Teste de maturidade
Pedro J. Bondaczuk
A
população brasileira deu, na segunda-feira, mais uma demonstração de maturidade
política, digna de registro e de todos os elogios. Compareceu em massa às
urnas, de forma disciplinada e ordeira, para exercer, mais uma vez, o sagrado
direito do voto. Transformou uma eleição, que as autoridades temiam que fosse
tensa e complicada, numa verdadeira festa.
O
comportamento do eleitorado foi de tal sorte, que levou o presidente do
Tribunal Superior Eleitoral, ministro Sepúlveda Pertence, a constar, ao fazer
um primeiro balanço da votação: "O exercício do voto transcorreu em clima
de absoluta e até assustadora normalidade em todas as 284 mil seções!"
Esse
senso cívico, aliás, não chega a ser surpreendente quando se lembra que se
trata do mesmo povo que há meros noventa dias realizou a maior troca monetária
da história mundial, sem nenhum tumulto, atropelo ou tensão. Tanto que a União
Européia pensa em usar o nosso "know-how" para quando unificar a
moeda comunitária.
Há
dois anos, esse mesmo país, tão criticado no Exterior, afastou um presidente
que não soube honrar o mandato que a população lhe concedeu, nos limites
estritos da lei. Não houve golpe, baderna, violência e nada sequer parecido.
Simplesmente o povo pressionou o Congresso --- que sequer era dos mais
confiáveis --- a votar (e aprovar) um impeachment.
Afastado
o faltoso, o poder foi transferido normalmente para o vice-presidente. E o País
continuou funcionando tranqüilo, como se nada houvesse ocorrido. Onde alguém já
viu tamanha maturidade? As eleições de segunda-feira, portanto, não se
constituíram em nenhuma exceção. O comportamento do eleitorado apenas confirmou
a regra.
O
índice de abstenção, igualmente, parece ter sido dos mais baixos, de acordo com
os primeiros dados. É certo que o voto no País é obrigatório. Mesmo assim, em
votações anteriores, entre 20% a 30% dos aptos a votar se abstiveram.
Este
ano, a taxa dos que deixaram de comparecer às urnas nas regiões Centro-Oeste e
na Amazônia, tende a chegar a até 25%. O motivo foram as fortes chuvas que
caíram durante o pleito. Perfeitamente justificável, portanto. Mas em termos
nacionais, a média será muito menor, a comprovar que o brasileiro, quando
devidamente motivado, não se omite do seu dever.
Sepúlveda
Pertence destacou isso ao dizer que a nossa sociedade mostrou que "quando
quer, sabe se organizar". E como sabe! Caberá aos eleitos não decepcionar
essa manifestação de esperança e maturidade da população. Os cidadãos fizeram a
sua parte e agora esperam uma resposta adequada dos políticos. Porque, depois
desse belo espetáculo democrático, dessa manifestação de confiança nos destinos
nacionais, as cobranças, com toda a justiça do mundo, serão muito maiores do
que foram até aqui. O País mostrou, mais uma vez, que está mudando para melhor.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 5 de outubro de 1994).
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