Liberdade para negociar
Pedro J.
Bondaczuk
A economia de livre mercado, em evidência nas manchetes
nos últimos tempos em decorrência da opção do Leste europeu, outrora totalmente
estatizado (inclusive a União Soviética, mentora e executora por mais de 70
anos da centralização econômica) pelo sistema não é, como alguns pensam, uma
nova doutrina, um conjunto de regras, um elenco de complicadas fórmulas que
apenas os mais versados em economês entendam.
Trata-se de algo extremamente
simples. Basta que se deixe a lei natural da oferta e da procura funcionar, sem
interferências artificiais, para que ela se imponha. Por outro lado, a
atividade comercial precisa da concorrência para seguir seu curso normal. Preço
justo e melhor qualidade é a dobradinha da fórmula irresistível para que
qualquer negócio prospere.
Este é o caminho evidente,
portanto, para a economia brasileira, com o Estado deixando de interferir no
mercado para estipular os preços. Para que isto aconteça, todavia, é
imprescindível que haja competição na produção e oferta de produtos, o que
implica no fim de monopólios, ou seja, da existência de um único produtor ou
vendedor de determinado produto ou de um grupo restrito e fechado deles.
Parece ser isso o que o governo
está pretendendo fazer, ao estipular que certas mercadorias, que até aqui
tinham piso e teto (no caso, os combustíveis) deixem de ter o primeiro. Ou
seja, a liberação do comerciante que quiser e, principalmente, que puder vender
algo mais barato, que o faça.
Houve reações imediatas contra a
medida, depois que comerciantes passaram a comercializar igualmente cigarros e
pãezinhos mais em conta, abaixo da tabela. Seus opositores argumentaram com o
perigo do “dumping”. Essa palavra inglesa é usada para definir a prática que
consiste em baixar os preços além do tolerável para os concorrentes.
Estes, não suportando a situação
por muito tempo, saem do mercado. E o “dumpista”, dessa maneira, fica absoluto
na praça, podendo vender suas mercadorias por quanto quiser. O governo, porém,
pensou na possibilidade. Nesta semana, enviará um projeto de lei ao Congresso
para coibir esta e outras práticas de burla à livre concorrência.
Definindo-se com clareza as
regras, outorgando-se condições de competição dentro de normas justas e válidas
para todos (grandes ou pequenos), estaremos dando um grande passo para a
economia de mercado, a grande vedete econômica dos nossos tempos, coisa que,
convenhamos, nunca existiu de fato em nosso país, que sempre se disse
capitalista sem jamais praticar o capitalismo.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 15 de
julho de 1990).
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