Thursday, August 03, 2017

Longo e árduo aprendizado

Pedro J. Bondaczuk

O processo de estruturação de uma nova Europa, livre e democratizada, sem barreiras ideológicas ou de qualquer outra natureza, será uma jornada longa e acidentada. O continente, no correr de toda a civilização, foi o grande palco das piores guerras travadas no Planeta. Entre elas, as duas de caráter mundial que se verificaram neste século. Colcha de retalhos de etnias, com línguas, costumes e tradições multivariados, o velho continente protagonizou, simultaneamente, o que há de melhor e o que existe de mais perverso na natureza humana no correr dos últimos sete milênios.

Portanto, ao contrário do que muita gente desavisada (e que desconheça a História e portanto não saiba das inúmeras implicações existentes por trás dos fatos) pensa, o simples fato do bloco do Leste europeu ter se livrado do comunismo não é uma salvaguarda, uma garantia de que doravante vá imperar a páz na região.

Pode, até m,esmo, ocorrer o contrário. Bem ou mal, várias federações artificiais, compostas por etnias diversas, permaneceram incólumes nos 45 anos do pós-guerra. Entre estas, os casos que mais ressaltam são os da Checoslováquia e Iugoslávia, para não mencionar a União Soviética. Agora, no entanto, com os “ventos democratizantes”, ressurgem os movimentos nacionalistas de variadas espécies. Além dos povos bálticos, dos moldávios e dos azerbaijenses, que já manifestaram intenção secessionista na superpotência do Leste,. Sérvios e albaneses preocupam os líderes da federação iugoslava com o seu separatismo e os eslovacos acusam os checos de tentarem diminuir a sua importância na união checoslovaca.

Ademais, os ex-satélites da União Soviética, que permaneceram por tantos anos privados do direito do exercício político (na real significação do termo) têm pela frente um longo e penoso aprendizado. Por exemplo, estão aprendendo, apenas agora, que a democracia é um sistema repleto de tensões, cujos excessos precisam ser contidos, mas nos limites da lei, para que não se descambe para a tirania. Os que estão perdendo eleições, desconhecem a maneira de se fazer oposição, já que ao longo do regime comunista, isto era considerado crime contra o Estado e custava anos de cadeia, quando não terminava em manicômios.

A situação no Leste europeu, portanto, ao invés de ter adquirido estabilidade, com a onda reformista que varreu a região, permanece precariamente equilibrada numa frágil corda bamba, dando margem a aventureirismos políticos e a confrontos étnicos. O perigo é que haja vácuo no poder que, em geral, resulta em ditaduras. E delas, certamente, esta parte da Europa está para lá de farta.


(Artigo publicado na editoria Internacional, do Correio Popular, em 8 de junho de 1990).

Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk             

No comments: