Toque de ousadia
Pedro J. Bondaczuk
O
presidente do Banco Central, Pedro Malan, em recente entrevista, colocou o
"dedo na ferida", ao dizer que a sociedade brasileira deve fazer uma
aposta de que é possível se livrar "do vício da cocaína da
indexação". Esta, se em determinado momento atuou como antídoto contra
taxas absurdas de inflação mensal, acabou viciando a economia.
O
funcionário, economista experiente, que foi o negociador da dívida externa do
País e teve êxito nessa tarefa, admitiu que o "tratamento é longo".
Portanto, não será fácil se livrar desta mentalidade, até porque há setores que
ainda têm sérias dúvidas quanto à eficácia do Plano Real.
Outro
ponto que nos chamou a atenção foi quando Malan pediu à população crédito e
paciência, mas desafiou os brasileiros a terem "ousadia". Sem esta
característica, convenhamos, é impossível de se construir qualquer coisa.
Segurança
absoluta não existe em nada, nem em economia e muito menos na vida. Só se torna
vencedor aquele que não tem medo de perder e que jamais aceita a derrota
definitiva. Aquele que tem garra para se reerguer e recomeçar, se preciso do
"ponto zero".
O
norte-americano tem uma postura que gostaríamos de ver implantada no Brasil. Ou
seja, a do "self made man", o homem que se faz sozinho, praticamente
do nada. Nossa cultura não costuma exaltar os bem sucedidos, que se tornaram
vencedores contando apenas com o próprio talento, audácia e determinação.
E
temos inúmeros exemplos de brasileiros que conseguiram chegar ao "topo do
mundo" sem recorrer a trapaças ou a qualquer espécie de expediente
condenável. Nos Estados Unidos, tais pessoas serviriam de tema para livros,
filmes, etc. Seu exemplo seria mostrado e repetido nas escolas, para despertar
na juventude a gana de vencer. E por aqui?
Parte
da população acostumou-se com o "paternalismo" dos governos,
condenado em palavras, mas procurado em ações. Afinal, foram os tecnocratas que
administraram nossa economia que "viciaram" a população "com a
cocaína da indexação".
Concordamos
com Pedro Malan quando diz que este é o momento adequado para que nos livremos
desse vício. "É uma aposta que a sociedade brasileira está pronta a
ganhar". E está mesmo. Basta que deixe de lado o comodismo, que ponha a
cabeça a funcionar e aplique a pitada de ousadia indispensável às pessoas e aos
povos que são vencedores.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 10 de julho de 1994).
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