Alegria de escrever
Pedro J.
Bondaczuk
O computador, em certo sentido, tem servido para aproximar
pessoas, que de outra forma jamais teriam a oportunidade de se relacionar. Não
são raros, por exemplo, os chamados “amores virtuais”, embora alguns desemboquem,
às vezes, em tremendos equívocos e não raro até em crimes, como um caso de
sedução, ocorrido em 2005 se não me engano, de uma garota norte-americana de 12
anos, seduzida por um fuzileiro naval de 31, que redundou na fuga de casa da
iludida menininha. Essa, porém, é uma exceção. Pilantras existem em todo o
lugar, e se utilizam de todos os meios para praticar suas pilantragens, e não
somente do computador. Não é o veículo,
nesses casos, evidentemente, que deve ser condenado, mas quem o utiliza.
Gosto de escrever. Aprecio as amizades, desde que
sinceras. E valorizo a “epistolografia”, ou seja, a troca de correspondência,
mesmo que seja com pessoas que não conheço pessoalmente e que, dada a distância
que nos separa, dificilmente conseguirei conhecer. Quando dependia apenas dos
Correios, um pouco por preguiça, um pouco por economia (ou pãodurismo), minha
troca de cartas era um tanto restrita. Limitava-me a me corresponder com
parentes, ou com quem conhecia há anos e que as circunstâncias da vida haviam
separado.
Com o advento dos e-mails, contudo, isso já não acontece.
Sou redator compulsivo de mensagens eletrônicas. Prefiro a troca de informações
escrita. Para espanto dos amigos, não tenho telefone, nem fixo e nem celular e
não me comunico por nenhum meio que não utilize exclusivamente o texto. Por
que? Sei lá!!! Claro, minhas mensagens são enviadas apenas a quem as queira
receber, a quem deseje saber de mim, das minhas idéias, dos meus gostos, dos
meus desgostos e até das minhas idiossincrasias. E, creia-me, esclarecido
leitor, há muita gente (felizmente) que quer.
Mantenho ativíssima correspondência, com dezenas de fiéis amigos
virtuais, com os quais troco, há já bom tempo, informações, confidências e,
sobretudo, “causos”, notadamente os engraçados.
Concordo com Celso Furtado, que no Tomo I do seu livro
“Obra Autobiográfica” (em cinco volumes), constata: “Rir deve ser uma forma
sutil de reconciliar-se consigo mesmo, de assumir uma superioridade momentânea
que nos alivia e revigora”. E é mesmo. A vida já tem tragédias demais, e dores
em profusão, para que fiquemos remoendo picuinhas, aquelas pequenas coisas que
nos incomodam e que, em vez de as remediarmos (e se possível, as eliminarmos),
ficamos cultivando indefinidamente, de forma até maníaca, embora raramente nos
damos conta disso. E não importa se esses conflitos são reais ou imaginários (a
maioria cai nesta última classificação). Esse procedimento, contudo, é doentio.
É neurótico, É autodestrutivo.
Comunicar-se é fundamental. E,
com amigos virtuais, a comunicação se torna mais livre, mais solta, mais
espontânea e mais natural. Por que? Por não haver a interferência da questão
subjetiva da aparência, que tanto pode nos levar a paixões fulminantes, quanto
nos conduzir a antipatias profundas e gratuitas (e à primeira vista) por alguém
de quem nada sabemos, e que mal acabamos de encontrar. Trata-se de um contato
apenas de intelectos. Ou seja, do que há de mais nobre e sofisticado nos seres
humanos, que dessa forma exercitam o grande diferencial que o homem tem em
relação aos demais animais: a inteligência e a capacidade de comunicar
pensamentos, sentimentos e desejos.
Albert Einstein, no livro “Como
Vejo o Mundo”, escreveu: “O que sei e o que penso, eu o devo ao homem. E para
comunicá-los utilizo a linguagem criada pelo homem”. É o meu caso. Gosto de
abrir o meu coração com franqueza e de ler, com complacência, e não raro com
compaixão, mesmo opiniões que me sejam desfavoráveis, ou com as quais não
compactue. E, salvo quando se trata de alguma mensagem chula, ou de alguma
dessas brincadeiras estúpidas e de péssimo gosto que determinados desocupados
costumam fazer, nunca deleto as mensagens recebidas. Arquivo-as,
criteriosamente, com a data e o horário do recebimento, preservando-as para a
posteridade. Esses e-mails, aparentemente fúteis e inocentes, incorporam-se, a
partir do momento em que caem na minha caixa postal, ao meu acervo de
experiências. E para sempre.
Inutilidade? Bobagem? Perda de
tempo? Quem sabe?! Certamente seria esta a classificação dada à correspondência
virtual que sustento pelos derrotistas, pelos amargurados, pelos frustrados,
pelos carentes de inteligência, enfim, por aqueles que estão sempre de mal com
a vida e com o mundo, ou pelos que se auto-rotulam de “objetivos”, mas que os designo
com uma expressão emprestada do poeta Affonso Romano de Sant’Ana: “idiotas da
objetividade” (atribuída ao jornalista Nelson Rodrigues, que seria o primeiro a
utilizá-la). Porque, como assegura o mestre Roque Schneider: “Viver é
comunicar-se. Nossa felicidade, nossa alegria de viver e nossa realização
humana dependem fundamentalmente da nossa capacidade de comunicação”. E não
dependem?
Por isso, leitor amigo, se estas
pobres confidências diárias, deste escrevinhador compulsivo, despertam-lhe
alguma curiosidade a respeito do autor, não se acanhe. Escreva-me: um, dois,
dez, cem e-mails, quantos você quiser. Terei o maior prazer do mundo em lhe
responder. Entre, sem que seja necessário qualquer convite formal, para o meu
relativamente vasto, e ainda assim seleto, “clube dos amigos virtuais”. Porque,
como constatou John Lukaks, no livro “O Fim do Século XX”, “são as palavras que
nos comovem, nos magoam, inspiram, deprimem, porque pensamos com palavras”.
Isto é o que nos torna humanos. Exercitemos, pois, plenamente, essa
humanidade...
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