Falência da reputação
Pedro J. Bondaczuk
"A
política é quase tão excitante quanto a guerra e tão perigosa quanto ela. A
diferença é que, na guerra, você só morre uma vez". Estas palavras constam
das memórias de um dos homens públicos mais brilhantes e competentes deste
século, o primeiro-ministro britânico, Winston Churchill.
Vêm
bem a calhar para os parlamentares brasileiros envolvidos no escândalo do
Orçamento da União e para os que, por uma questão de corporativismo ou por
outro motivo qualquer, deixarem esses infratores da ética e das leis impunes,
como parece provável de acontecer.
Tão
logo o caso veio à tona, em outubro do ano passado, com as denúncias do
ex-assessor do Senado José Carlos Alves dos Santos, houve uma gritaria geral na
imprensa, nas ruas, por intermédio de toda a sociedade, com reações de
indignação generalizadas, algumas genuínas, outras nem tanto.
Durante
meses seguidos, o tema freqüentou as manchetes dos jornais e mereceu
quilômetros de laudas e editoriais e artigos os mais diversos, todos exigindo
apuração e punição exemplar para os culpados.
Os
trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito, que investigou os atos de
rapina e furto do patrimônio público, se desenvolveram sob as luzes dos
refletores e os membros da CPI ocuparam um espaço na mídia que jamais
imaginaram, mesmo em seus mais delirantes sonhos, que viriam a obter.
Concluídas
as apurações, feito e aprovado o relatório, a bulha, repentinamente, cessou.
Aos poucos, o assunto foi perdendo o interesse, minguando no noticiário,
desaparecendo das páginas de opinião, como se tudo estivesse resolvido. Apenas
o jogo de cena bastou para saciar a fome de escândalos de parte considerável da
sociedade.
O
processo está emperrado na Comissão de Justiça da Câmara. Nenhum dos citados no
relatório da CPI foi cassado. Ninguém devolveu o que surrupiou aos cofres
públicos. Pelo contrário, os diretamente envolvidos na vergonhosa negociata
participam (e quiçá influam) na revisão constitucional.
A
opinião pública vai deixar que tudo termine em "pizza"? O tema, não
tenham dúvidas, será exaustivamente explorado em palanque pelos partidos que
não tiveram deputados envolvidos no escândalo. E com razão. Dessa forma,
esperamos, os reconhecidamente corruptos, e os que os acobertam, terão um tipo
de "morte súbita": a falência da reputação. Repousem em paz!
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 12 de março de 1994).
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