Sunday, August 06, 2017

O jogo do poder


Pedro J. Bondaczuk


"Os ministros aqui se sucedem e se destroem como as estações. Em três anos vi mudarem quatro vezes de sistema de finanças". Estas palavras, bastante atuais e oportunas para a situação política brasileira nos dias que correm, não são de nenhum jornalista, ou sociólogo, ou de alguém que eventualmente esteja escrevendo uma carta para algum amigo no Exterior, para dar notícias do que ocorre no País.

Não se referem, sequer, ao Brasil e nem são recentes. Seu autor é francês e viveu no século XVI. Trata-se do Barão de Montesquieu (Charles Louis de Secondat), que nasceu em 1689 e morreu em 1755. O trecho citado é de um dos seus mais brilhantes livros, o "Cartas Persas". Mas quanta atualidade, diante da sucessão de ministros da Fazenda, escolhidos e demitidos --- por razões diversas --- desde o início do malfadado governo Collor!

O cargo, hoje em dia, confere ao seu detentor um poder imenso. Só não é maior do que o do presidente, porque este tem o poder de demiti-lo. Mas é muito grande. Seu ocupante é um autêntico "czar das finanças".

O último a cair, Rubens Ricupero, deixou-se embriagar por essa sensação de importância --- ele próprio admitiu isso na nota em que explicou sua renúncia, divulgada no domingo --- permitiu que a vaidade falasse mais alto do que a prudência e conseguiu (sem que este fosse, evidentemente, seu desejo) criar turbulência numa campanha sucessória monótona, deprimente e decepcionante.

Não se pode deixar de ressaltar, contudo, a nobreza de seu ato de renúncia. Fez o que deveria fazer. Mesmo ciente de que estava jogando para o alto uma brilhante --- e mais promissora ainda do que até então --- carreira, teve a coragem de vir a público para um dramático e emocionado "mea culpa". Poucas pessoas teriam tamanha coragem. Por isso, é vítima de "linchamento".

Ninguém, em sã consciência, dado o perfil dos oito candidatos à Presidência da República, esperava que a propaganda política por rádio e televisão fosse um primor de sinceridade ou revestida de um senso ético exemplar, embora isso fosse o desejável.

Todavia, não se esperava, também, que o horário gratuito fosse esse desfile de bobagens, de acusações, de ataques pessoais, de clichês desgastados pelo uso, sem sinceridade, criatividade e muito menos utilidade, em que se transformou.

Se isto que estão mostrando é tudo o que esses homens têm a oferecer aos brasileiros, em termos de soluções, estamos bastante encrencados. Afinal, um deles terá a incumbência de tirar o País da crise e comandar nossos destinos e aspirações. É assustador!

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 8 de setembro de 1994).



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