O jogo do poder
Pedro J. Bondaczuk
"Os ministros aqui se
sucedem e se destroem como as estações. Em três anos vi mudarem
quatro vezes de sistema de finanças". Estas palavras, bastante
atuais e oportunas para a situação política brasileira nos dias
que correm, não são de nenhum jornalista, ou sociólogo, ou de
alguém que eventualmente esteja escrevendo uma carta para algum
amigo no Exterior, para dar notícias do que ocorre no País.
Não se referem, sequer, ao
Brasil e nem são recentes. Seu autor é francês e viveu no século
XVI. Trata-se do Barão de Montesquieu (Charles Louis de Secondat),
que nasceu em 1689 e morreu em 1755. O trecho citado é de um dos
seus mais brilhantes livros, o "Cartas Persas". Mas quanta
atualidade, diante da sucessão de ministros da Fazenda, escolhidos e
demitidos --- por razões diversas --- desde o início do malfadado
governo Collor!
O cargo, hoje em dia, confere
ao seu detentor um poder imenso. Só não é maior do que o do
presidente, porque este tem o poder de demiti-lo. Mas é muito
grande. Seu ocupante é um autêntico "czar das finanças".
O último a cair, Rubens
Ricupero, deixou-se embriagar por essa sensação de importância ---
ele próprio admitiu isso na nota em que explicou sua renúncia,
divulgada no domingo --- permitiu que a vaidade falasse mais alto do
que a prudência e conseguiu (sem que este fosse, evidentemente, seu
desejo) criar turbulência numa campanha sucessória monótona,
deprimente e decepcionante.
Não se pode deixar de
ressaltar, contudo, a nobreza de seu ato de renúncia. Fez o que
deveria fazer. Mesmo ciente de que estava jogando para o alto uma
brilhante --- e mais promissora ainda do que até então ---
carreira, teve a coragem de vir a público para um dramático e
emocionado "mea culpa". Poucas pessoas teriam tamanha
coragem. Por isso, é vítima de "linchamento".
Ninguém, em sã consciência,
dado o perfil dos oito candidatos à Presidência da República,
esperava que a propaganda política por rádio e televisão fosse um
primor de sinceridade ou revestida de um senso ético exemplar,
embora isso fosse o desejável.
Todavia, não se esperava,
também, que o horário gratuito fosse esse desfile de bobagens, de
acusações, de ataques pessoais, de clichês desgastados pelo uso,
sem sinceridade, criatividade e muito menos utilidade, em que se
transformou.
Se isto que estão mostrando é
tudo o que esses homens têm a oferecer aos brasileiros, em termos de
soluções, estamos bastante encrencados. Afinal, um deles terá a
incumbência de tirar o País da crise e comandar nossos destinos e
aspirações. É assustador!
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 8 de setembro de 1994).
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