O que muda?
Pedro J. Bondaczuk
A grande pergunta que
incomodava ontem todas as pessoas com poder de decisão no mundo, depois de
conhecida a verdadeira dimensão do massacre aplicado pelo presidente Ronald
Reagan sobre o seu oponente, Walter Mondale, nas eleições dos EUA, era a
respeito do que pode mudar em conseqüência desse ostensivo apoio popular à sua
política interna e externa.
Os
latino-americanos temem uma recaída protecionista da superpotência ocidental,
para fazer frente aos imensos déficits norte-americanos (orçamentário e da
balança comercial), abacaxi que o reeleito, forçosamente, terá que descascar
nesse seu segundo mandato. E seu susto aumenta mais ainda diante das projeções
pessimistas de que os EUA estariam às vésperas de um novo período recessivo,
freando o irresistível crescimento verificado nos últimos dois anos.
O
temor da América Central é quanto a possíveis intervenções militares na
Nicarágua e em El Salvador, agora que Reagan se sente muito mais seguro de seus
atos, ciente de que sua “linha dura” conta com a maioria absoluta de aprovações
entre a população do país.
O
receio dos russos não é menor do que o dos vizinhos mais próximos dos EUA. O
Cremlin, certamente, está ciente de que doravante Washington vai jogar duro em
relação à corrida armamentista. É do conhecimento universal a aversão de Reagan
pelo sistema soviético, no qual, em reiteradas oportunidades, ele afirmou ver a
encarnação de todo o mal existente na Terra e que chegou, mesmo, a prever, num
discurso proferido em 1981, o desaparecimento até o final deste século.
É
certo que o presidente norte-americano aprendeu muito nos seus primeiros quatro
anos na Casa Branca. Adquiriu “cancha” internacional na prática, no dia a dia,
cometendo gafes e consertando-as. Mas fazendo, entre erros e acertos, seu país
respeitado e temido no mundo todo. Só que mostrou uma imagem de tal forma
assustadora, que intimidou até mesmo seus fiéis aliados, temerosos quanto ao
lugar que seu radicalismo pode levar a todos nós. Se à mesa de negociações, com
Washington numa privilegiada posição de força que lhe permita obter as antes
impensáveis concessões da parte da União Soviética. Ou, como advertiu
reiteradamente o seu adversário na competição pela Presidência, Walter Mondale,
à terrífica cena final do drama humano, com mísseis cortando os céus e
pulverizando em minutos imensas aglomerações de pessoas, através da impensável
guerra nuclear.
Muitos
outros temores foram despertados diante do massacre conseguido por Reagan nas
urnas. Mas também esperanças foram suscitadas, principalmente com o tom
inusitadamente sereno de seus últimos discursos, tanto o de encerramento da
campanha, quanto o de comemoração da vitória, proferido anteontem, no Century
Plaza Hotel de Los Angeles, quando definiu como prioridades deste mandato, no
plano externo, o fim da corrida armamentista, uma reunião de cúpula com os
russos e até mesmo (que bom seria!) a destruição de todos os arsenais
nucleares, livrando a humanidade dessa autêntica “espada de Dámocles” que pesa,
ameaçadora, sobre a cabeça de todos.
Quanto
ao que pode mudar, nenhuma “bola de cristal” é capaz de prever antes que tais
mudanças venham a ocorrer. Só podemos, mesmo, é torcer para que as eventuais
alterações sejam para melhor.
(Artigo
publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 8 de novembro de
1984).
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