Senado dá mau exemplo
Pedro J. Bondaczuk
Os
políticos brasileiros (salvo honrosas exceções) continuam se esmerando na
prática de irregularidades, sustentando e ampliando a falta de credibilidade de
que gozam. Quando nos palanques e nos programas eleitorais gratuitos de rádio e
televisão, falam de ética, da necessidade de mudanças, da disposição de servir
o País e os cidadãos que lhes passaram procuração para agir em seu nome através
do voto, e outras coisas tão louváveis, do mesmo teor. Só que na hora de agir,
é aquele desastre. Agora vem à baila novo escândalo, em plena reta final da
campanha, envolvendo vários senadores.
Trata-se
do uso da gráfica do Senado, para a impressão de propaganda. O próprio
presidente da Casa, Humberto Lucena, foi pilhado praticando essa
irregularidade. Acabou tendo a candidatura à reeleição cassada. Agora a
imprensa divulga os nomes de pelo menos oito senadores que também burlaram a
lei, agindo da mesma forma.
Trata-se
de um mau exemplo não apenas para a classe política, mas para os cidadãos
comuns. Se quem é responsável pela elaboração das leis não as cumpre, como
exigir que outras pessoas se submetam a elas? Será que para o legislador há
duas categorias de brasileiros? A Constituição, pelo menos, não diz isso em seu
texto. Pelo contrário. Preceitua que todo o brasileiro é igual perante a lei.
Em
todos os países democráticos, os senadores são considerados "pais da
pátria". Em alguns lugares, o cargo é vitalício e o Senado é a máxima
instância legislativa. Seus membros são considerados exemplos de moralidade e
de probidade.
No
Brasil, contudo, isto ocorre apenas em teoria. Essa burla à legislação
eleitoral nos recorda um artigo escrito por Dom Luigi Sturzo, publicado em 1957
no jornal "A Gazeta", onde o clérigo adverte: "Um Estado em que
não se observam as leis, e dessa inobservância dão triste exemplo os próprios
legisladores, as autoridades às quais incumbe fazê-las observar, os próprios
empregados e os agentes que são o braço executivo, já é um Estado
espiritualmente doentio e juridicamente enfraquecido".
Entre
todas as reformas que o País precisa --- e estas são muitas, com destaque para
a política, tributária, previdenciária e social --- a mais relevante e urgente
é, sem dúvida, a moral. O eleitor tem o instrumento para pelo menos dar início
ao processo. O que se questiona é se possui informação e conscientização
suficientes para agir dessa forma.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 16 de setembro de 1994).
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