Sunday, March 12, 2017

Toque de ousadia


Pedro J. Bondaczuk


O presidente do Banco Central, Pedro Malan, em recente entrevista, colocou o "dedo na ferida", ao dizer que a sociedade brasileira deve fazer uma aposta de que é possível se livrar "do vício da cocaína da indexação". Esta, se em determinado momento atuou como antídoto contra taxas absurdas de inflação mensal, acabou viciando a economia.

O funcionário, economista experiente, que foi o negociador da dívida externa do País e teve êxito nessa tarefa, admitiu que o "tratamento é longo". Portanto, não será fácil se livrar desta mentalidade, até porque há setores que ainda têm sérias dúvidas quanto à eficácia do Plano Real.

Outro ponto que nos chamou a atenção foi quando Malan pediu à população crédito e paciência, mas desafiou os brasileiros a terem "ousadia". Sem esta característica, convenhamos, é impossível de se construir qualquer coisa.

Segurança absoluta não existe em nada, nem em economia e muito menos na vida. Só se torna vencedor aquele que não tem medo de perder e que jamais aceita a derrota definitiva. Aquele que tem garra para se reerguer e recomeçar, se preciso do "ponto zero".

O norte-americano tem uma postura que gostaríamos de ver implantada no Brasil. Ou seja, a do "self made man", o homem que se faz sozinho, praticamente do nada. Nossa cultura não costuma exaltar os bem sucedidos, que se tornaram vencedores contando apenas com o próprio talento, audácia e determinação.

E temos inúmeros exemplos de brasileiros que conseguiram chegar ao "topo do mundo" sem recorrer a trapaças ou a qualquer espécie de expediente condenável. Nos Estados Unidos, tais pessoas serviriam de tema para livros, filmes, etc. Seu exemplo seria mostrado e repetido nas escolas, para despertar na juventude a gana de vencer. E por aqui?

Parte da população acostumou-se com o "paternalismo" dos governos, condenado em palavras, mas procurado em ações. Afinal, foram os tecnocratas que administraram nossa economia que "viciaram" a população "com a cocaína da indexação".

Concordamos com Pedro Malan quando diz que este é o momento adequado para que nos livremos desse vício. "É uma aposta que a sociedade brasileira está pronta a ganhar". E está mesmo. Basta que deixe de lado o comodismo, que ponha a cabeça a funcionar e aplique a pitada de ousadia indispensável às pessoas e aos povos que são vencedores.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 10 de julho de 1994).


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