Carnaval e Literatura
Pedro
J. Bondaczuk
A quantidade de livros,
de escritores brasileiros, tendo por tema o Carnaval, causou-me grande
surpresa. Não achava que havia tantos! Não deveria me surpreender, mas
surpreendeu. Bastava que eu atentasse para alguns aspectos óbvios para não
ficar tão surpreso. Afinal, ao lado do futebol, essa festa popular, tão
combatida por alguns moralistas de plantão, não raro com razão por causa
determinados aspectos negativos que tem (violência, licenciosidade etc.etc.etc.),
mas abraçada por milhões, é, sem dúvida, uma das grandes paixões nacionais. E
antecede em séculos à introdução do também apaixonante esporte bretão em nosso
País. A forma como o brasileiro festeja o Carnaval é peculiar, já que esta
festa pagã ocorre não somente nesta terra descoberta por Cabral, mas em várias
outras partes do mundo, embora em nenhuma com a mesma paixão demonstrada por
nós.
Eu estava ensaiando
escrever uma crônica, com ostensivas críticas aos escritores brasileiros, por
explorarem tão pouco esse tema, por se tratar de uma das principais, se não a
principal manifestação cultural brasileira. Por desencargo da consciência, como
sempre faço antes de criticar o que quer que seja, resolvi fazer uma breve
pesquisa, para ver se tinha razão e se minha impressão era a correta. Não era!
Em primeiro lugar, decidi dar uma olhada na estante da minha própria
biblioteca. E, de cara, topei com dezenas de livros sobre o Carnaval,
praticamente de todos os gêneros, de romance à poesia e de escritores consagradíssimos.
Fiquei a princípio surpreso, por assim dizer, boquiaberto e na sequência fiquei
constrangido com a minha falta de atenção em relação ao que leio. É certo que
minha leitura é copiosa e variada e não raro perfaz uma média de três livros
por semana. Mas... isso não justifica o fato de não haver atentado como deveria
para os temas abordados nos livros que leio.
Em princípio, julgando
tratar-se apenas de uma coincidência o fato de ter em minha biblioteca tantas
obras literárias tratando do Carnaval, resolvi consultar escritores amigos. E
não tardou para eu receber por e-mail muitas e vastas listagens elencando obras
tratando dessa festa popular. Ainda bem que antes de redigir a tal planejada
crônica, resolvi checar se estava certo sobre minha impressão inicial ao me
propor a escrever a respeito. Escapei de cair em ridículo por muito pouco.
Poderia, é verdade, não lhes revelar nada disso e simplesmente abordar a
fartura de livros na nossa literatura tratando de Carnaval, como se fosse o
maior “expert” no assunto. Porém, por uma questão de honestidade intelectual,
faço esse “mea culpa” público, até porque, assim como eu, muitos intelectuais
têm a mesma impressão que eu tinha antes de empreender minha pesquisa. Esta
confissão, esclareço, não se trata de nenhum autolinchamento, mas de um alerta,
tanto para mim mesmo quanto para terceiros, sobre a necessidade de sempre se
apurar a veracidade daquilo sobre o que se vai escrever e, sobretudo, criticar.
Eu poderia citar, no
mínimo, por baixo, uma centena de livros (e muito bons), tratando
especificamente de Carnaval (e, reitero, de todos os gêneros), mas não o farei.
Para não passar por mentiroso, todavia, relaciono, abaixo, alguns deles, na
verdade dez, especificamente os volumes que tenho em minha biblioteca e que,
portanto, já li (alguns com várias releituras) e dos quais não me lembrava, até
me dar o trabalho de conferir. Não comentarei nenhum deles (não, pelo menos,
hoje, embora talvez o faça oportunamente), pelo fato deste espaço não comportar
tais comentários. Vamos, pois, ao meu seleto “top 10”:
NÚMERO 1 – “O país do
carnaval” – Jorge Amado, romance, Companhia das Letras, 1931.
NÚMERO DOIS: “Orfeu da
Conceição” – Vinícius de Moraes – tragédia carioca baseada no mito de Orfeu,
Com´panhia de Bolso, 2013.
NÚMERO TRÊS – “Carnaval
no fogo” – Ruy Castro, apaixonada crônica sobre a vida no Rio de Janeiro,
Companhia das Letras, 2000.
NÚMERO QUATRO – “Antes
do baile verde” – Lygia Fagundes Telles, narrativas escritas ao longo de vinte
anos (entre 1949 e 1969), Companhia das Letras, 2009.
NÚMERO CINCO –
“Carnaval” – João Gabriel de Lima, romance, Editora Objetiva, 2006.
NÚMERO SEIS – “Carnaval
de poesias”, Sérgio Gramático Junior, poesia, Editora Multifoco, 2010.
NÚMERO SETE – “Este
mundo é um pandeiro – a chanchada de Getúlio a JK” – Augusto Sérgio, história
das comédias cinematográficas de Carnaval produzidas no Rio de Janeiro,
Companhia das Letras, 1989.
NÚMERO OITO – “O
Carnaval dos animais” – Moacyr Scliar, contos, Editora Ediouro, 1968.
NÚMERO NOVE: “Carnaval
brasileiro: o vivido e o mito” – Maria Isaura Pereira de Queiroz, pesquisa
sociológica, Editora Brasiliense, 1993.
NÚMERO DEZ – “Na
passarela do samba: o esplendor das escolas em 30 anos de desfiles de Carnaval
no Sambódromo” – André Diniz da Silva e Diogo Cunha, história, Casa da Palavra,
2016.
Poderia citar dezenas,
centenas de outros livros, alguns dos quais eu não tenho (mas que espero logo
ter), como “O dia em que adiaram o carnaval”, de Luis Claudio Villafañe G.
Santos; “O carnaval do jabuti”, de Walmir Ayala; “Aula de carnaval e outros
poemas”, de Ricardo Azevedo; “Arlequim de carnaval”, de Ronaldo Correia de
Brito; “Foi no carnaval que passou”, de Gustavo Malheiros e “Antologia de
carnaval”, organizada por Wilson Louzada, entre tantos, e tantos e tantos
outros. Cito, por fim, o livro “Passarela de sonhos”, de contos, todos de minha
autoria. Este, porém, você, paciente leitor, não poderá ler, a menos que alguma
editora se interesse por sua publicação. Até aqui, nenhuma se interessou (ainda).
Ele permanece, portanto, inédito, ao alcance, somente, dos amigos mais íntimos
e, claro, dos parentes que (ou se) o quiserem ler. Quem sabe algum dia...
poderei anunciá-lo como meu novo lançamento! Quem sabe...
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