Wednesday, August 16, 2017

Falta sustentação para a presidente

Pedro J. Bondaczuk

A presidente filipina, Corazón Aquino, está cada vez mais acuada entre os políticos e os militares. Os primeiros trazem à baila meras questiunculas, simples briguinhas de comadres, enquanto os grandes temas nacionais permanecem intactos, no aguardo de alguém de boa vontade que se interesse por eles. Os homens fardados, por seu turno (pelo menos parte considerável deles) perdem seu tempo tramando golpes e rebeliões, abrindo espaço para a guerrilha marxista, que há tempos aguarda uma oportunidade como esta. No meio de tudo, está a chefe de governo que, a esta altura, foi relegada a mera figura secundária da vida nacional, quando deveria ser a principal.

Sob as suas vistas, livremente, mensagens de discórdia e desunião são espalhadas, aproveitando-se do caos social gerado por uma economia estraçalhada, bombardeada e falida e, o que é pior, com uma dívida de US$ 26 bilhões para pagar, sem que o país disponha sequer de recursos para os juros. Camisetas estão sendo elaboradas, aos milhares, trazendo estampadas frases como “votei em Cory e estou arrependido”. Militares falam abertamente sobre golpe, marcando, até mesmo, data para isso, indiferentes se a população deseja ou não outra ditadura. “O que importa o povo das Filipinas?”, parecem estar se perguntando, com a resposta (óbvia) engatilhada na ponta da língua.

Os jornais divulgam, fartamente, as exortações do líder golpista, Gregório “Gringo” Honasan, indo até o seu refúgio para entrevistá-lo. Todos parecem saber onde ele está, menos os que se dizem interessados na sua prisão. A Casa Branca, quer na rebelião de 28 de agosto passado manifestou, abertamente, a sua posição de apoio à presidente, mantém um prudente silêncio agora, equidistante dos acontecimentos. E Corazón Aquino parece, neste momento, contar com respaldo, apenas, onde não lhe interessa em sentido prático: na imprensa internacional. Porque em seu próprio país se apresenta frágil e desprotegida, a despeito das declarações tranquilizadoras do chefe das Forças Armadas, general Fidel Ramos, que parece, também, estar perdendo a paciência. A prova disso foi a declaração que deu ontem, chamando o governo às falas, para que “governe” ao invés de participar dos “diz-que-diz-ques” generalizados. Pela lógica, a deposição de Cory, portanto, pode estar somente por um fio. Tomara que ele não se rompa, afinal.

(Artigo publicado na editoria Internacional do Correio Popular, em 3 de outubro de 1987).



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