Brezhnev
fez piada com Pompidou
Pedro J. Bondaczuk
O presidente norte-americano, Ronald Reagan, nem
tomou conhecimento da agitação que causou nos mais diversos círculos políticos,
tanto da Europa, quanto do seu próprio país, com a brincadeira que fez, sábado
passado, ao testar os microfones antes de um pronunciamento, feito de sua
fazenda, na Califórnia. Ao contrário, levou tudo na base do bom-humor e até
repetiu a piadinha anteontem, ao final de uma reunião, quando afirmou: “Com
licença que preciso voltar para a Casa Branca, para destruir a Rússia”, ou
coisa mais ou menos desse teor.
É evidente que, embora possam ser reprováveis (e
isso depende do ponto de vista sob o qual a questão seja encarada), essas
pilhérias não passaram do que realmente são: meras brincadeiras, posto que de
péssimo gosto, convenhamos.
Aliás, esse tipo de coisa nem mesmo é novo. Já houve
um precedente, revelado pelo jornal francês “Le Matin”, na terça-feira,
envolvendo o ex-líder soviético, Leonid Brezhnev e o ex-presidente da França,
George Pompidou. Aconteceu durante a visita do segundo à União Soviética, mais
especificamente, ao complexo espacial de Baikhonur, na República do
Kazaquistão.
Brezhnev, mostrando os painéis de controle da base a
Pompidou, pediu-lhe que apertasse um determinado botão. O presidente francês, é
claro, obedeceu ao convite. Candidamente, Brezhnev voltou-se para Pompidou e
disse (segundo o “Le Matin”): “Vossa Excelência acaba de destruir Paris”.
Como se vê, a brincadeira nem mesmo chega a ser
original. Só que os dois casos têm algumas diferenças, que distinguem, muito
bem, ambas situações. A União Soviética e a França (embora ideologicamente
adversárias), não vivem a trocar insultos e ameaças diárias pela imprensa e nem
pirraças e represálias. E o presidente francês nunca disse que iria exterminar
o regime soviético até o final do século, como Reagan o fez. Nem cercou a União
Soviética de mísseis nucleares.
Aliás, estranha foi a divulgação da brincadeira de
Reagan pela imprensa mundial, já que ela foi feita reservadamente, em seus
próprios domínios, com uma ou duas testemunhas, na fazenda californiana do
presidente norte-americano.
Parece-nos algo intencional, tendente a manter em
evidência o nome do candidato republicano à reeleição, para deixar clara a
repulsa que ele sente pelo marxismo e o país que o cultiva. Pode ter sido um
balão de ensaio, para testar a política externa que pretende empreender num
próximo quatriênio de governo. Ou, simplesmente, o troco dado aos russos
(fazendo os seus líderes perder o sono, em sombrias elucubrações), à manobra do
Cremlin na questão das negociações sobre a guerra nas estrelas, propostas,
depois negadas, por Moscou, deixando Reagan em má posição perante a opinião
pública. É mesmo brincalhão esse presidente norte-americano!
(Artigo publicado na página 9, Internacional, do
Correio Popular, em 18 de agosto de 1984)
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