O vírus do ágio
Pedro J. Bondaczuk
O
vírus que contaminou o Plano Cruzado, em 1986, e o levou ao fracasso, volta a
se manifestar agora: o ágio. Desta vez, o sobrepreço cobrado é menos perigoso
do que há quatro anos, por não afetar produtos essenciais e o governo conta com
o "antídoto" da redução das alíquotas de importação, em sua tentativa
de equilibrar oferta e procura no mercado.
O
leigo em economia, diante dessa informação, pergunta, sem entender o
comportamento do consumidor: O que leva algumas pessoas a pagar até 70% do
preço de tabela para adquirir um carro popular? Por que tanta urgência em
comprar um veículo novo, com tamanha volúpia, em condições adversas? O que há
por trás da corrida por esse bem, com aparente prejuízo para os que se dispõem a
pagar ágio?
Seria
uma questão de "status"? Seria "negócio"? Seria uma forma
de investir dinheiro para ficar livre de uma eventual corrosão inflacionária
caso a inflação volte a crescer, passadas as eleições? É improvável. Até agora,
ninguém soube dar respostas convincentes para explicar esse comportamento.
Uma
coisa parece bastante clara: a estratégia recessiva, adotada por sucessivos
governos, conseguiu apenas deter o desenvolvimento do País. Sucateou nossas
indústrias. Trouxe, por conseqüência, enormes prejuízos econômicos e autêntico
desastre social.
Chegamos
ao ponto de nosso parque produtivo ser incapaz de atender eventuais aumentos de
demanda, por mínimos que sejam. Basta que o poder aquisitivo do cidadão, que a
massa salarial, aumente discretamente, para que a população se veja ameaçada
pelo desabastecimento.
Entre
as alternativas adotadas nos últimos anos para se evitar a carência de
produtos, a que se esboça agora, de escancarar nosso mercado aos importados,
nos parece a menos adequada.
O
melhor caminho para o incremento da produção seria o decidido apoio às micros,
pequenas e médias empresas nacionais. Redução da carga tributária, facilidade
de acesso ao crédito, juros compatíveis com as taxas praticadas no Exterior,
orientação técnica e gerencial são algumas das necessidades que deveriam ser
atendidas, para que as pessoas empreendedoras e dinâmicas, que se dispõem a
tocar, com todos os riscos inerentes, seus próprios negócios, tivessem
condições não apenas de garantir a sobrevivência de seus empreendimentos, mas
conseguir sua expansão.
Falta
o quê para a aplicação dessa estratégia? Competência do governo? Vontade
política? Visão econômica? São as perguntas que os que confiam no talento e
criatividade do microempresário brasileiro fazem a todo o instante, sem que
ainda tenham obtido uma resposta convincente.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 21 de setembro de 1994).
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