Jogo de xadrez eleitoral
Pedro J. Bondaczuk
As incertezas atinentes à
Assembléia Nacional Constituinte estão afetando as eleições municipais,
previstas, em princípio, para novembro deste ano. A ausência de uma nova
Constituição e o fato de ninguém saber quando ela estará pronta e promulgada
(ainda que isto seja previsto para acontecer em 21 de abril), mantém a
movimentação dos políticos estritamente presa aos bastidores, quanto às
possíveis candidaturas e alianças.
Afinal,
não se sabe se as regras do jogo serão mantidas, principalmente no que se
refere aos partidos. E nem mesmo se tem certeza se a consulta às urnas vai de
fato acontecer, já que há uma emenda propondo a prorrogação dos mandatos dos
atuais prefeitos, atrelada àquela que concede 5 anos de governo ao presidente
José Sarney, por mais um ano.
Em
todo o caso, alguns “balões de ensaio” já vêm sendo lançados, como sempre
costuma acontecer nessas ocasiões, por parte dos pretendentes às diversas
prefeituras do País. Em Campinas, por exemplo, chegou-se a comentar sobre até
18 nomes, como possíveis candidatos ao Palácio dos Jequitibás.
Destes,
a grande maioria integra o PMDB, o que faz entrever uma duríssima disputa
partidária pelo direito de postular uma chance de concorrer por essa sigla, um
tanto desgastada, em nível nacional, pelo fracasso do Plano Cruzado e pelo
desencanto que toma conta da população a respeito da postura do partido de
maior sucesso na história brasileira e que é o mais antigo dos que estão aí,
tendo completado, no dia 1º passado, 21 anos de existência.
É
verdade que em termos de Campinas os peemedebistas contam, ao menos em teoria,
com um importante trunfo: a boa gestão do atual prefeito, Magalhães Teixeira.
Com isso, em condições normais, ele teria maior cacife para indicar (e eleger)
o seu sucessor. No entanto, as “raposas velhas” sabem muito bem que prestígio
pessoal é algo intransferível.
Ele
somente teria algum valor se o candidato indicado por quem goza dessa boa fama
fosse um nome também muito respeitado junto ao eleitorado. Ou seja, entrasse
com mais de 80% de possibilidade de ganhar na disputa. Por outro lado, o
partido não terá tarefa das mais fáceis para proceder a uma escolha e ainda
assim sair razoavelmente “inteiro” da convenção.
Fatalmente,
os políticos que não encontrarem guarida nesta legenda para as suas pretensões
irão procurar um espaço próprio. E a julgar pelos “balões de ensaio”, muita
gente está querendo essa candidatura, que acabará sendo, logicamente, de um só.
Vários
dos perdedores da convenção, mesmo a contragosto, deverão apoiar quem o partido
finalmente apontar como o responsável por esta tarefa dificílima,
principalmente se as eleições forem confirmadas para 1988.
Outros,
porém, vão deixá-lo. A campanha, ao contrário dos outros anos, provavelmente será
centrada em temas nacionais e não somente nos “paroquiais”, os limitados à vida
do Município. Será então que o PMDB poderá correr o risco de perder,
principalmente pela posição ambígua que adotou face ao governo central.
Embora
o partido o integre, de fato, detenha a maior parte dos ministérios e tenha o
próprio presidente da República, muitas das suas alas ainda teimam em assumir
posturas oposicionistas, como se a esta altura essa prática ainda fosse
possível.
Por
causa desse aspecto muito particular, o PMDB, em âmbito local, terá que
proceder a uma escolha extremamente cautelosa. O indicado precisará ser alguém
com experiência, tirocínio e principalmente currículo. Um candidato com tanta
personalidade, que os desacertos peemedebistas, no plano federal, não sirvam de
obstáculos para que os eleitores o aceitem. A próxima eleição será, portanto,
para o PMDB mais do que para qualquer outro partido, um autêntico “jogo de
xadrez” político.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 19 de janeiro de 1988).
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