Ídolos
do século
Pedro J.
Bondaczuk
O homem, a despeito da ilimitada capacidade de
raciocínio de que dispõe (ao menos potencialmente), sempre teve irresistível
atração e, mais do que isso, incontrolável obsessão pela idolatria. Já
idolatrou, por exemplo, o sol, a lua, o fogo, o vento, a água e diversos
animais, atribuindo-lhes poderes mágicos que eles não têm e nunca tiveram. Os
povos mais evoluídos criaram deuses com feições, defeitos e paixões humanos.
Houve os que inventaram ídolos de seres que sequer existiram (e que, claro, não
existem), figuras aberrantes, com cabeça de cão (ou águia, ou hiena etc.) e
corpo humano, entre outras aberrações. E constituíram-nos em deuses, com todo
um ritual, dogmas e procedimentos para os idolatrar de forma apaixonada e
fanática.
Fora dos templos, adoraram desportistas que se
destacavam nos Jogos Olímpicos (os originais, disputados nos arredores do Monte
Olimpo, na Grécia), generais, imperadores, gladiadores etc. Nos tempos atuais,
idolatram astros e estrelas dos esportes, atores e atrizes do teatro, cinema e
televisão, cantores dos mais diversos gêneros etc.etc.etc.
Todos os períodos da História – que se constitui, na
verdade, numa pornográfica sucessão de guerras, injustiças, maldades,
contradições e violências de toda a sorte – têm seus ídolos, seus Baals, seus
“bezerros de ouro”, seus objetos de culto aos quais a maioria se inclinava e
venerava (o que, por estranho que pareça, ainda fazem com constância e
compunção).
Daí o mundo, que poderia ser um Paraíso de risos e
venturas, ser este perverso “vale de lágrimas”, de sofrimentos e dores.
Esgotados todos os símbolos de idolatria, o homem houve por bem idolatrar seus
semelhantes, rotulando os de suposta conduta ilibada de “santos”, aos quais
atribuíram, além de imortalidade, poderes que eles nunca tiveram e jamais
terão. Fabricaram imagens que supostamente têm suas feições e passaram a adorar
a esses objetos que, juram por todas as juras, são “milagrosos”, lhes erigindo
altares e estabelecendo cultos repletos de rituais. Praticamente todos os dias
surgem novas “religiões” em alguma parte
do mundo. Ora são criadas por fanáticos, ora por desequilibrados, ora por meros
espertalhões. E o estranho é que todas passam a ter fiéis adeptos.
E não são, apenas, as pessoas simples, humildes e
carentes de conhecimentos e informações, que agem dessa forma e praticam
(aberta ou disfarçadamente) algum tipo de idolatria, que rotulam de religião. E
ai de quem ousar contestar esse procedimento! Muita gente sábia já perdeu a
vida em fogueiras por muito menos do que a mera contestação.
Nem sempre, é verdade, os idolatrados são pessoas
(em geral guerreiros, em detrimento dos sábios e dos idealistas). A psiquiatra
Nise da Silveira, no livro “Jung Vida e Obra”, aponta quais foram, por exemplo,
os ídolos do século passado (sem que os “idólatras” sequer se dessem conta
dessa idolatria): “O século XX conhece grandes ídolos: raça, sexo, Estado,
partido, dinheiro, máquina...”.
Isso explica a razão do mundo estar como está:
poluído, ameaçado de ter seu equilíbrio natural definitivamente rompido,
injusto, perverso e sofrido. Uma pergunta se insinua e se impõe a respeito:
qual a verdadeira religião do homem contemporâneo, aquela que ela professa de
fato, sinceramente, sem falsidade ou disfarce, e não apenas de maneira formal,
como a que declara seguir?
Mais de novecentas milhões de pessoas ao redor do
mundo declaram-se cristãs, como nos mostram as estatísticas. Quantas, todavia,
exercem, de fato, o cristianismo? Dez por cento? Cinco? Dois? São poucos! Não
gosto de abordar o tema religião, porquanto trata-se de questão de foro íntimo
de cada um.
Analiso-a, contudo, com o olhar frio, desapaixonado
e objetivo do cientista, do sociólogo, do estudioso do comportamento e concluo,
com tristeza e decepção, que os objetos de culto do homem contemporâneo são:
seu clube esportivo (quem nunca ouviu alguém dizer que encara o time de futebol
pelo qual torce como religião?), o dinheiro, o automóvel, enfim, os tantos e
tantos e tantos objetos de ostentação e futilidade que há por aí.
É lamentável, mas trata-se da realidade nua e crua
atual mundo afora. As pessoas apegam-se a bobagens, sem valor ou sentido, e
investem suas vidas nelas. Recusam-se a raciocinar e a entender o quão
primitivo, irracional e tolo é esse procedimento.
O sociólogo A. Greeley aponta um dos cultos mais
disseminados nesta segunda década do
século XXI: “Basta visitar o salão anual do automóvel para reconhecer ali uma
manifestação religiosa profundamente ritualizada. O culto do veículo sagrado tem
seus fiéis e seus iniciados”. E ele está errado? Infelizmente, não!!! Quantas
pessoas, tidas e havidas como equilibradas e racionais, não assassinam outras
apenas porque elas ousaram avariar (não raro, causar apenas um quase
imperceptível arranhão na lataria) seus “sagrados” e idolatrados carrões?!
Oxalá neste século XXI a humanidade tenha o
bom-senso de substituir todos os ídolos, sem exceção, por valores perenes, que
engrandecem e sublimam o homem, como bondade, justiça, solidariedade e profundo
amor um pelo outro, entre tantos. E que adore, somente, única e exclusivamente,
o Criador do universo, Onipotente, Onipresente, Onisciente, Perfeito e Eterno.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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