Tuesday, March 14, 2017

Armadilha política



Pedro J. Bondaczuk


O sistema político brasileiro não acompanhou a evolução dos tempos e de outros setores da sociedade, quer interna quer externamente. Hoje, o País conta com um parque fabril dos mais modernos do mundo, com uma economia dinâmica (a despeito de estar contaminada pelo vírus da inflação) e com uma elite intelectual preparada, apta a resolver os problemas nacionais.

Todavia, essas pessoas competentes e treinadas para assumir funções de mando omitem-se da vida pública. O principal motivo é um sistema político exclusor, que perpetua determinados grupos no poder e veda o acesso de quem não faça parte desses clubes fechados.

Daí a sucessão de crises que afetam todos os aspectos da vida do País e comprometem seu futuro. O Brasil é encarado, hoje em dia, como a grande decepção deste século. Analistas internacionais apontavam-no, no início deste período da História que está prestes a se encerrar, como a sociedade nacional com maior potencial de progresso em todo o mundo.

O que vemos, no entanto, é um processo acelerado de degradação, de miserabilidade, de concentração de renda, de incremento das pressões sociais. O cientista político Bolívar Lamounier, em trabalho publicado no boletim "Estudos Avançados" da Universidade de São Paulo, em agosto do ano passado, constatou: "O arcabouço político-institucional brasileiro é essencialmente o mesmo estabelecido desde a Revolução de 30 e está baseado num tripé fundamental: um sistema de relações capital-trabalho tutelado pelo Estado e corporativista, um multipartidarismo exacerbado e um presidencialismo plebiscitário e populista".

Os eleitores tiveram a chance de mudar esse último ponto, no plebiscito de 21 de abril passado. Não mudaram. Deixaram-se levar por discursos populistas (para não dizer oportunistas) e mantiveram as coisas como sempre estiveram.

Uma segunda oportunidade foi dada, desta vez ao Congresso Nacional, para alterar essa estrutura arcaica (de 64 anos de existência) que foi a Revisão Constitucional. Esta, também, naufragou, já que os atuais congressistas são frutos exatamente desse sistema ultrapassado, elitista, exclusor, principal foco das crises que nos atormentam.

Claro que lhes conviria manter tudo como estava. E mantiveram, encenando uma pantomima revisora, que todos sabem que não passou de engodo. Tomara que se aprove, ainda este mês, uma emenda que simplifique futuras reformas constitucionais e que o Parlamento, que será eleito este ano, seja de melhor qualidade que o atual e mostre vontade política para mudar o Brasil. Caso contrário, o eterno país do futuro corre o risco de não ter nenhum.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 21 de maio de 1994).


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