Cabeças
pensantes
Pedro J. Bondaczuk
Os líderes nacionais que conduzem
os seus povos às guerras deveriam se conscientizar da gravidade de seus atos.
Precisariam ter noção das desgraças que vão causar. Deveriam entender (mas não
entendem) a real natureza do poder que lhes é outorgado. Necessitariam ter em
mente o todo, e se conscientizar que o período que vivem é mero segmento de
algo muito maior, infinitamente mais amplo, que é o eterno.
Não há glória alguma em destruir,
causar dor, matar. E nem há ciência.. Na verdade, não somos nada. Somos menos
do que um piscar de olhos na eternidade. E, no entanto, alguns de nossos atos
têm um alcance tão grande, que continuam a produzir efeitos através dos anos.
Às vezes, até por séculos, muito tempo depois da nossa extinção como pessoas.
As sociedades, desde tempos
imemoriais, sempre precisaram de líderes, de cabeças pensantes, de pessoas
muito especiais, dotadas de iniciativa, com capacidade inata de comunicação e
talento, para guiá-las. Em cima dessa necessidade é que se estruturaram as
hierarquias – desde as familiares (nos
clãs), às tribais e posteriormente comunitárias e nacionais.
Como ocorre com todos os animais,
possivelmente até por questões genéticas, alguns indivíduos nascem com aptidões
maiores do que outros. São os que normalmente constituem as elites. Quando não,
se transformam em rebeldes, em contestadores, em questionadores que não se
submetem ao status vigente. São os revolucionários, fatores essenciais de
mudanças, para o bem e para o mal. A maioria da humanidade, no entanto, é
integrada por pessoas comuns. É composta pelos que são incapazes de iniciativas
ousadas ou de juízos mesmo que rudimentares.
Os grupos de pessoas, a que se
convencionou denominar de “massa”, constituem, sem dúvida, forças descomunais,
que tanto podem ser sumamente destrutivas, quanto construtivas. Para adquirirem
a segunda (e desejável) característica, carecem de uma liderança segura, sábia,
lúcida e honesta. Portanto, são sempre indivíduos (jamais o coletivo) que se
tornam os verdadeiros cérebros desses amorfos grupamentos.
Morris West, no romance “O
Embaixador”, faz essa constatação através de um dos seus personagens: “O
segredo da vida, da sobrevivência e da melhoria está no indivíduo e não na
massa. Assim, o que tiver de ser feito para melhorar o seu trabalho, ou o de
qualquer outra pessoa, deverá ser feito por intermédio do íntimo dos
indivíduos”. Há, até, uma disciplina que estuda o comportamento das pessoas
quando em grupos: a “Psicologia das Massas”. Portanto, busque sempre no seu
interior as soluções para os seus problemas e os da sua comunidade.
Os homens criativos, que têm algo
a acrescentar aos grupos que integram, desde seu restrito e particular núcleo
familiar à própria e gigantesca família humana, precisam contar não com uma,
duas, cinco, dez ou cem "sementes", ou seja, idéias, valores e
princípios norteadores de ações. Devem ter milhares delas, para espalhar por
todas as partes.
Jesus Cristo, em uma de suas mais
profundas parábolas, tratou desse tema. Destacou as dificuldades das mensagens
espalhadas frutificarem, em virtude do "solo" (no caso a mente das
pessoas que são alvos do que se pretende semear) muitas vezes não ser propício.
Os tíbios, os egoístas e os acomodados, mesmo que semeiem ideais, quase sempre
fracassam. E o insucesso deve-se à insuficiência de sementes. Basta que estas
caiam em lugar errado para que seu empenho acabe sendo vão. Desistem. Ou querem
colher frutos pessoais mesmo onde estes não existam e sejam impossíveis de
existir.
O ser humano conquistou o átomo,
embora não tenha feito sempre o melhor uso dessa ciência. Descobriu e mapeou os
códigos genéticos, responsáveis pelas características de todos os seres.
Aprendeu a duplicar animais e vegetais. O casal primitivo desobedeceu o Criador
e comeu o fruto da Árvore do Bem e do Mal, como se vê. Perdeu a inocência
original, embora conquistasse o potencial de saber de tudo. Ou quase tudo. Só
um conhecimento, e para o seu próprio bem, lhe foi vedado e para sempre: O do
mistério da essência da vida. Caso o conhecesse, provavelmente conduziria à
extinção da espécie.
A
modernidade, nos dias que correm, é confundida, via de regra, com
permissividade, com a ruptura de todos os freios morais, que construíram as
civilizações (que, bem ou mal, pelo menos se mantêm). Enquanto uma pequena parcela
da humanidade usufrui as “delícias” de um consumismo desregrado e perdulário, a
grande maioria passa fome. Enfrenta privações de toda a sorte, sem saber como
será o amanhã, que talvez nem mesmo venha a ter.
As
pessoas, no processo acelerado de massificação pelo qual o mundo passa, sequer
param para pensar qual a razão de suas existências. Não especulam (salvo
exceções, naturalmente) acerca do que estão fazendo sobre a face da Terra. Em
suma, não se entendem e nem procuram se entender. Não se estimam e nem se
desestimam. Vivem porque vivem, e pronto! E se não têm um grau de estima
genuíno por si próprias... não podem, jamais, sentir qualquer coisa de
realmente profundo pelos outros. São “massa” e sentem-se perdidas,
desgovernadas e sem rumo na ausência de líderes conscientes, sábios, honestos
e, sobretudo íntegros.
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