À guisa de
esclarecimento
Pedro
J. Bondaczuk
O que é melhor para um
escritor aumentar suas chances de sucesso: escrever muito ou ser parcimonioso
na quantidade de textos produzidos, concentrando toda atenção na qualidade?
Depende. O ideal, conforme vejo a questão, é escrever bem e bastante. Há,
contudo, condições para que a quantidade seja fator que amplie as chances de
êxito. Ela torna-se importante, por exemplo, desde que o redator não cometa
deslizes de qualquer natureza. Desde que, não seja repetitivo e nem tenha
estilo monótono e outros tantos defeitos comuns a redatores de potencial até
que elevado. Desde que escreva sobre o que seja interessante e principalmente
útil e por prazer, não por mera obrigação. E vai por aí afora.
Não existe, todavia,
nenhuma fórmula mágica, alguma regra fixa que, se seguida, atrairá com certeza
a atenção e gosto de uma infinidade de
leitores e fará com que todos os livros de determinado escritor sejam
best-sellers, Até porque, o sucesso é caprichoso e traiçoeiro. É, em boa parte
dos casos (desconfio que em todos) aleatório. Depende de você fazer a coisa
certa, no momento adequado e que tenha como “juízes” (no caso os leitores) que
coincidentemente gostem dos temas que você tratou e da forma com que os
desenvolveu. Às vezes você faz tudo certinho, conforme o figurino e...
fracassa. Em outras, sem mesmo saber como e por que, transforma um tema banal
em obra-prima. Teme pelo fracasso e é surpreendido pelo sucesso.
Alguns escritores
escrevem e publicam uma infinidade de livros e são bem-sucedidos com a maioria
e não raro até com a totalidade. É o caso de Isaac Asimov, cuja obra literária
ascende a 511 publicações, todas com excelente volume de vendas e ótima
aceitação da critica e do público. Há, porém, escritores que ao longo de toda a
vida escrevem e publicam uma única obra, que, no entanto, os consagra e
perpetua seus nomes na história da Literatura. Querem um exemplo? O mexicano
Juan Rulfo, autor de “Planalto em chamas”, livro que lhe trouxe fama (e não sei
se também fortuna. Mas...).
Da minha parte, optei
pela segunda condição, ou seja, por escrever bastante, o quanto puder, sem
deixar de ser obcecado pela qualidade. Pondero, no entanto, que fiz essa opção
não de olho propriamente no sucesso, embora se este vier, será, claro, muito
bem vindo. Gosto de escrever. Para mim este ato tornou-se vital, como comer,
beber, respirar etc. Juro que não é exagero e nem estou fazendo gênero,
querendo mostrar um Pedro que não sou. Quando escrevo, é como se estivesse
conversando com uma multidão, embora esteja rigorosamente sozinho em meu
gabinete de trabalho. Ademais, assunto não me falta. A quantidade de temas que
gostaria de tratar é, sem exagero, infinita.
É verdade que às vezes
me repito. Não raro, me contradigo. Volta e meia meus críticos detectam em meus
textos inúmeras incoerências. Mas... por mais genial que eu fosse, dificilmente
conseguiria aliar, sempre, sem nenhuma exceção, a quantidade à qualidade. Se
conseguir unir esses dois fatores em, digamos, 5% dos textos que produzir, já
me darei por satisfeito. Mas não de olho no sucesso, que raramente me passa
pela cabeça. Quero, sim, é conquistar novos leitores (quanto mais, melhor) e
conservar os que já tenho, cuja quantidade desconheço e tenho certeza que
jamais conhecerei. Presumo que seja um número razoável, a julgar pelos e-mails
que recebo diariamente, com críticas (felizmente poucas), elogios (em
quantidade razoável) e sugestões, a maioria das quais acato.
Às vezes, esses
correspondentes me confundem. Um número razoável deles confessa não se sentir
bem com essa forma minha de escrever, personalizando meus textos, escritos
invariavelmente na primeira pessoa do singular. Ora, eles são (salvo exceções)
conversas com “fantasmas”. É como se eu estivesse batendo papo com um punhado
de amigos, de maneira descontraída e livre, quando os escrevo. E essas
tertúlias (gostaram do termo?) não podem ser com linguagem empolada e formal.
Não combina. Ademais, escrevo sobre o que conheço, mesmo que superficialmente,
e as opiniões são exclusivamente minhas. Têm que ser expressadas, portanto, na
primeira pessoa, ou não?!
Mas, como disse, meus
correspondentes às vezes me deixam confuso. Enquanto alguns reclamam da
personalização que adoto, outros me cobram que fale mais de mim, de minhas
experiências, das minhas idéias e emoções e vai por aí afora. Alguns vão ao
extremo de me exigir extensa e detalhada autobiografia. Ora, ora, ora. Mas meus
textos já são, de certa forma, autobiográficos. São frutos exclusivos da minha
experiência pessoal, do que vejo, ouço, leio ou simplesmente imagino. Há tempos
eu já devia esta explicação aos que me dão o privilégio de sua leitura diária.
Trago-a à baila, aliás, por sugestão de um dileto amigo, desses raros em que a
gente confia irrestritamente, sem receios ou vacilações. Quanto a obter
sucesso... Se não obtive até hoje, é improvável que o consiga algum dia. Mas...
Quem o sabe? Como prever, com um mínimo de possibilidade de acerto, o
aleatório? Se a previsão fosse possível, perderia a característica da
casualidade, concordam?
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