Thursday, March 02, 2017

Teste de maturidade


Pedro J. Bondaczuk


A população brasileira deu, na segunda-feira, mais uma demonstração de maturidade política, digna de registro e de todos os elogios. Compareceu em massa às urnas, de forma disciplinada e ordeira, para exercer, mais uma vez, o sagrado direito do voto. Transformou uma eleição, que as autoridades temiam que fosse tensa e complicada, numa verdadeira festa.

O comportamento do eleitorado foi de tal sorte, que levou o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Sepúlveda Pertence, a constar, ao fazer um primeiro balanço da votação: "O exercício do voto transcorreu em clima de absoluta e até assustadora normalidade em todas as 284 mil seções!"

Esse senso cívico, aliás, não chega a ser surpreendente quando se lembra que se trata do mesmo povo que há meros noventa dias realizou a maior troca monetária da história mundial, sem nenhum tumulto, atropelo ou tensão. Tanto que a União Européia pensa em usar o nosso "know-how" para quando unificar a moeda comunitária.

Há dois anos, esse mesmo país, tão criticado no Exterior, afastou um presidente que não soube honrar o mandato que a população lhe concedeu, nos limites estritos da lei. Não houve golpe, baderna, violência e nada sequer parecido. Simplesmente o povo pressionou o Congresso --- que sequer era dos mais confiáveis --- a votar (e aprovar) um impeachment.

Afastado o faltoso, o poder foi transferido normalmente para o vice-presidente. E o País continuou funcionando tranqüilo, como se nada houvesse ocorrido. Onde alguém já viu tamanha maturidade? As eleições de segunda-feira, portanto, não se constituíram em nenhuma exceção. O comportamento do eleitorado apenas confirmou a regra.

O índice de abstenção, igualmente, parece ter sido dos mais baixos, de acordo com os primeiros dados. É certo que o voto no País é obrigatório. Mesmo assim, em votações anteriores, entre 20% a 30% dos aptos a votar se abstiveram.

Este ano, a taxa dos que deixaram de comparecer às urnas nas regiões Centro-Oeste e na Amazônia, tende a chegar a até 25%. O motivo foram as fortes chuvas que caíram durante o pleito. Perfeitamente justificável, portanto. Mas em termos nacionais, a média será muito menor, a comprovar que o brasileiro, quando devidamente motivado, não se omite do seu dever.

Sepúlveda Pertence destacou isso ao dizer que a nossa sociedade mostrou que "quando quer, sabe se organizar". E como sabe! Caberá aos eleitos não decepcionar essa manifestação de esperança e maturidade da população. Os cidadãos fizeram a sua parte e agora esperam uma resposta adequada dos políticos. Porque, depois desse belo espetáculo democrático, dessa manifestação de confiança nos destinos nacionais, as cobranças, com toda a justiça do mundo, serão muito maiores do que foram até aqui. O País mostrou, mais uma vez, que está mudando para melhor.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 5 de outubro de 1994).


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