visitante para com seus anfitriões.
A
imprensa ocidental chegou a mencionar, porém, incidentes envolvendo
membros do Solidariedade durante o giro de João Paulo II. De
regresso ao Vaticano, todavia, o próprio papa encarregou-se de
desfazer a imagem negativa. Criticou, inclusive, duramente os meios
de comunicação que veicularam essa versão, chamando-os de
“sensacionalistas”. De quebra, o papa elogiou o comportamento
moderado das autoridades polonesas durante sua permanência na
Polônia.
Como
se vê, não é somente na URSS que os ventos liberalizantes estão
soprando pelos lados do leste europeu. Oxalá eles não venham, mais
uma vez, a serem contidos por algum incidente banal, desses que
costumam comprometer processos de abertura promissores por aquelas
bandas.
(Artigo
publicado na editoria Internacional do Correio Popular, em 29 de
setembro de 1987).
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