Monday, March 06, 2017

Votar é preciso


Pedro J. Bondaczuk


O eleitorado brasileiro está a menos de duas semanas das eleições mais importantes de qualquer sistema democrático, as municipais, quando escolherá os administradores das cidades em que reside. Dessa escolha dependerá diretamente seu grau de conforto ou desconforto nos próximos quatro anos. Por isso, convém que analise criteriosamente não apenas as propostas dos candidatos, mas, sobretudo, seu passado, para concluir se são ou não capazes de cumprir o que prometem.

E, por piores que possam ser os nomes colocados à sua escolha, o eleitor não deve se omitir, anulando seu voto ou votando em branco, para não abrir mão de um dos poucos direitos que possui, que é o de eleger o administrador de sua comunidade.

As campanhas, pelo que se pôde observar, apresentaram pouca --- ou virtualmente nenhuma --- alteração em relação às anteriores. Em algumas cidades, especialmente nas capitais, foram sofisticadas, com a utilização das mais recentes técnicas de marketing político. Em outras, foram caracterizadas pelas mensagens vazias e trocas de insultos de sempre entre os candidatos.

Isto, porém, não deve assustar ninguém. Não se trata de fenômeno restrito a sociedades não muito acostumadas às práticas democráticas, como a nossa. Tais distorções se verificam nas mais variadas partes do mundo.

A campanha presidencial norte-americana, por exemplo, nunca foi das mais edificantes e, no entanto, nos Estados Unidos as instituições funcionam e, desde 1776, a cada quatro anos, fossem quais fossem as circunstâncias, os cidadãos desse país compareceram religiosamente às urnas para eleger seu presidente.

Eleições na Europa costumam ter troca de "chumbo grosso" entre seus candidatos que assustaria qualquer brasileiro desavisado. E, no entanto, não se pode dizer que seus políticos ou seu eleitorado não sejam civilizados.

O necessário é que as pessoas saibam filtrar o concreto da retórica, não se deixem levar pelos artifícios da propaganda e escolham o candidato mais adequado para gerir sua comunidade. Admite-se que uma opção absolutamente correta nem sempre é fácil, mas com o tempo, com a repetição do exercício democrático, o eleitorado finda por aprender como votar bem.

Por isso, é indispensável que ninguém se omita, que não abra mão do seu direito de escolha, que deve ser sagrado e defendido com todo o vigor quando estiver ameaçado.

É preciso entregar os destinos urbanos a gente competente e com novas idéias. Giulio Carlo Argan, historiador de arte italiano e ex-prefeito de Roma, advertiu, recentemente, numa entrevista: "A gestão que a sociedade capitalista faz, seja nas cidades, seja nos territórios periféricos, está sendo tal que levará, incontestavelmente, a um desastre urbano nas cidades e a um desastre ecológico nas periferias".

É necessário que o eleitor, sobretudo, seja bem informado, pelo menos acerca dos problemas da sua comunidade. Nem sempre o melhor administrador é o que faz obras e mais obras, sem se importar se os moradores precisam de fato delas. É o que é probo na gestão da coisa pública, transparente em todos os seus atos e que sabe pesar bem a relação custos/benefícios dos investimentos que realiza com o dinheiro arrecadado de seus munícipes.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 25 de setembro de 1992).


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