Longo
e árduo aprendizado
Pedro
J. Bondaczuk
O
processo de estruturação de uma nova Europa, livre e democratizada,
sem barreiras ideológicas ou de qualquer outra natureza, será uma
jornada longa e acidentada. O continente, no correr de toda a
civilização, foi o grande palco das piores guerras travadas no
Planeta. Entre elas, as duas de caráter mundial que se verificaram
neste século. Colcha de retalhos de etnias, com línguas, costumes e
tradições multivariados, o velho continente protagonizou,
simultaneamente, o que há de melhor e o que existe de mais perverso
na natureza humana no correr dos últimos sete milênios.
Portanto,
ao contrário do que muita gente desavisada (e que desconheça a
História e portanto não saiba das inúmeras implicações
existentes por trás dos fatos) pensa, o simples fato do bloco do
Leste europeu ter se livrado do comunismo não é uma salvaguarda,
uma garantia de que doravante vá imperar a páz na região.
Pode,
até m,esmo, ocorrer o contrário. Bem ou mal, várias federações
artificiais, compostas por etnias diversas, permaneceram incólumes
nos 45 anos do pós-guerra. Entre estas, os casos que mais ressaltam
são os da Checoslováquia e Iugoslávia, para não mencionar a União
Soviética. Agora, no entanto, com os “ventos democratizantes”,
ressurgem os movimentos nacionalistas de variadas espécies. Além
dos povos bálticos, dos moldávios e dos azerbaijenses, que já
manifestaram intenção secessionista na superpotência do Leste,.
Sérvios e albaneses preocupam os líderes da federação iugoslava
com o seu separatismo e os eslovacos acusam os checos de tentarem
diminuir a sua importância na união checoslovaca.
Ademais,
os ex-satélites da União Soviética, que permaneceram por tantos
anos privados do direito do exercício político (na real
significação do termo) têm pela frente um longo e penoso
aprendizado. Por exemplo, estão aprendendo, apenas agora, que a
democracia é um sistema repleto de tensões, cujos excessos precisam
ser contidos, mas nos limites da lei, para que não se descambe para
a tirania. Os que estão perdendo eleições, desconhecem a maneira
de se fazer oposição, já que ao longo do regime comunista, isto
era considerado crime contra o Estado e custava anos de cadeia,
quando não terminava em manicômios.
A
situação no Leste europeu, portanto, ao invés de ter adquirido
estabilidade, com a onda reformista que varreu a região, permanece
precariamente equilibrada numa frágil corda bamba, dando margem a
aventureirismos políticos e a confrontos étnicos. O perigo é que
haja vácuo no poder que, em geral, resulta em ditaduras. E delas,
certamente, esta parte da Europa está para lá de farta.
(Artigo
publicado na editoria Internacional, do Correio Popular, em 8 de
junho de 1990).
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