Sunday, March 15, 2015

Falta alegria à Seleção


Pedro J. Bondaczuk


O técnico Carlos Alberto Parreira declarou, após os 4 a 0 deste domingo contra a fragílima seleção de El Salvador, que a equipe brasileira está pronta para a estréia da próxima segunda-feira contra a Rússia, na arrancada para o tetracampeonato mundial. Tomara,

O que os analistas e torcedores puderam perceber foi uma série de dúvidas e indefinições acerca da escalação ideal. O esquema, pelo que ficou claro, vai ser o mesmo testado nos últimos quatro anos, ou melhor, o mesmíssimo do técnico Sebastião Lazaroni, no vexame de 1990 na Itália.

O time que jogou o segundo tempo na partida deste domingo, em Fresno, foi, sem dúvida, o que mais agradou à torcida e à crônica. Claro, com a manutenção da dupla de matadores do ataque, Romário e Bebeto. O mais provável, porém, é que Parreira mantenha a mesma formação dos primeiros tempos dos jogos contra Canadá, Honduras e El Salvador, à exceção de Ricardo Gomes, que se machucou e deve ficar fora desta Copa e do Taffarel, no lugar de Zéti.

O que nos chama a atenção e nos preocupa, como certamente a todos os torcedores brasileiros, é o futebol robotizado, excessivamente esquematizado, até mesmo engessado da atual Seleção. O jornalista Armando Nogueira definiu bem esse sentimento, pela "Rede Bandeirantes", ao afirmar que "falta alegria" a esse grupo.

Os jogadores atuam carrancudos, sisudos, raramente sorriem. Parecem soldados indo para a guerra e não atletas que participam de mera competição esportiva, por maior importância que esta tenha para o brasileiro. Não há, como em 1958 e 1962, a criatividade e a irreverência de um Pelé, de um Garrincha ou de um Didi. Nem o toque alegre e desconcertante de um Tostão, de um Rivelino ou de um Gerson, na Copa de 1970.

Os esquemas estão matando o nosso futebol, que perdeu aquela plasticidade, aquele passo de autêntico balé. Vemos uma ou outra jogada de efeito, de um Romário ou de um Bebeto. Mas falta alguma coisa. O talento, sob o pretexto de ser disciplinado, está, na verdade, inibido. E, queiram ou não, ele é o grande fator de desequilíbrio.

Com essa observação não estamos querendo dizer que não acreditamos na seleção brasileira. Pelo contrário, ela continua sendo a favorita disparada de nove entre dez amantes do futebol no mundo todo. Se vai ser a campeã, ou não, é outra coisa. Trata-se, obviamente, de uma disputa. E dentro do campo, todo o favoritismo, todas as previsões e até mesmo toda a técnica geralmente acabam sendo anulados pelos azares de uma partida.

(Artigo publicado na página 2, do caderno "Copa 94" do Correio Popular, em 14 de junho de 1994).


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