Melhor é agir e se arrepender
Pedro J. Bondaczuk
“Ah! Se arrependimento matasse!”. Quem nunca fez, ou pelo menos
nunca pensou em fazer, esse tipo de desabafo? Quem jamais se
arrependeu de coisa alguma? Alguns, até, podem afirmar que não se
arrependem de nenhum ato que praticaram, que se pudessem retroceder
no tempo e começar a vida do princípio, fariam tudo o que já
fizeram da mesmíssima maneira, sem alterar nada. Estão mentindo,
claro. Ou, se não estiverem, sequer se conhecem direito.
Arrependimentos temos, e em profusão, quase que diariamente. Até os
santos (claro, se ainda existir algum) arrependem-se de alguma coisa
que fizeram ou deixaram de fazer. Porquanto arrependemo-nos tanto de
ter feito o que não deveríamos (e que nos trouxe resultados
nefastos, quando não desastrosos) quanto de não haver agido em
momentos que exigiam ação. Aliás, estes últimos, suspeito, são
em muito maior quantidade e mais incômodos.
Por que, por exemplo, não buscamos reconciliação, quando isso
ainda era possível, com a pessoa amada, após uma das tantas
briguinhas conjugais, tão comuns entre casais que se amam (e que são
até mesmo necessárias para esclarecer determinadas pendências),
deixando que uma barreira de ressentimentos e mágoas ofuscasse, e
depois matasse, o amor?
Trata-se, como se vê, de arrependimento de desastrosa omissão,
determinada, quase sempre, por um orgulho tolo e sem sentido, apenas
para “não dar o braço a torcer”. Ou seja, apostou-se tanto em
tão pouco. E isso, convenhamos, é extremamente comum e corriqueiro.
Muitos, muitíssimos já se arrependeram disso. Talvez nunca admitam
para ninguém, nem para si mesmos, mas que tiveram esse
arrependimento, ah, isso tiveram! A menos que não gostassem, de
fato, da pessoa a quem juravam amor. Mas se gostavam…
O que levou, por exemplo, determinada pessoa a reagir violentamente a
uma reprimenda do pai, deixando sua casa e nunca mais voltando a
falar com ele? Será que quem agiu dessa forma nunca se arrependeu
desse tipo de atitude? Nunca sentiu falta dos conselhos e da
orientação desse alguém que tanto se importava com seu presente e
seu futuro? Nunca pensou em retribuir, mesmo que minimamente, o que
esse benfeitor lhe fez? Que benefício sua atitude intempestiva
trouxe e para quem? Há casos e mais casos desse tipo, ditados,
apenas, e tão somente, por um orgulho tolo e inútil, gerando
sofrimento, dor e solidão.
Será que há alguém que nunca se arrependeu de oportunidades
perdidas? Que não lamente haver aberto mão de empregos
compensadores, apenas por causa de algum chefe chato ou por não
querer se enquadrar nas normas de disciplina da empresa? Que não
tenha comido o pão que o diabo amassou só por não ser
perseverante, autodisciplinado e aplicado no que sabia fazer bem?
Conheço casos e mais casos assim. Sei de carreiras potencialmente
brilhantes, interrompidas, abruptamente, em decorrência de atos
impensados. Se quem agiu dessa forma se arrependesse em tempo e
tentasse consertar a bobagem que fez, é provável que tudo seria
esclarecido e a vida seguiria seu curso. Mas não o fez no devido
tempo. E quando se arrependeu... já era tarde, muito tarde.
Não há, por outro lado, ninguém que tenha se arrependido de
determinada opção, que tinha todas as evidências de fracasso, e
que, por teimosia, decidiu, mesmo assim, fazer, à revelia de
conselhos, alertas e admoestações, contrariando tudo e todos?
Ninguém nunca se arrependeu, por exemplo, de haver adquirido
determinado vício, do qual não consegue se livrar e que transforma
sua vida em sucursal do inferno? Ou de haver abraçado certa causa,
claramente nociva, apenas para mostrar suicida espírito de rebeldia?
“Ah! Se arrependimento matasse!”. O melhor, óbvio, seria viver
de tal sorte, com tamanha prudência, sabedoria e correção, que
nunca existisse a menor necessidade de se arrepender do que quer que
fosse. Mas isso é possível? Talvez o seja, por um certo tempo.
Contudo, por todo o tempo... tenho minhas dúvidas.
Os piores arrependimentos talvez sejam em relação ao que poderíamos
ter feito e não fizemos. Não sei se existe alguma escala de
excelência nessa questão. Talvez não haja. Todavia, a menos que se
tenha cometido algum crime, pelo qual seja necessário pagar o devido
preço, concordo com o escritor italiano Giovanni Boccaccio, autor do
tão conhecido “Decamerão”, quando afirmou que “mais vale
agir na disposição de nos arrependermos do que nos arrependermos de
nada termos feito”.
A omissão, ah, a omissão! Que tremendo pecado mortal é esse, em
relação ao mundo e a nós mesmos! Esse impõe arrependimentos,
mesmo que tardios, “ad aeternum”!! E o pior é que, se arrepender
nessas circunstâncias, jamais remediará o pecado de não se ter
agido quando se poderia e deveria agir!
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk.
No comments:
Post a Comment