Thursday, March 16, 2017

O vírus do ágio


Pedro J. Bondaczuk


O vírus que contaminou o Plano Cruzado, em 1986, e o levou ao fracasso, volta a se manifestar agora: o ágio. Desta vez, o sobrepreço cobrado é menos perigoso do que há quatro anos, por não afetar produtos essenciais e o governo conta com o "antídoto" da redução das alíquotas de importação, em sua tentativa de equilibrar oferta e procura no mercado.

O leigo em economia, diante dessa informação, pergunta, sem entender o comportamento do consumidor: O que leva algumas pessoas a pagar até 70% do preço de tabela para adquirir um carro popular? Por que tanta urgência em comprar um veículo novo, com tamanha volúpia, em condições adversas? O que há por trás da corrida por esse bem, com aparente prejuízo para os que se dispõem a pagar ágio?

Seria uma questão de "status"? Seria "negócio"? Seria uma forma de investir dinheiro para ficar livre de uma eventual corrosão inflacionária caso a inflação volte a crescer, passadas as eleições? É improvável. Até agora, ninguém soube dar respostas convincentes para explicar esse comportamento.

Uma coisa parece bastante clara: a estratégia recessiva, adotada por sucessivos governos, conseguiu apenas deter o desenvolvimento do País. Sucateou nossas indústrias. Trouxe, por conseqüência, enormes prejuízos econômicos e autêntico desastre social.

Chegamos ao ponto de nosso parque produtivo ser incapaz de atender eventuais aumentos de demanda, por mínimos que sejam. Basta que o poder aquisitivo do cidadão, que a massa salarial, aumente discretamente, para que a população se veja ameaçada pelo desabastecimento.

Entre as alternativas adotadas nos últimos anos para se evitar a carência de produtos, a que se esboça agora, de escancarar nosso mercado aos importados, nos parece a menos adequada.

O melhor caminho para o incremento da produção seria o decidido apoio às micros, pequenas e médias empresas nacionais. Redução da carga tributária, facilidade de acesso ao crédito, juros compatíveis com as taxas praticadas no Exterior, orientação técnica e gerencial são algumas das necessidades que deveriam ser atendidas, para que as pessoas empreendedoras e dinâmicas, que se dispõem a tocar, com todos os riscos inerentes, seus próprios negócios, tivessem condições não apenas de garantir a sobrevivência de seus empreendimentos, mas conseguir sua expansão.

Falta o quê para a aplicação dessa estratégia? Competência do governo? Vontade política? Visão econômica? São as perguntas que os que confiam no talento e criatividade do microempresário brasileiro fazem a todo o instante, sem que ainda tenham obtido uma resposta convincente.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 21 de setembro de 1994).


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