Wednesday, March 08, 2017

Medidas têm raízes políticas


Pedro J. Bondaczuk


O plano de estabilização econômica, cujo cerne é o lançamento da nova moeda, que se pretende seja forte e à prova de corrosão, o Real, é, como qualquer outro dessa natureza, eminentemente político. Até porque, a economia não é uma ciência exata. Configura-se como uma atividade empírica, na base da tentativa, erro e correção.

A diferença desse programa, em relação aos demais, é que a terceira e mais aguda fase da sua implantação ocorre em plena campanha presidencial, em que o seu autor é um dos candidatos. Daí esperar-se oposição da parte dos adversários. Até que ponto essa resistência vai ser eficaz é a grande questão que se coloca e que pode determinar o sucesso ou o fracasso do plano.

A primeira grande batalha política, a congressual, foi vencida pelo governo, com a aprovação da emenda constitucional criando o Fundo Social de Emergência e da Medida Provisória instituindo a Unidade Real de Valor, o que não deixa de ser uma façanha.

Basta atentar para a inércia do Parlamento, num momento em que deputados e senadores estão mais preocupados com a própria reeleição, do que com os complicados problemas do País.

Dizer que o programa de estabilização vai dar certo ou errado seria uma ingenuidade e até irresponsabilidade. Até porque, há muitos obstáculos, entre os quais a autodisciplina do próprio governo e a cultura inflacionária arraigada na população, a serem superados.

Por melhor que tenha sido o planejamento, na prática, certamente, aparecerão questões que não foram previstas. O deputado Delfim Netto costuma dizer que "a economia só resolve um problema antigo, criando dois problemas novos". Quais serão os criados com o Real? Essa é a questão.

O plano só poderá funcionar caso seja bem administrado e receba os devidos ajustes, sempre que esses se fizerem necessários.

Os primeiros dias de circulação do Real serão críticos. A população precisará perceber alguma melhoria em sua situação. Caso isso ocorra, o governo ganhará um aliado irresistível para obter sucesso: a credibilidade. O norueguês Jan Elster observou que "se uma reforma é percebida como fundamentalmente justa, as pessoas serão motivadas a arcar com os custos da transição".

O que o programa de estabilização não pode é se transformar, como ocorreu com o Cruzado, num estelionato eleitoral. Porque, se isso ocorrer, jamais qualquer governo futuro conseguirá intervir eficazmente na economia. O País se transformará numa "selva" econômica, onde a lei do mais forte continuará sempre a prevalecer.

(Artigo publicado na página 2, do suplemento especial "Plano Real", do Correio Popular, em 29 de junho de 1994).


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