Um caso de amor “crônico”
Pedro J. Bondaczuk
Os críticos literários (pelo
menos boa parte deles) classificam a crônica (no meu modo de ver, de forma
afoita e equivocada) de “gênero menor” da literatura. Há os que entendem que
nem literários esses tipos de texto são e que se tratam, “apenas”, de uma
atividade “meramente jornalística” e dizem isso de forma arrogante e pedante
(como se jornalismo fosse mera banalidade e não tivesse nenhuma importância). E
há mais uma infinidade de bobagens e de equívocos dessa espécie que se diz e se
escreve por aí.
Sou suspeito para escrever a
respeito, pois sou cronista (por opção e convicção) há já longos vinte anos (ou
quase isso). E apesar dos temas aparentemente banais que trato e da linguagem
coloquial que utilizo, acredito, piamente, estar dando (posto que ínfima) minha
contribuição às letras nacionais. Estaria enganado? Já cheguei a pensar que
sim. Mudei, todavia, de idéia, depois da leitura do instigante livro “Crônico –
Uma aventura diária – Nas esquinas do Rio”, do jornalista e escritor (e
vice-versa) Luís Peazê, lançado, em fins de 2006, pela Imago Editora, porém
atualíssimo, mais do que nunca.
Mesmo sem conhecê-lo
pessoalmente, tenho inúmeras afinidades com o autor. Por exemplo: somos
conterrâneos, embora eu tenha nascido na região das Missões, no Rio Grande do
Sul, na pequenina, mas célebre, Horizontina (terra natal de personalidades como
Gisele Bündtchen, Xuxa, Taffarel, Danrlei e outros quetais) e ele em Canoas, na
Grande Porto Alegre.
Sou admirador incondicional de
Ernest Hemmingway (que alguns “idiotas da objetividade” tiveram o desplante de
classificar de “canastrão”) e ele é seu tradutor, pelo menos do seu romance
“Por quem os sinos dobram”, hoje um clássico da contemporânea literatura
norte-americana. Mas a nossa afinidade maior é a paixão que ambos nutrimos pelo
gênero crônica (que nada tem de pequeno ou de banal, faço questão de reiterar e
de enfatizar).
Pelo que tive a oportunidade de
saber, a vida de Luís Cláudio Peazê da Silva rivaliza com a sua obra, em termos
de criatividade, movimento e interesse. Espírito inquieto, esse meu ilustre
conterrâneo já fez um pouco de tudo. Foi, por exemplo, entre outras coisas,
jogador de futebol profissional, analista de sistemas, administrador de
empresas, publicitário e empresário, sendo que exerceu esta última atividade
nos Estados Unidos, na Austrália e no Brasil. Como se vê, experiência de vida é
o que não lhe falta, embora sequer tenha completado sessenta anos (que
completará em 2018).
Para a nossa felicidade, porém, e
de todos os que gostam de ler textos inteligentes, instigantes, polêmicos e
criativos, Peazê decidiu, em 1998, dedicar tempo integral à literatura. Além do
já citado “Crônico – Uma aventura diária – Nas esquinas do Rio”, escreveu,
ainda, “Alvídia, um horizonte a mais”, livro de aventura, lançado no ano 2000
pela Stylita Editora; “O I Simpósio do Semblante Nacional”, uma inteligente
sátira, publicado, igualmente, em 2000 pela Quartet Editora em co-edição com a
Stylita, o romance de mistério e aventura “O punhal de pedra”, dado a lume em
2001 pela Quartet Editora e é co-autor de “O elo perdido da Medicina”, junto
com o Dr. Eduardo Almeida, entre outras obras.
Como não quero ser estraga-prazer
de ninguém, não vou antecipar do que trata o lançamento, de 2006, de Luís Peazê,
que tenho em mãos. Nem esse é o objetivo desta minha um tanto desconjuntada
crônica. Minha intenção é partilhar o entusiasmo que esse jornalista e escritor
(e vice-versa) me despertou. Tanto, que já publiquei, nos espaços que disponho
na internet, dois textos dele e espero que não fique só nisso. Não ficará
Para não deixar o leitor
totalmente na mão, todavia, dou uma palhinha e antecipo algumas informações com
que Peazê nos brinda no “Crônico”. Revela-nos, por exemplo, que “o homem
escreve e lê crônicas desde o início do mundo”. E fundamenta essa revelação.
Essa, com certeza, você não sabia! Mais: situa o primeiro texto do gênero na
Mesopotâmia, por volta do ano 3000
a .C. Informa que os primórdios da crônica jornalística
se situam no século XVIII, na Inglaterra (o que desmente o que sempre se
propalou por aí, de que ela seria fruto do jornalismo brasileiro). Além disso,
o livro reúne várias curiosidades, que são imperdíveis. Traz, também, uma
coletânea comemorativa de “Nas esquinas do Rio”, que Peazê assinou na imprensa.
E, para culminar, há três crônicas inéditas dele, que deveriam ser contos,
reunidas em “O Diálogo” de Veríssimo pai com Veríssimo filho (ambos, por sinal,
nossos conterrâneos).
Você quer saber mais sobre o
conteúdo do livro? Ora, compre um exemplar! Ainda dá tempo. Com certeza, estará
enriquecendo a sua cultura e sua biblioteca, além de desfazer equívocos a
respeito deste gênero literário. Eu nunca acreditei no que escreveram os
detratores (provavelmente não intencionais) da crônica. Aliás, tão logo
terminei a leitura do livro do meu ilustre conterrâneo e colega de profissão,
me surpreendi, murmurando, entredentes, aos meus botões: “Gênero menor uma
ova!”. Não admito que ninguém diminua esta “aventura diária” que Peazê e eu
empreendemos, há já anos e mais anos, ele, claro, com talento infinitamente
maior do que o meu!
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