Golfo Pérsico continua
instável
Pedro J. Bondaczuk
A
guerra do Golfo Pérsico, com todos os seus horrores e sua dramaticidade, não
resolveu, em absoluto, os problemas que envolvem o Oriente Médio e fazem dessa
região a mais instável e tensa do mundo há pelo menos quatro décadas. Quando
muito, eliminou uma ameaça --- se é que fez de fato isto, o que ainda é
contestável --- representada pela existência da quarta maior força militar
mundial situada no Golfo Pérsico, que era o Iraque antes da confrontação.
Todavia,
o fenômeno Saddam Hussein não desapareceu do cenário regional. Por algum tempo,
enquanto cura as feridas da derrota, o presidente iraquiano pode não
representar mais um risco que se deva
levar em consideração. Mas por quanto tempo?
Um
novo equilíbrio de forças, centrado numa solução árabe, envolvendo Síria e
Egito, está sendo tentado. As seis monarquias do Golfo --- Arábia Saudita,
Kuwait, Bahrein, Qatar, Oman e Emirados Árabes Unidos --- concordaram, na
reunião realizada nesta semana em Damasco, com o estabelecimento de uma tropa
permanente na zona, como uma espécie de guarda, de "gendarme", que
era o título empregado para o Irã de antes de 1979, anterior à Revolução
Islâmica, quando esse país exercia tal papel, defendendo, bem ou mal, os
interesses do Ocidente.
O
pacto firmado na quarta-feira representa uma vitória para o presidente sírio,
Hafez Assad, visto com desconfiança pela sua comunidade por haver apoiado a
posição iraniana na guerra que esse país travou com o Iraque, de 1980 a 1988.
Para
um Saddam enfraquecido --- se de fato estiver impedido de se rearmar, o que é
muito contestável, dados os interesses dos que comandam o mercado
"spot" de armas --- esta solução será um tormento a mais para ele
suportar. Afinal, a Síria sempre foi tida e havida como sua maior antagonista
na região. E a nova força será composta por soldados dessa nação e do Egito.
Resta
saber se sírios e egípcios conseguirão coexistir nesse tipo de aliança. O fato
de haverem lutado juntos, do mesmo lado, no recém findo conflito, não eliminou
as divergências, inclusive ideológicas, e portanto muito profundas, entre seus
regimes.
É
verdade que ambos têm um retrospecto de cooperação, pois já compuseram uma
fracassada federação, que foi a República Árabe Unida, que se esfacelou na
década de 1970. Além disso, o novo sistema de segurança regional, a dita
solução árabe para garantir a estabilidade no Golfo, não levou em conta um país
importante nesse contexto: o Irã.
O
regime dos aiatolás saiu fortalecido da guerra, pela posição inteligente ---
diríamos, pragmática --- de seu presidente, Ali Akbar Hashemi Rafsanjani, de,
embora condenando a invasão iraquiana ao Kuwait, se opor à destruição do Iraque
pelas forças multinacionais.
Economicamente,
Teerã só teve benefícios ao longo de toda a crise, "herdando" os
clientes de petróleo dos dois fornecedores locais envolvidos na confrontação.
Portanto, à primeira vista, a propalada "solução" árabe para a
segurança regional tem tudo para ser, na verdade, uma nova complicação.
(Artigo
publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 8 de março de
1991).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment