Tuesday, March 28, 2017

Alegria de escrever


Pedro J. Bondaczuk


O computador, em certo sentido, tem servido para aproximar pessoas, que de outra forma jamais teriam a oportunidade de se relacionar. Não são raros, por exemplo, os chamados “amores virtuais”, embora alguns desemboquem, às vezes, em tremendos equívocos e não raro até em crimes, como um caso de sedução, ocorrido em 2005 se não me engano, de uma garota norte-americana de 12 anos, seduzida por um fuzileiro naval de 31, que redundou na fuga de casa da iludida menininha. Essa, porém, é uma exceção. Pilantras existem em todo o lugar, e se utilizam de todos os meios para praticar suas pilantragens, e não somente do computador.  Não é o veículo, nesses casos, evidentemente, que deve ser condenado, mas quem o utiliza.

Gosto de escrever. Aprecio as amizades, desde que sinceras. E valorizo a “epistolografia”, ou seja, a troca de correspondência, mesmo que seja com pessoas que não conheço pessoalmente e que, dada a distância que nos separa, dificilmente conseguirei conhecer. Quando dependia apenas dos Correios, um pouco por preguiça, um pouco por economia (ou pãodurismo), minha troca de cartas era um tanto restrita. Limitava-me a me corresponder com parentes, ou com quem conhecia há anos e que as circunstâncias da vida haviam separado.

Com o advento dos e-mails, contudo, isso já não acontece. Sou redator compulsivo de mensagens eletrônicas. Prefiro a troca de informações escrita. Para espanto dos amigos, não tenho telefone, nem fixo e nem celular e não me comunico por nenhum meio que não utilize exclusivamente o texto. Por que? Sei lá!!! Claro, minhas mensagens são enviadas apenas a quem as queira receber, a quem deseje saber de mim, das minhas idéias, dos meus gostos, dos meus desgostos e até das minhas idiossincrasias. E, creia-me, esclarecido leitor, há muita gente (felizmente) que quer.  Mantenho ativíssima correspondência, com dezenas de fiéis amigos virtuais, com os quais troco, há já bom tempo, informações, confidências e, sobretudo, “causos”, notadamente os engraçados.

Concordo com Celso Furtado, que no Tomo I do seu livro “Obra Autobiográfica” (em cinco volumes), constata: “Rir deve ser uma forma sutil de reconciliar-se consigo mesmo, de assumir uma superioridade momentânea que nos alivia e revigora”. E é mesmo. A vida já tem tragédias demais, e dores em profusão, para que fiquemos remoendo picuinhas, aquelas pequenas coisas que nos incomodam e que, em vez de as remediarmos (e se possível, as eliminarmos), ficamos cultivando indefinidamente, de forma até maníaca, embora raramente nos damos conta disso. E não importa se esses conflitos são reais ou imaginários (a maioria cai nesta última classificação). Esse procedimento, contudo, é doentio. É neurótico, É autodestrutivo.

Comunicar-se é fundamental. E, com amigos virtuais, a comunicação se torna mais livre, mais solta, mais espontânea e mais natural. Por que? Por não haver a interferência da questão subjetiva da aparência, que tanto pode nos levar a paixões fulminantes, quanto nos conduzir a antipatias profundas e gratuitas (e à primeira vista) por alguém de quem nada sabemos, e que mal acabamos de encontrar. Trata-se de um contato apenas de intelectos. Ou seja, do que há de mais nobre e sofisticado nos seres humanos, que dessa forma exercitam o grande diferencial que o homem tem em relação aos demais animais: a inteligência e a capacidade de comunicar pensamentos, sentimentos e desejos.

Albert Einstein, no livro “Como Vejo o Mundo”, escreveu: “O que sei e o que penso, eu o devo ao homem. E para comunicá-los utilizo a linguagem criada pelo homem”. É o meu caso. Gosto de abrir o meu coração com franqueza e de ler, com complacência, e não raro com compaixão, mesmo opiniões que me sejam desfavoráveis, ou com as quais não compactue. E, salvo quando se trata de alguma mensagem chula, ou de alguma dessas brincadeiras estúpidas e de péssimo gosto que determinados desocupados costumam fazer, nunca deleto as mensagens recebidas. Arquivo-as, criteriosamente, com a data e o horário do recebimento, preservando-as para a posteridade. Esses e-mails, aparentemente fúteis e inocentes, incorporam-se, a partir do momento em que caem na minha caixa postal, ao meu acervo de experiências. E para sempre.

Inutilidade? Bobagem? Perda de tempo? Quem sabe?! Certamente seria esta a classificação dada à correspondência virtual que sustento pelos derrotistas, pelos amargurados, pelos frustrados, pelos carentes de inteligência, enfim, por aqueles que estão sempre de mal com a vida e com o mundo, ou pelos que se auto-rotulam de “objetivos”, mas que os designo com uma expressão emprestada do poeta Affonso Romano de Sant’Ana: “idiotas da objetividade” (atribuída ao jornalista Nelson Rodrigues, que seria o primeiro a utilizá-la). Porque, como assegura o mestre Roque Schneider: “Viver é comunicar-se. Nossa felicidade, nossa alegria de viver e nossa realização humana dependem fundamentalmente da nossa capacidade de comunicação”. E não dependem?

Por isso, leitor amigo, se estas pobres confidências diárias, deste escrevinhador compulsivo, despertam-lhe alguma curiosidade a respeito do autor, não se acanhe. Escreva-me: um, dois, dez, cem e-mails, quantos você quiser. Terei o maior prazer do mundo em lhe responder. Entre, sem que seja necessário qualquer convite formal, para o meu relativamente vasto, e ainda assim seleto, “clube dos amigos virtuais”. Porque, como constatou John Lukaks, no livro “O Fim do Século XX”, “são as palavras que nos comovem, nos magoam, inspiram, deprimem, porque pensamos com palavras”. Isto é o que nos torna humanos. Exercitemos, pois, plenamente, essa humanidade...

Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk 


  

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