Sunday, March 11, 2007

Talento nunca teve idade


Pedro J. Bondaczuk


A vida é um dom precioso demais para que em algum momento da sua trajetória venhamos a abrir mão dessa prerrogativa, perdendo a vontade de viver. Qualquer que seja seu conteúdo, devemos beber esse cálice até o fim, por ele ser único. Não é, porém, o que ocorre com determinadas pessoas quando sentem que perderam o vigor físico, a beleza e parte da capacidade mental.
Muitos, nestas circunstâncias, deixam-se abater pelos anos e chegam, mesmo, a abrir mão de sua dignidade. Aceitam o rótulo de “inválidos”, como se fosse possível algum homem, em algum tempo, perder seu valor por completo.
Estes aspectos são o ponto central da “2ª Jornada Rotária Sobre o Envelhecimento”, promovida pelo Rotary Internacional, Governadoria do Distrito 459, em Campinas. O evento, realizado sob o lema “3ª Idade – Autonomia e Vontade de Viver”, coordenado pelo gerontólogo Flávio da Silva Fernandes, teve como um dos principais propósitos despertar a comunidade para a importância de se oferecer informações e orientação continuada às pessoas que envelhecem.
Quem foi que disse, e baseado em que dados concretos, que um idoso é, necessariamente, um peso, um ser humano desinteressante, improdutivo e acabado, que apenas serve de estorvo? Observem esta relação: Eugênio Gudin (100 anos), Cary Grant (82), Dom Avelar Brandão Vilela (74), Henry Moore (88), Simone de Beauvoir (78), Magdalena Tagliaferro (92) e Jean Genet (74).
O que essa gente tem em comum, além do fato de todas as personalidades relacionadas terem morrido em 1986? A idade. Todas essas pessoas mantiveram-se ativas e foram celebridades, para além dos 70 anos. Beberam o cálice da vida até a última gota, porque eram indispensáveis.
Todo ser humano que sabe se valorizar e lutar por uma causa, qualquer que ela seja; que ocupa a mente com idéias construtivas e nunca com lembranças (boas ou ruins) de um passado que não se recupera jamais, tem essa característica.
O dramaturgo Berthold Brecht definiu essa questão de uma forma simplesmente magistral, ao escrever: “Há homens que lutam por um dia e são bons. Há outros que lutam um ano, e são melhores. Há os que lutam muitos anos e são muito bons. Mas há os que lutam toda a vida. Estes são imprescindíveis”. É preciso que a sociedade se conscientize disso.
No passado, os povos civilizados da Antigüidade tinham nos anciões as suas “bibliotecas”, numa época em que não havia sido inventada a escrita. Eles é que transmitiam as tradições de uma geração a outra. Será que o homem contemporâneo é tão mais burro do que os seus antepassados? Claro que não!!!

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 28 de setembro de 1990)

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