Friday, March 10, 2017

Jogo de xadrez eleitoral


Pedro J. Bondaczuk


As incertezas atinentes à Assembléia Nacional Constituinte estão afetando as eleições municipais, previstas, em princípio, para novembro deste ano. A ausência de uma nova Constituição e o fato de ninguém saber quando ela estará pronta e promulgada (ainda que isto seja previsto para acontecer em 21 de abril), mantém a movimentação dos políticos estritamente presa aos bastidores, quanto às possíveis candidaturas e alianças.

Afinal, não se sabe se as regras do jogo serão mantidas, principalmente no que se refere aos partidos. E nem mesmo se tem certeza se a consulta às urnas vai de fato acontecer, já que há uma emenda propondo a prorrogação dos mandatos dos atuais prefeitos, atrelada àquela que concede 5 anos de governo ao presidente José Sarney, por mais um ano.

Em todo o caso, alguns “balões de ensaio” já vêm sendo lançados, como sempre costuma acontecer nessas ocasiões, por parte dos pretendentes às diversas prefeituras do País. Em Campinas, por exemplo, chegou-se a comentar sobre até 18 nomes, como possíveis candidatos ao Palácio dos Jequitibás.

Destes, a grande maioria integra o PMDB, o que faz entrever uma duríssima disputa partidária pelo direito de postular uma chance de concorrer por essa sigla, um tanto desgastada, em nível nacional, pelo fracasso do Plano Cruzado e pelo desencanto que toma conta da população a respeito da postura do partido de maior sucesso na história brasileira e que é o mais antigo dos que estão aí, tendo completado, no dia 1º passado, 21 anos de existência.

É verdade que em termos de Campinas os peemedebistas contam, ao menos em teoria, com um importante trunfo: a boa gestão do atual prefeito, Magalhães Teixeira. Com isso, em condições normais, ele teria maior cacife para indicar (e eleger) o seu sucessor. No entanto, as “raposas velhas” sabem muito bem que prestígio pessoal é algo intransferível.

Ele somente teria algum valor se o candidato indicado por quem goza dessa boa fama fosse um nome também muito respeitado junto ao eleitorado. Ou seja, entrasse com mais de 80% de possibilidade de ganhar na disputa. Por outro lado, o partido não terá tarefa das mais fáceis para proceder a uma escolha e ainda assim sair razoavelmente “inteiro” da convenção.

Fatalmente, os políticos que não encontrarem guarida nesta legenda para as suas pretensões irão procurar um espaço próprio. E a julgar pelos “balões de ensaio”, muita gente está querendo essa candidatura, que acabará sendo, logicamente, de um só.

Vários dos perdedores da convenção, mesmo a contragosto, deverão apoiar quem o partido finalmente apontar como o responsável por esta tarefa dificílima, principalmente se as eleições forem confirmadas para 1988.

Outros, porém, vão deixá-lo. A campanha, ao contrário dos outros anos, provavelmente será centrada em temas nacionais e não somente nos “paroquiais”, os limitados à vida do Município. Será então que o PMDB poderá correr o risco de perder, principalmente pela posição ambígua que adotou face ao governo central.

Embora o partido o integre, de fato, detenha a maior parte dos ministérios e tenha o próprio presidente da República, muitas das suas alas ainda teimam em assumir posturas oposicionistas, como se a esta altura essa prática ainda fosse possível.

Por causa desse aspecto muito particular, o PMDB, em âmbito local, terá que proceder a uma escolha extremamente cautelosa. O indicado precisará ser alguém com experiência, tirocínio e principalmente currículo. Um candidato com tanta personalidade, que os desacertos peemedebistas, no plano federal, não sirvam de obstáculos para que os eleitores o aceitem. A próxima eleição será, portanto, para o PMDB mais do que para qualquer outro partido, um autêntico “jogo de xadrez” político.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 19 de janeiro de 1988).


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