Busca do ponto de equilíbrio
Pedro J. Bondaczuk
O poder
real de compra dos salários caiu, conforme vários estudos
existentes a respeito, em 35% ao longo de toda a década passada. Tal
queda, diz a lógica, constitui-se num dos fatores da presente crise
que o País atravessa, já que o mercado consumidor encolheu em
idênticas proporções.
As
empresas que conseguiram aproveitar a opção de exportar,
contornaram as suas dificuldades e, a despeito das sucessivas
mudanças de regra, por parte do governo, no andamento da economia,
até evoluíram. Muitas, entretanto, ficaram pelo caminho, tendo que
encerrar suas atividades, por ausência de compradores para seus
produtos, principalmente quando estes se incluíam na elástica
classificação de “supérfluos”.
Como
se observa, o achatamento salarial não é o melhor antídoto contra
as crises. Pelo contrário, ao invés de remédio, atua quase sempre
como veneno. Todavia é irreal e igualmente ilógico reivindicar-se
aumento real de salário sem o correspondente crescimento da
produtividade. Afinal, nada surge do nada.
Forma-se,
portanto, um círculo vicioso, que é preciso romper, para que se
possa sair do atoleiro. É necessário que se encontre um ponto de
equilíbrio, que satisfaça os dois lados da escala produtiva:
capital e trabalho, já que um não sobrevive sem o outro.
Esta
é a grande equação brasileira. O grande pecado dos planos de
reforma econômica implantados no Brasil é que todos eles foram
ditados de cima para baixo, nunca elaborados com a participação dos
principais interessados.
Desde
o final do regime militar, falou-se muito em pacto social. Muitas
reuniões entre as partes chegaram até a acontecer. Porém, bastou
que surgisse a primeira divergência para que tais conversações
caíssem num impasse e malograssem.
Cometer
um erro uma vez é admissível, afinal, nenhum ser humano, ou
instituição por ele criada, são perfeitos. Errar de novo, embora
deponha contra quem cometeu a falha, ainda se aceita, um tanto a
contragosto. Mas falhar constantemente, e sempre no mesmo ponto, é
absolutamente inaceitável.
Aliás,
há um provérbio árabe que até poderia caber nesse caso e que diz:
“Se um homem me enganar uma vez, Alá o amaldiçoe; se me enganar
duas vezes, Alá o amaldiçoe e a mim também; mas se me enganar três
vezes, Alá somente a mim amaldiçoe”.
O
impasse salarial, que estrangula os dois lados, só poderá ser
rompido mediante um acordo de cavalheiros entre as partes, com cada
um cedendo um pouco. Decisões unilaterais, congelando preços ou
achatando salários, só vão representar um adiamento do problema,
com os conseqüentes malefícios resultantes dessa falta de visão.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 28 de julho
de 1990).
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