Saturday, August 05, 2017

Busca do ponto de equilíbrio



Pedro J. Bondaczuk



O poder real de compra dos salários caiu, conforme vários estudos existentes a respeito, em 35% ao longo de toda a década passada. Tal queda, diz a lógica, constitui-se num dos fatores da presente crise que o País atravessa, já que o mercado consumidor encolheu em idênticas proporções.

As empresas que conseguiram aproveitar a opção de exportar, contornaram as suas dificuldades e, a despeito das sucessivas mudanças de regra, por parte do governo, no andamento da economia, até evoluíram. Muitas, entretanto, ficaram pelo caminho, tendo que encerrar suas atividades, por ausência de compradores para seus produtos, principalmente quando estes se incluíam na elástica classificação de “supérfluos”.

Como se observa, o achatamento salarial não é o melhor antídoto contra as crises. Pelo contrário, ao invés de remédio, atua quase sempre como veneno. Todavia é irreal e igualmente ilógico reivindicar-se aumento real de salário sem o correspondente crescimento da produtividade. Afinal, nada surge do nada.

Forma-se, portanto, um círculo vicioso, que é preciso romper, para que se possa sair do atoleiro. É necessário que se encontre um ponto de equilíbrio, que satisfaça os dois lados da escala produtiva: capital e trabalho, já que um não sobrevive sem o outro.

Esta é a grande equação brasileira. O grande pecado dos planos de reforma econômica implantados no Brasil é que todos eles foram ditados de cima para baixo, nunca elaborados com a participação dos principais interessados.

Desde o final do regime militar, falou-se muito em pacto social. Muitas reuniões entre as partes chegaram até a acontecer. Porém, bastou que surgisse a primeira divergência para que tais conversações caíssem num impasse e malograssem.

Cometer um erro uma vez é admissível, afinal, nenhum ser humano, ou instituição por ele criada, são perfeitos. Errar de novo, embora deponha contra quem cometeu a falha, ainda se aceita, um tanto a contragosto. Mas falhar constantemente, e sempre no mesmo ponto, é absolutamente inaceitável.

Aliás, há um provérbio árabe que até poderia caber nesse caso e que diz: “Se um homem me enganar uma vez, Alá o amaldiçoe; se me enganar duas vezes, Alá o amaldiçoe e a mim também; mas se me enganar três vezes, Alá somente a mim amaldiçoe”.

O impasse salarial, que estrangula os dois lados, só poderá ser rompido mediante um acordo de cavalheiros entre as partes, com cada um cedendo um pouco. Decisões unilaterais, congelando preços ou achatando salários, só vão representar um adiamento do problema, com os conseqüentes malefícios resultantes dessa falta de visão.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 28 de julho de 1990).



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