Sunday, March 19, 2017

Brezhnev fez piada com Pompidou



Pedro J. Bondaczuk


O presidente norte-americano, Ronald Reagan, nem tomou conhecimento da agitação que causou nos mais diversos círculos políticos, tanto da Europa, quanto do seu próprio país, com a brincadeira que fez, sábado passado, ao testar os microfones antes de um pronunciamento, feito de sua fazenda, na Califórnia. Ao contrário, levou tudo na base do bom-humor e até repetiu a piadinha anteontem, ao final de uma reunião, quando afirmou: “Com licença que preciso voltar para a Casa Branca, para destruir a Rússia”, ou coisa mais ou menos desse teor.

É evidente que, embora possam ser reprováveis (e isso depende do ponto de vista sob o qual a questão seja encarada), essas pilhérias não passaram do que realmente são: meras brincadeiras, posto que de péssimo gosto, convenhamos.

Aliás, esse tipo de coisa nem mesmo é novo. Já houve um precedente, revelado pelo jornal francês “Le Matin”, na terça-feira, envolvendo o ex-líder soviético, Leonid Brezhnev e o ex-presidente da França, George Pompidou. Aconteceu durante a visita do segundo à União Soviética, mais especificamente, ao complexo espacial de Baikhonur, na República do Kazaquistão.

Brezhnev, mostrando os painéis de controle da base a Pompidou, pediu-lhe que apertasse um determinado botão. O presidente francês, é claro, obedeceu ao convite. Candidamente, Brezhnev voltou-se para Pompidou e disse (segundo o “Le Matin”): “Vossa Excelência acaba de destruir Paris”.

Como se vê, a brincadeira nem mesmo chega a ser original. Só que os dois casos têm algumas diferenças, que distinguem, muito bem, ambas situações. A União Soviética e a França (embora ideologicamente adversárias), não vivem a trocar insultos e ameaças diárias pela imprensa e nem pirraças e represálias. E o presidente francês nunca disse que iria exterminar o regime soviético até o final do século, como Reagan o fez. Nem cercou a União Soviética de mísseis nucleares.

Aliás, estranha foi a divulgação da brincadeira de Reagan pela imprensa mundial, já que ela foi feita reservadamente, em seus próprios domínios, com uma ou duas testemunhas, na fazenda californiana do presidente norte-americano.

Parece-nos algo intencional, tendente a manter em evidência o nome do candidato republicano à reeleição, para deixar clara a repulsa que ele sente pelo marxismo e o país que o cultiva. Pode ter sido um balão de ensaio, para testar a política externa que pretende empreender num próximo quatriênio de governo. Ou, simplesmente, o troco dado aos russos (fazendo os seus líderes perder o sono, em sombrias elucubrações), à manobra do Cremlin na questão das negociações sobre a guerra nas estrelas, propostas, depois negadas, por Moscou, deixando Reagan em má posição perante a opinião pública. É mesmo brincalhão esse presidente norte-americano!         

(Artigo publicado na página 9, Internacional, do Correio Popular, em 18 de agosto de 1984)


Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk       

No comments: