Friday, March 10, 2017

Um caso de amor “crônico”


Pedro J. Bondaczuk


Os críticos literários (pelo menos boa parte deles) classificam a crônica (no meu modo de ver, de forma afoita e equivocada) de “gênero menor” da literatura. Há os que entendem que nem literários esses tipos de texto são e que se tratam, “apenas”, de uma atividade “meramente jornalística” e dizem isso de forma arrogante e pedante (como se jornalismo fosse mera banalidade e não tivesse nenhuma importância). E há mais uma infinidade de bobagens e de equívocos dessa espécie que se diz e se escreve por aí.

Sou suspeito para escrever a respeito, pois sou cronista (por opção e convicção) há já longos vinte anos (ou quase isso). E apesar dos temas aparentemente banais que trato e da linguagem coloquial que utilizo, acredito, piamente, estar dando (posto que ínfima) minha contribuição às letras nacionais. Estaria enganado? Já cheguei a pensar que sim. Mudei, todavia, de idéia, depois da leitura do instigante livro “Crônico – Uma aventura diária – Nas esquinas do Rio”, do jornalista e escritor (e vice-versa) Luís Peazê, lançado, em fins de 2006, pela Imago Editora, porém atualíssimo, mais do que nunca.

Mesmo sem conhecê-lo pessoalmente, tenho inúmeras afinidades com o autor. Por exemplo: somos conterrâneos, embora eu tenha nascido na região das Missões, no Rio Grande do Sul, na pequenina, mas célebre, Horizontina (terra natal de personalidades como Gisele Bündtchen, Xuxa, Taffarel, Danrlei e outros quetais) e ele em Canoas, na Grande Porto Alegre.

Sou admirador incondicional de Ernest Hemmingway (que alguns “idiotas da objetividade” tiveram o desplante de classificar de “canastrão”) e ele é seu tradutor, pelo menos do seu romance “Por quem os sinos dobram”, hoje um clássico da contemporânea literatura norte-americana. Mas a nossa afinidade maior é a paixão que ambos nutrimos pelo gênero crônica (que nada tem de pequeno ou de banal, faço questão de reiterar e de enfatizar).

Pelo que tive a oportunidade de saber, a vida de Luís Cláudio Peazê da Silva rivaliza com a sua obra, em termos de criatividade, movimento e interesse. Espírito inquieto, esse meu ilustre conterrâneo já fez um pouco de tudo. Foi, por exemplo, entre outras coisas, jogador de futebol profissional, analista de sistemas, administrador de empresas, publicitário e empresário, sendo que exerceu esta última atividade nos Estados Unidos, na Austrália e no Brasil. Como se vê, experiência de vida é o que não lhe falta, embora sequer tenha completado sessenta anos (que completará em 2018).

Para a nossa felicidade, porém, e de todos os que gostam de ler textos inteligentes, instigantes, polêmicos e criativos, Peazê decidiu, em 1998, dedicar tempo integral à literatura. Além do já citado “Crônico – Uma aventura diária – Nas esquinas do Rio”, escreveu, ainda, “Alvídia, um horizonte a mais”, livro de aventura, lançado no ano 2000 pela Stylita Editora; “O I Simpósio do Semblante Nacional”, uma inteligente sátira, publicado, igualmente, em 2000 pela Quartet Editora em co-edição com a Stylita, o romance de mistério e aventura “O punhal de pedra”, dado a lume em 2001 pela Quartet Editora e é co-autor de “O elo perdido da Medicina”, junto com o Dr. Eduardo Almeida, entre outras obras.

Como não quero ser estraga-prazer de ninguém, não vou antecipar do que trata o lançamento, de 2006, de Luís Peazê, que tenho em mãos. Nem esse é o objetivo desta minha um tanto desconjuntada crônica. Minha intenção é partilhar o entusiasmo que esse jornalista e escritor (e vice-versa) me despertou. Tanto, que já publiquei, nos espaços que disponho na internet, dois textos dele e espero que não fique só nisso. Não ficará

Para não deixar o leitor totalmente na mão, todavia, dou uma palhinha e antecipo algumas informações com que Peazê nos brinda no “Crônico”. Revela-nos, por exemplo, que “o homem escreve e lê crônicas desde o início do mundo”. E fundamenta essa revelação. Essa, com certeza, você não sabia! Mais: situa o primeiro texto do gênero na Mesopotâmia, por volta do ano 3000 a.C. Informa que os primórdios da crônica jornalística se situam no século XVIII, na Inglaterra (o que desmente o que sempre se propalou por aí, de que ela seria fruto do jornalismo brasileiro). Além disso, o livro reúne várias curiosidades, que são imperdíveis. Traz, também, uma coletânea comemorativa de “Nas esquinas do Rio”, que Peazê assinou na imprensa. E, para culminar, há três crônicas inéditas dele, que deveriam ser contos, reunidas em “O Diálogo” de Veríssimo pai com Veríssimo filho (ambos, por sinal, nossos conterrâneos).

Você quer saber mais sobre o conteúdo do livro? Ora, compre um exemplar! Ainda dá tempo. Com certeza, estará enriquecendo a sua cultura e sua biblioteca, além de desfazer equívocos a respeito deste gênero literário. Eu nunca acreditei no que escreveram os detratores (provavelmente não intencionais) da crônica. Aliás, tão logo terminei a leitura do livro do meu ilustre conterrâneo e colega de profissão, me surpreendi, murmurando, entredentes, aos meus botões: “Gênero menor uma ova!”. Não admito que ninguém diminua esta “aventura diária” que Peazê e eu empreendemos, há já anos e mais anos, ele, claro, com talento infinitamente maior do que o meu!


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