Saturday, August 19, 2017

URV é uma interrogação


Pedro J. Bondaczuk


A iminência da introdução de um indexador único na economia, a Unidade Real de Valor, tendente a acabar com a parafernália de índices existentes hoje e que deve ser o embrião de uma nova moeda forte, gera nos agentes econômicos mais dúvidas do que certezas.

O ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, fala com tanta convicção no sucesso dessa conversão que as pessoas procuram entender como ele fará para conseguir o consenso. Afinal, a garantia dada à sociedade foi a de que não haveria imposições. Adere à URV quem quiser.

A principal pergunta que nos fazem na rua é: "E se o empresariado, ou os sindicatos não aderirem ao indexador único? O plano de estabilização estará abortado? O que o novo índice tem de tão atrativo a ponto de gerar tanta certeza no governo de que haverá adesão maciça?"

Na teoria, a sua adoção restituirá ao brasileiro a já perdida noção de valor da economia. Torna-se desnecessário citar exemplos a respeito, pois cada consumidor tem uma experiência própria e os jornais têm feito matérias para comprovar que as pessoas sequer sabem se estão pagando muito, pouco ou o preço justo por algum produto.

Outra pergunta que fica no ar é: "Quem vai pagar esta conta?" O governo garante que ninguém sairá perdendo, embora não justifique a razão de tanta certeza. A verdade é que, tanto os que defendem a URV e juram que vão aderir de imediato a ela quanto os que se opõem a ela --- notadamente os sindicatos, que argumentam com pesadas perdas salariais --- pouco ou nada sabem acerca do novo índice.

As especulações, por outro lado, beneficiam apenas quem tem dinheiro para aplicar ou pode "engordar" os preços impunemente, notadamente os cartéis, os monopólios e os oligopólios. Conviria que o ministro viesse a público, por meio de rede de rádio e televisão, para dar explicações detalhadas sobre o novo indexador, respondendo às perguntas que estão no ar.

Não é novidade para ninguém que parte considerável da inflação brasileira se deve à expectativa. E ela, sim, todos sabem de sobejo a quem prejudica e a quem beneficia. Os beneficiários são os eu têm créditos, de qualquer natureza, e que trabalham com preços superdimensionados. Os perdedores? Está claro, são os assalariados, simultaneamente consumidores e contribuintes. Quem mais?

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 17 de fevereiro de 1994).



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