Monday, March 16, 2015

O que muda?


Pedro J. Bondaczuk

A grande pergunta que incomodava ontem todas as pessoas com poder de decisão no mundo, depois de conhecida a verdadeira dimensão do massacre aplicado pelo presidente Ronald Reagan sobre o seu oponente, Walter Mondale, nas eleições dos EUA, era a respeito do que pode mudar em conseqüência desse ostensivo apoio popular à sua política interna e externa.

Os latino-americanos temem uma recaída protecionista da superpotência ocidental, para fazer frente aos imensos déficits norte-americanos (orçamentário e da balança comercial), abacaxi que o reeleito, forçosamente, terá que descascar nesse seu segundo mandato. E seu susto aumenta mais ainda diante das projeções pessimistas de que os EUA estariam às vésperas de um novo período recessivo, freando o irresistível crescimento verificado nos últimos dois anos.

O temor da América Central é quanto a possíveis intervenções militares na Nicarágua e em El Salvador, agora que Reagan se sente muito mais seguro de seus atos, ciente de que sua “linha dura” conta com a maioria absoluta de aprovações entre a população do país.

O receio dos russos não é menor do que o dos vizinhos mais próximos dos EUA. O Cremlin, certamente, está ciente de que doravante Washington vai jogar duro em relação à corrida armamentista. É do conhecimento universal a aversão de Reagan pelo sistema soviético, no qual, em reiteradas oportunidades, ele afirmou ver a encarnação de todo o mal existente na Terra e que chegou, mesmo, a prever, num discurso proferido em 1981, o desaparecimento até o final deste século.

É certo que o presidente norte-americano aprendeu muito nos seus primeiros quatro anos na Casa Branca. Adquiriu “cancha” internacional na prática, no dia a dia, cometendo gafes e consertando-as. Mas fazendo, entre erros e acertos, seu país respeitado e temido no mundo todo. Só que mostrou uma imagem de tal forma assustadora, que intimidou até mesmo seus fiéis aliados, temerosos quanto ao lugar que seu radicalismo pode levar a todos nós. Se à mesa de negociações, com Washington numa privilegiada posição de força que lhe permita obter as antes impensáveis concessões da parte da União Soviética. Ou, como advertiu reiteradamente o seu adversário na competição pela Presidência, Walter Mondale, à terrífica cena final do drama humano, com mísseis cortando os céus e pulverizando em minutos imensas aglomerações de pessoas, através da impensável guerra nuclear.

Muitos outros temores foram despertados diante do massacre conseguido por Reagan nas urnas. Mas também esperanças foram suscitadas, principalmente com o tom inusitadamente sereno de seus últimos discursos, tanto o de encerramento da campanha, quanto o de comemoração da vitória, proferido anteontem, no Century Plaza Hotel de Los Angeles, quando definiu como prioridades deste mandato, no plano externo, o fim da corrida armamentista, uma reunião de cúpula com os russos e até mesmo (que bom seria!) a destruição de todos os arsenais nucleares, livrando a humanidade dessa autêntica “espada de Dámocles” que pesa, ameaçadora, sobre a cabeça de todos.

Quanto ao que pode mudar, nenhuma “bola de cristal” é capaz de prever antes que tais mudanças venham a ocorrer. Só podemos, mesmo, é torcer para que as eventuais alterações sejam para melhor.

(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 8 de novembro de 1984).


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