URV é uma interrogação
Pedro J. Bondaczuk
A iminência da introdução
de um indexador único na economia, a Unidade Real de Valor, tendente
a acabar com a parafernália de índices existentes hoje e que deve
ser o embrião de uma nova moeda forte, gera nos agentes econômicos
mais dúvidas do que certezas.
O ministro da Fazenda,
Fernando Henrique Cardoso, fala com tanta convicção no sucesso
dessa conversão que as pessoas procuram entender como ele fará para
conseguir o consenso. Afinal, a garantia dada à sociedade foi a de
que não haveria imposições. Adere à URV quem quiser.
A principal pergunta que nos
fazem na rua é: "E se o empresariado, ou os sindicatos não
aderirem ao indexador único? O plano de estabilização estará
abortado? O que o novo índice tem de tão atrativo a ponto de gerar
tanta certeza no governo de que haverá adesão maciça?"
Na teoria, a sua adoção
restituirá ao brasileiro a já perdida noção de valor da economia.
Torna-se desnecessário citar exemplos a respeito, pois cada
consumidor tem uma experiência própria e os jornais têm feito
matérias para comprovar que as pessoas sequer sabem se estão
pagando muito, pouco ou o preço justo por algum produto.
Outra pergunta que fica no ar
é: "Quem vai pagar esta conta?" O governo garante que
ninguém sairá perdendo, embora não justifique a razão de tanta
certeza. A verdade é que, tanto os que defendem a URV e juram que
vão aderir de imediato a ela quanto os que se opõem a ela ---
notadamente os sindicatos, que argumentam com pesadas perdas
salariais --- pouco ou nada sabem acerca do novo índice.
As especulações, por outro
lado, beneficiam apenas quem tem dinheiro para aplicar ou pode
"engordar" os preços impunemente, notadamente os cartéis,
os monopólios e os oligopólios. Conviria que o ministro viesse a
público, por meio de rede de rádio e televisão, para dar
explicações detalhadas sobre o novo indexador, respondendo às
perguntas que estão no ar.
Não é novidade para ninguém
que parte considerável da inflação brasileira se deve à
expectativa. E ela, sim, todos sabem de sobejo a quem prejudica e a
quem beneficia. Os beneficiários são os eu têm créditos, de
qualquer natureza, e que trabalham com preços superdimensionados. Os
perdedores? Está claro, são os assalariados, simultaneamente
consumidores e contribuintes. Quem mais?
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 17 de fevereiro de 1994).
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