Falta alegria à Seleção
Pedro J. Bondaczuk
O
técnico Carlos Alberto Parreira declarou, após os 4 a 0 deste domingo contra a
fragílima seleção de El Salvador, que a equipe brasileira está pronta para a
estréia da próxima segunda-feira contra a Rússia, na arrancada para o
tetracampeonato mundial. Tomara,
O
que os analistas e torcedores puderam perceber foi uma série de dúvidas e
indefinições acerca da escalação ideal. O esquema, pelo que ficou claro, vai
ser o mesmo testado nos últimos quatro anos, ou melhor, o mesmíssimo do técnico
Sebastião Lazaroni, no vexame de 1990 na Itália.
O
time que jogou o segundo tempo na partida deste domingo, em Fresno, foi, sem
dúvida, o que mais agradou à torcida e à crônica. Claro, com a manutenção da
dupla de matadores do ataque, Romário e Bebeto. O mais provável, porém, é que
Parreira mantenha a mesma formação dos primeiros tempos dos jogos contra
Canadá, Honduras e El Salvador, à exceção de Ricardo Gomes, que se machucou e
deve ficar fora desta Copa e do Taffarel, no lugar de Zéti.
O
que nos chama a atenção e nos preocupa, como certamente a todos os torcedores
brasileiros, é o futebol robotizado, excessivamente esquematizado, até mesmo
engessado da atual Seleção. O jornalista Armando Nogueira definiu bem esse
sentimento, pela "Rede Bandeirantes", ao afirmar que "falta
alegria" a esse grupo.
Os
jogadores atuam carrancudos, sisudos, raramente sorriem. Parecem soldados indo
para a guerra e não atletas que participam de mera competição esportiva, por
maior importância que esta tenha para o brasileiro. Não há, como em 1958 e
1962, a criatividade e a irreverência de um Pelé, de um Garrincha ou de um
Didi. Nem o toque alegre e desconcertante de um Tostão, de um Rivelino ou de um
Gerson, na Copa de 1970.
Os
esquemas estão matando o nosso futebol, que perdeu aquela plasticidade, aquele
passo de autêntico balé. Vemos uma ou outra jogada de efeito, de um Romário ou
de um Bebeto. Mas falta alguma coisa. O talento, sob o pretexto de ser
disciplinado, está, na verdade, inibido. E, queiram ou não, ele é o grande
fator de desequilíbrio.
Com
essa observação não estamos querendo dizer que não acreditamos na seleção
brasileira. Pelo contrário, ela continua sendo a favorita disparada de nove
entre dez amantes do futebol no mundo todo. Se vai ser a campeã, ou não, é
outra coisa. Trata-se, obviamente, de uma disputa. E dentro do campo, todo o
favoritismo, todas as previsões e até mesmo toda a técnica geralmente acabam
sendo anulados pelos azares de uma partida.
(Artigo
publicado na página 2, do caderno "Copa 94" do Correio Popular, em 14
de junho de 1994).
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