Caem previsões otimistas
Pedro J. Bondaczuk
As notícias desencontradas
acerca da guerra do Golfo Pérsico – em virtude da censura imposta às
informações por parte dos dois lados em luta – tornam virtualmente impossível
algum analista fazer qualquer estimativa confiável acerca da duração do
conflito e da sua extensão até aqui.
Alguns
pontos, todavia, ficaram claros nas entrelinhas de tudo o que se viu, leu e
ouviu nos últimos dias. Por exemplo, aquela previsão de que o Iraque seria
fragorosamente derrotado em 48 horas se mostrou aquilo que realmente parecia
ser: um triunfalismo pueril, desprovido de qualquer dado concreto que o
fundamentasse.
Percebe-se
que Saddam Hussein, a despeito dos cerca de dez mil ataques a Bagdá e outros
pontos dos territórios iraquiano e kuwaitiano, ainda dispõe de inúmeros
trunfos. Quantos e quais é impossível qualquer informante estimar com relativa
confiabilidade.
Outra
coisa que ficou cristalina foi a disposição do líder árabe de fazer uma guerra
de desgaste, caracterizada por escaramuças esporádicas, envolvendo poucos
contingentes, mais ou menos do tipo de guerrilhas, para explorar o fator tempo
a seu favor.
Como
militar experiente que é, deve estar ciente do alto custo para manutenção e uso
do fantástico aparato bélico da coalizão multinacional liderada pelos Estados
Unidos. O fato de Hussein ter reagido somente no terceiro dia do conflito
demonstra que ele estava esperando uma batalha inicial, como a de Bagdá, que
seus adversários tentariam tornar decisiva.
Por
essa razão deve ter decidido preservar sua Força Aérea, escondendo-a em algum
lugar de seu território, certamente pensando no que ocorreu em 1967 com o homem
que ele considera seu ídolo, o ex-presidente egípcio, Gamal Abdel Nasser.
Naquela oportunidade, o líder do Egito teve a quase totalidade de seus aviões
destruídos em solo, sem que pudesse oferecer nenhuma resistência.
Por
outro lado, a estimativa do número de mísseis do tipo Scud B, do Iraque, se
mostrou bastante furada. Ninguém sabe, na verdade, quantos desses foguetes
Saddam dispõe. Teme-se, porém, que não sejam poucos. Outro ponto que vem
intrigando os analistas se refere ao uso dessas armas.
Dificilmente
o presidente iraquiano deixaria de saber que elas são imprecisas e vulneráveis
às defesas ocidentais. Presume-se, pois, que não passem de meros instrumentos
de uma guerra psicológica para inquietar as populações de Tel Aviv, Dhahran e
Riad, onde os Scuds foram lançados, com reduzido efeito militar, mas altíssima
carga emocional.
(Artigo
publicado na página 13, A Guerra no Golfo, do Correio Popular, em 22 de janeiro
de 1991)
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk.
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