Escassez de água já
ameaça agricultura
Pedro
J. Bondaczuk
A crescente escassez de
água potável, não levada a sério por quem não é diretamente afetado por ela – e
até por quem é, mas que considera, sem nenhuma base em fatos, que se trata só
de problema sazonal – tende, caso venha a se acentuar (e tudo indica que virá),
a provocar situação muito mais grave, na verdade catastrófica em todo o mundo:
a da fome generalizada. “Mas como?!”, perguntarão tanto o cético quanto o
alienado, “você não está se referindo a alimentos”, observarão. Ocorre que quer
a agricultura, quer a pecuária, ambas não podem prescindir de água e não é
prudente depender exclusivamente de caprichos climáticos, no caso, das chuvas.
São atividades que requerem fornecimento contínuo, para serem viáveis. Sem água
suficiente, portanto, não haverá alimentos. E sem estes... é melhor deixar
apenas nas reticências as conseqüências óbvias que adviriam caso isso
acontecesse.
Há quem entenda que
culturas irrigadas são minoria, são pontuais, são restritas a determinadas
regiões ou países. Ledo engano! A Organização das Nações Unidas para a
Agricultura e Alimentação (FAO), desfez essa impressão, em meticuloso e extenso
informe publicado em fevereiro de 1994, há, portanto, vinte anos. O documento,
em forma de livro, previu que em 2024 (portanto, em apenas uma década), 80% dos
alimentos suplementares, necessários para alimentar o acréscimo de população
havido em 30 anos, procederão de lavouras dependentes de irrigação. Todavia,
projeções indicam que há risco de faltar o precioso líquido para esse fim.
Aliás, já está faltando.
O aumento de consumo na
indústria e no abastecimento das grandes aglomerações urbanas, para atender as
necessidades do cada vez maior número de habitantes, tende a acentuar a
escassez e levá-la a níveis dramáticos, insustentáveis, catastróficos. A FAO
recomendou, no livro “O estado mundial da agricultura”, que os países se
esforçassem para por em prática inovações tecnológicas que possibilitassem
economia no uso das reservas hídricas existentes. Não tenho notícia de nenhum
que esteja agindo assim. Pelo contrário, o problema parece não preocupar
governo algum. Entre as propostas contidas no documento, estavam:
estabelecimento de estruturas de incentivos de preços, regulamentações,
permissões, restrições e sanções para incentivar o uso eficaz da água.
As recomendações,
válidas para todos, são particularmente importantes para países em
desenvolvimento. Para eles, a agricultura de irrigação é vital, pois é por meio
dessa atividade que podem aumentar seus recursos, melhorar a produtividade e
por conseqüência a produção e garantir a segurança alimentar ao longo deste
século e novo milênio. Dados concretos, colhidos por pesquisadores de
comprovada competência e credibilidade, apontam que as plantas, entre os seres
vivos, consomem mais água que os homens e demais animais. Constatei isso em
várias publicações especializadas e até nas mais populares, como a enciclopédia
de ciência e tecnologia “Tecnirama”, publicada em fascículos, lançada em meados
da década de 60.
Nas cidades, inclusive
nas de menor porte, em decorrência da evolução dos hábitos de higiene,
essenciais para a saúde, o consumo médio diário, por habitante, oscila, caso
não haja desperdício, entre 500 e mil litros. Todavia, as megalópoles elas não
param de crescer. Destaque-se que as grandes obras, como a construção de casas
e de prédios etc., demandam consumo muito alto e que é, no entanto,
imprescindível. As grandes aglomerações urbanas, todavia, como as regiões
metropolitanas de São Paulo, de Campinas e da Baixada Santista, que, somadas,
abrigam população de cerca de 27 milhões de pessoas, enfrentam crescente
problema de captação em períodos de normalidade no ciclo de chuvas. Imaginem em
situações de estiagem, como a atual, que as afeta desde o verão de 2013!
O homem e os animais
domésticos bebem, anualmente, dez vezes seu próprio peso. Destaque-se que
80% do organismo humano é constituído de
água, que tem que ser reposta a cada instante, sob o risco de um colapso
orgânico que leve as pessoas à morte. Nos processos industriais, o gasto
depende do produto a ser fabricado. Na produção de tijolos, por exemplo, o
dobro do peso é quase excessivo. Para o papel, o coeficiente é de 250. Para a
fabricação de adubos nitrificados, fundamentais para a agricultura, o consumo é
altíssimo. É preciso multiplicar o peso final por 600. E nas culturas
agrícolas, há como apurar as quantidades requeridas? A resposta é: sim. Uma
lavoura de milho, por exemplo, exige mil vezes o peso do produto colhido em
água. Outros produtos agrícolas demandam quantidades do precioso líquido bem
maiores. São os casos do trigo, que requer 1.500 vezes; do arroz, 4 mil vezes e
da fibra de algodão, 10 mil vezes. A maior parte da água, necessária para o
cultivo agrícola, provém das chuvas e de sistemas rudimentares de irrigação.
O potencial hídrico dos
rios é aproveitado em quantidades ínfimas. A maior parte do seu caudal deságua
no mar e se perde. O consumo agrícola, estimado em 1,8 bilhão de toneladas por
ano, é irrisório se comparado com o volume total dos grandes rios. Não chega,
nem mesmo, a 4%¨. A superfície cultivada de terra, do Planeta, é da ordem de
apenas 1,2%. Nas zonas irrigadas, de cultivo intensivo e de poucas chuvas, as
reservas subterrâneas se esgotam. As camadas de água disponíveis são cada vez
mais profundas e de difícil acesso. Os
métodos de extração tornam-se caros e, em muitos casos, chegam a inviabilizar,
economicamente, a atividade agrícola.
Por outro lado, as
chuvas e a evaporação distribuem-se mal: os bosques tropicais, que recebem e
convertem em vapor elevada quantidade de água circulante, são pouco importantes
para a humanidade. Mas o maior problema é a falta de técnica para o
aproveitamento desse montante imenso, que não é aproveitado, mas poderia ser.
Enfim..
No comments:
Post a Comment