Emendas
piratas
Pedro J. Bondaczuk
O País não pára de ser surpreendido – no aspecto
mais negativo e revoltante possível – desde que a Comissão Parlamentar de
Inquérito para apurar o esquema de manipulação do Orçamento da União foi
instalada, em outubro do ano passado.
Primeiro foi o fio da meada, desenrolado pelo
desesperado e àquela altura já perdido ex-assessor da Câmara dos Deputados, o
economista José Carlos Alves dos Santos, que fez revelações até então
inacreditáveis. Depois, vieram os sucessivos depoimentos, alguns revestidos de
indisfarçável cinismo, como o do “sortudo” deputado João Alves, o pivô de todo
o escândalo, confessando, candidamente, que havia enriquecido com “a ajuda de
Deus”.
Claro que essa declaração, feita para ser engolida
por pessoas de mente curtíssima, provocou gargalhadas no plenário e se
transformou no tema preferido das anedotas criadas em profusão pelo País.
Afinal, somos um povo criativo, que sabe rir das próprias desgraças, na
impossibilidade de modificar uma situação que serias cômica, não fosse trágica.
Esta semana, mais uma patifaria surpreendente, um
autêntico caso de falsidade ideológica, praticada por homens encarregados de
elaborar nossas leis (pasmem!), veio à tona. Trata-se da questão das “emendas
piratas”, anexadas ao Orçamento, depois deste ter sido votado e aprovado pelo
Congresso.
Muitos parlamentares sequer desconfiavam que haviam
“emendado” a peça orçamentária, já que seus nomes eram usados indevidamente e
os acréscimos não eram de sua autoria. Que grande pândega! Fizesse alguém uma
afirmação desse teor há, digamos, dois anos, o tal imprudente declarante cairia
em ridículo, se não fosse preso ou não parasse num manicômio. E, no entanto, a
realidade da corrupção brasileira supera qualquer ficção.
A CPI deveria ir a fundo, ao âmago da questão, para
apurar a autoria desse crime. E a punição aos responsáveis, finórios
falsificadores, que lesaram, usando o nome de 127 deputados e senadores, os
cofres públicos com a “bagatela” de US$ 220 milhões – quantas escolas e creches
não poderiam ter sido construídas, mesmo que superfaturadas, com essa verba! –
além da devolução do que furtaram, deveria ser a cadeia, para fazer companhia a
PC Farias. São farinha do mesmo saco.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 7 de janeiro de 1994)
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