Medidas têm raízes políticas
Pedro J. Bondaczuk
O
plano de estabilização econômica, cujo cerne é o lançamento da nova moeda, que
se pretende seja forte e à prova de corrosão, o Real, é, como qualquer outro
dessa natureza, eminentemente político. Até porque, a economia não é uma
ciência exata. Configura-se como uma atividade empírica, na base da tentativa,
erro e correção.
A
diferença desse programa, em relação aos demais, é que a terceira e mais aguda
fase da sua implantação ocorre em plena campanha presidencial, em que o seu
autor é um dos candidatos. Daí esperar-se oposição da parte dos adversários.
Até que ponto essa resistência vai ser eficaz é a grande questão que se coloca
e que pode determinar o sucesso ou o fracasso do plano.
A
primeira grande batalha política, a congressual, foi vencida pelo governo, com
a aprovação da emenda constitucional criando o Fundo Social de Emergência e da
Medida Provisória instituindo a Unidade Real de Valor, o que não deixa de ser
uma façanha.
Basta
atentar para a inércia do Parlamento, num momento em que deputados e senadores
estão mais preocupados com a própria reeleição, do que com os complicados
problemas do País.
Dizer
que o programa de estabilização vai dar certo ou errado seria uma ingenuidade e
até irresponsabilidade. Até porque, há muitos obstáculos, entre os quais a
autodisciplina do próprio governo e a cultura inflacionária arraigada na
população, a serem superados.
Por
melhor que tenha sido o planejamento, na prática, certamente, aparecerão
questões que não foram previstas. O deputado Delfim Netto costuma dizer que
"a economia só resolve um problema antigo, criando dois problemas
novos". Quais serão os criados com o Real? Essa é a questão.
O
plano só poderá funcionar caso seja bem administrado e receba os devidos
ajustes, sempre que esses se fizerem necessários.
Os
primeiros dias de circulação do Real serão críticos. A população precisará
perceber alguma melhoria em sua situação. Caso isso ocorra, o governo ganhará
um aliado irresistível para obter sucesso: a credibilidade. O norueguês Jan
Elster observou que "se uma reforma é percebida como fundamentalmente
justa, as pessoas serão motivadas a arcar com os custos da transição".
O
que o programa de estabilização não pode é se transformar, como ocorreu com o
Cruzado, num estelionato eleitoral. Porque, se isso ocorrer, jamais qualquer
governo futuro conseguirá intervir eficazmente na economia. O País se
transformará numa "selva" econômica, onde a lei do mais forte
continuará sempre a prevalecer.
(Artigo
publicado na página 2, do suplemento especial "Plano Real", do
Correio Popular, em 29 de junho de 1994).
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