Falta
sustentação para a presidente
Pedro
J. Bondaczuk
A
presidente filipina, Corazón Aquino, está cada vez mais acuada
entre os políticos e os militares. Os primeiros trazem à baila
meras questiunculas, simples briguinhas de comadres, enquanto os
grandes temas nacionais permanecem intactos, no aguardo de alguém de
boa vontade que se interesse por eles. Os homens fardados, por seu
turno (pelo menos parte considerável deles) perdem seu tempo
tramando golpes e rebeliões, abrindo espaço para a guerrilha
marxista, que há tempos aguarda uma oportunidade como esta. No meio
de tudo, está a chefe de governo que, a esta altura, foi relegada a
mera figura secundária da vida nacional, quando deveria ser a
principal.
Sob
as suas vistas, livremente, mensagens de discórdia e desunião são
espalhadas, aproveitando-se do caos social gerado por uma economia
estraçalhada, bombardeada e falida e, o que é pior, com uma dívida
de US$ 26 bilhões para pagar, sem que o país disponha sequer de
recursos para os juros. Camisetas estão sendo elaboradas, aos
milhares, trazendo estampadas frases como “votei em Cory e estou
arrependido”. Militares falam abertamente sobre golpe, marcando,
até mesmo, data para isso, indiferentes se a população deseja ou
não outra ditadura. “O que importa o povo das Filipinas?”,
parecem estar se perguntando, com a resposta (óbvia) engatilhada na
ponta da língua.
Os
jornais divulgam, fartamente, as exortações do líder golpista,
Gregório “Gringo” Honasan, indo até o seu refúgio para
entrevistá-lo. Todos parecem saber onde ele está, menos os que se
dizem interessados na sua prisão. A Casa Branca, quer na rebelião
de 28 de agosto passado manifestou, abertamente, a sua posição de
apoio à presidente, mantém um prudente silêncio agora,
equidistante dos acontecimentos. E Corazón Aquino parece, neste
momento, contar com respaldo, apenas, onde não lhe interessa em
sentido prático: na imprensa internacional. Porque em seu próprio
país se apresenta frágil e desprotegida, a despeito das declarações
tranquilizadoras do chefe das Forças Armadas, general Fidel Ramos,
que parece, também, estar perdendo a paciência. A prova disso foi a
declaração que deu ontem, chamando o governo às falas, para que
“governe” ao invés de participar dos “diz-que-diz-ques”
generalizados. Pela lógica, a deposição de Cory, portanto, pode
estar somente por um fio. Tomara que ele não se rompa, afinal.
(Artigo
publicado na editoria Internacional do Correio Popular, em 3 de
outubro de 1987).
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