Sunday, March 26, 2017

Falência da reputação


Pedro J. Bondaczuk


"A política é quase tão excitante quanto a guerra e tão perigosa quanto ela. A diferença é que, na guerra, você só morre uma vez". Estas palavras constam das memórias de um dos homens públicos mais brilhantes e competentes deste século, o primeiro-ministro britânico, Winston Churchill.

Vêm bem a calhar para os parlamentares brasileiros envolvidos no escândalo do Orçamento da União e para os que, por uma questão de corporativismo ou por outro motivo qualquer, deixarem esses infratores da ética e das leis impunes, como parece provável de acontecer.

Tão logo o caso veio à tona, em outubro do ano passado, com as denúncias do ex-assessor do Senado José Carlos Alves dos Santos, houve uma gritaria geral na imprensa, nas ruas, por intermédio de toda a sociedade, com reações de indignação generalizadas, algumas genuínas, outras nem tanto.

Durante meses seguidos, o tema freqüentou as manchetes dos jornais e mereceu quilômetros de laudas e editoriais e artigos os mais diversos, todos exigindo apuração e punição exemplar para os culpados.

Os trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito, que investigou os atos de rapina e furto do patrimônio público, se desenvolveram sob as luzes dos refletores e os membros da CPI ocuparam um espaço na mídia que jamais imaginaram, mesmo em seus mais delirantes sonhos, que viriam a obter.

Concluídas as apurações, feito e aprovado o relatório, a bulha, repentinamente, cessou. Aos poucos, o assunto foi perdendo o interesse, minguando no noticiário, desaparecendo das páginas de opinião, como se tudo estivesse resolvido. Apenas o jogo de cena bastou para saciar a fome de escândalos de parte considerável da sociedade.

O processo está emperrado na Comissão de Justiça da Câmara. Nenhum dos citados no relatório da CPI foi cassado. Ninguém devolveu o que surrupiou aos cofres públicos. Pelo contrário, os diretamente envolvidos na vergonhosa negociata participam (e quiçá influam) na revisão constitucional.

A opinião pública vai deixar que tudo termine em "pizza"? O tema, não tenham dúvidas, será exaustivamente explorado em palanque pelos partidos que não tiveram deputados envolvidos no escândalo. E com razão. Dessa forma, esperamos, os reconhecidamente corruptos, e os que os acobertam, terão um tipo de "morte súbita": a falência da reputação. Repousem em paz!

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 12 de março de 1994).


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