Sunday, March 25, 2007

Seres humanos não são classificáveis por raça


Pedro J. Bondaczuk


A história jamais se repete e, por essa razão, os erros cometidos no passado, que levaram civilizações à decadência e à posterior extinção, acabam sendo esquecidos. Caso não o fossem, sofrimentos inúteis, destruições insensatas e massacres criminosos seriam certamente evitados.

Se porventura a humanidade soubesse não reincidir em equívocos praticados em outros tempos, os povos teriam queimado etapas na busca de uma sociedade ideal, onde houvesse fartura, equilíbrio e solidariedade. Em que todos pudessem se sentir realizados e, conseqüentemente, felizes.

Mas por causa, exclusivamente, da nossa estupidez, o simples desejo de coisas tão corriqueiras e fáceis de se conseguir hoje soa como utopia, como uma enorme fantasia, como algo que extrapola, em muito, o plano da realidade.

O racismo, nas mais variadas formas em que se apresenta, já redundou, entre outras coisas, em duas guerras mundiais neste século. A primeira foi causada pela revolta dos bósnios e sérvios, que se recusavam a ver parte dos seus territórios anexada à Áustria. E por razões puramente étnicas. Por isso, Gavrilo Princip, integrante de um grupo nacionalista chamado "Mão Negra", que costumava manter reuniões na taverna "Grinalda Verde", em Belgrado, foi incumbido de uma missão que ele julgava sagrada e que no entanto se revelou desastrosa. Ou seja, deveria assassinar o arquiduque Francisco Ferdinando, que estava com viagem marcada para a Bósnia, para comandar exercícios militares.

E ele cometeu, de fato, esse ato de violência, que encarava como fundamental para a sua causa, em 28 de junho de 1914. Com isso, conseguiu deflagrar a Primeira Guerra Mundial, que já vinha "fermentando" há tempos e que carecia somente de um pretexto para começar.

Passados 21 anos dessa conflagração, e eis que outra, muito mais escabrosa e cruel, surgiu, por idênticos motivos: por pretensa superioridade de uma etnia sobre outra (ou sobre outras, para sermos mais exatos). Foi deflagrada por uma questão indefinida, vaga, tola ao extremo, chamada "racismo".

O que, em termos de seres humanos, se entende por "raça"? A separação de pessoas por tal parâmetro é indigna. Animaliza os homens. Estes possuem a identidade do seu poder de raciocínio, do livre-arbítrio, do fato de serem "imagem e semelhança" da divindade. Raça é algo que se aplica para seres inferiores, para os animais, não para pessoas.

Mas é este conceito estúpido e ilógico que ainda prevalece hoje. Na África do Sul, a maioria do povo que habita esse país foi privado por anos de todos os direitos em sua própria pátria somente por uma questão de cor da pele. Nos Estados Unidos, os conflitos raciais permanecem sempre latentes. Na União Soviética, distúrbios étnicos entravaram a evolução da "glasnost" e da "perestroika". E o racismo se multiplica pela Grã-Bretanha, Itália, França etc. Que pena que a história nunca se repita!

(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 5 de setembro de 1989).

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