Sunday, March 05, 2017

Caem previsões otimistas


Pedro J. Bondaczuk


As notícias desencontradas acerca da guerra do Golfo Pérsico – em virtude da censura imposta às informações por parte dos dois lados em luta – tornam virtualmente impossível algum analista fazer qualquer estimativa confiável acerca da duração do conflito e da sua extensão até aqui.

Alguns pontos, todavia, ficaram claros nas entrelinhas de tudo o que se viu, leu e ouviu nos últimos dias. Por exemplo, aquela previsão de que o Iraque seria fragorosamente derrotado em 48 horas se mostrou aquilo que realmente parecia ser: um triunfalismo pueril, desprovido de qualquer dado concreto que o fundamentasse.

Percebe-se que Saddam Hussein, a despeito dos cerca de dez mil ataques a Bagdá e outros pontos dos territórios iraquiano e kuwaitiano, ainda dispõe de inúmeros trunfos. Quantos e quais é impossível qualquer informante estimar com relativa confiabilidade.

Outra coisa que ficou cristalina foi a disposição do líder árabe de fazer uma guerra de desgaste, caracterizada por escaramuças esporádicas, envolvendo poucos contingentes, mais ou menos do tipo de guerrilhas, para explorar o fator tempo a seu favor.

Como militar experiente que é, deve estar ciente do alto custo para manutenção e uso do fantástico aparato bélico da coalizão multinacional liderada pelos Estados Unidos. O fato de Hussein ter reagido somente no terceiro dia do conflito demonstra que ele estava esperando uma batalha inicial, como a de Bagdá, que seus adversários tentariam tornar decisiva.

Por essa razão deve ter decidido preservar sua Força Aérea, escondendo-a em algum lugar de seu território, certamente pensando no que ocorreu em 1967 com o homem que ele considera seu ídolo, o ex-presidente egípcio, Gamal Abdel Nasser. Naquela oportunidade, o líder do Egito teve a quase totalidade de seus aviões destruídos em solo, sem que pudesse oferecer nenhuma resistência.

Por outro lado, a estimativa do número de mísseis do tipo Scud B, do Iraque, se mostrou bastante furada. Ninguém sabe, na verdade, quantos desses foguetes Saddam dispõe. Teme-se, porém, que não sejam poucos. Outro ponto que vem intrigando os analistas se refere ao uso dessas armas.

Dificilmente o presidente iraquiano deixaria de saber que elas são imprecisas e vulneráveis às defesas ocidentais. Presume-se, pois, que não passem de meros instrumentos de uma guerra psicológica para inquietar as populações de Tel Aviv, Dhahran e Riad, onde os Scuds foram lançados, com reduzido efeito militar, mas altíssima carga emocional.

(Artigo publicado na página 13, A Guerra no Golfo, do Correio Popular, em 22 de janeiro de 1991)

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