A
criatividade é ilimitada
Pedro J. Bondaczuk
O potencial humano de
criatividade é imenso, quem sabe infinito, mas nem todos desenvolvem e aplicam
suas habilidades para melhorar suas condições e as da comunidade em que vivem.
Aliás, é possível afirmar, com base em observações, que uma ínfima minoria pensa
nisso. Quem detecta suas aptidões, aperfeiçoa-as e cria, seja lá o que for,
desde que original e útil, ou belo, tende a se destacar. Há os que levam essa
capacidade ao extremo e são considerados (com justiça) gênios nas respectivas
atividades. Estes, todavia, infelizmente são raros. As grandes obras,
intelectuais ou artísticas, são solitárias. São individuais, personalizadas,
frutos do conhecimento, da experiência e da vontade de quem as elabora. E da
sua imaginação, claro. Originam-se de uma visão particular de mundo e, após
elaboradas, se popularizam e ganham acréscimos, aperfeiçoamentos e ampliações
alheios. Mas suas concepções são individuais.
Muitos relutam em criar por temor
do ridículo. Temem não serem compreendidos (e os criadores, volta e meia, não
são) e, por isso, sufocam seu potencial de criatividade, não importa se
artesanal ou artístico ou de que natureza for. Dão importância excessiva às
opiniões alheias. A estes, o genial Pablo Picasso recomenda, do alto da sua
experiência: "Não devemos ter medo de inventar seja o que for. Tudo o que
existe em nós existe também na natureza, pois fazemos parte dela". O
processo de criação literária, por exemplo, e, principalmente, o teor do que é
criado, têm muito a ver com a cultura, a vivência, a autodisciplina, o talento
e ambientes que o escritor freqüentou. E
com sua personalidade. Depende, também, das pessoas que conheceu e de seu grau
de observação, além do óbvio: de sua técnica, seu estilo, seu domínio do idioma
e sua visão de vida.
Por outro lado, cada gênero
(poesia, crônica, ensaio, conto, novela e romance) tem seus próprios macetes,
suas peculiaridades, suas regras características. O escritor personaliza sua
obra com o toque de criatividade que aplica, tanto na sua concepção, quanto, e
principalmente, na execução. O que deve prevalecer, no entanto, acima de tudo,
é o bom gosto. Para ter sucesso, é necessário que a obra literária tenha a
capacidade natural de prender a atenção do leitor. E, mais do que isso, fazer
dele um cúmplice, uma espécie de parceiro do ato criativo, o que é muito mais
difícil do que parece, porém é compensador. Já escrevi a esse propósito em
outras tantas ocasiões, mas nunca é demais reiterar.
Muitos entendem que a capacidade
de criação tem limites e que, após criar uma, ou duas ou uma quantidade
limitada qualquer de obras que tenha em mente, ela se esgota. Discordo. Ela é
ilimitada e pode (e deve) ser exercida enquanto tivermos vida e,
principalmente, lucidez. O maior veneno para a criatividade é a acomodação.
Essa é uma tendência até natural de escritores, pintores, compositores, ou
inventores etc.etc.etc. que se empolgam com o eventual sucesso do que já
criaram e acham que não precisam fazer mais nada. O cientista e escritor de
ficção científica, Isaac Asimov, escreveu (e publicou) 511 livros, além de
contos esparsos, de artigos e de ensaios e nenhum desses trabalhos foi
repetitivo, chato ou monótono. E só não fez mais porque foi “atropelado” pela
morte.
Steve Jobs, reconhecido, com
justiça, como um dos grandes gênios contemporâneos, que morreu recentemente,
declarou o seguinte, a propósito, em uma de suas tantas entrevistas: "Eu
penso que se você fez algo que tenha resultado muito bem, deve logo começar a
fazer outra coisa maravilhosa. Não deve ficar na primeira obra durante
demasiado tempo. Em vez disso, tente adivinhar o que poderia vir a seguir e
siga em frente". Ou seja, resumindo: não se acomode. Crie, crie e crie
enquanto tiver vida e lucidez. Há pessoas que têm potencial imenso de
criatividade, mas o desperdiçam por “n” razões, principalmente por falta de
disciplina, método e comprometimento com o que quer que seja. Acham que lhes
basta mera “inspiração” para inventarem máquinas, princípios, ideologias ou,
até, para escreverem um livro, pintarem um quadro, esculpirem uma estátua,
comporem uma sinfonia ou mesmo simples poema. Estão equivocadas.
E qual a diferença entre “criar”
e “construir”? Existe alguma? Sim! Os que constroem se limitam a executar
projetos alheios. Ou seja, fazem o trabalho “braçal” de determinada obra que
não conceberam. Já os criadores “pensam” suas criações desde a concepção
original até sua concretização, tirando-as do nada. Em termos de satisfação
íntima, prefiro, óbvio, ser criador, embora respeite os construtores, já que,
sem sua providencial ação, muito do que concebo ficará, apenas, no abstrato. O
romancista inglês, Charles Dickens, estabeleceu, com clareza, o que, no seu
entender, diferencia as duas condições: “A verdadeira diferença entre a
construção e a criação é esta: uma coisa construída só pode ser amada depois de
construída, mas uma coisa criada ama-se mesmo antes de existir”. É essa paixão
que deve nos mover vida afora: a de criar, criar e criar, com diligência e
competência.
Não desperdice, pois, seu
talento, talentoso leitor, seja ele o de criador ou de construtor (melhor ainda
será se for de ambos) por mera negligência, como tantas e tantas pessoas
brilhantes, por um motivo ou outro, fazem. Aplique-se, concentre-se, estude e
trabalhe, sem esmorecimento ou desânimo. Afinal, a vida é oportunidade única,
sem nenhuma chance de reprise. E seu potencial de criatividade, caso você
consiga conservar a lucidez, só se esgota com nosso derradeiro suspiro. Pense
nisso.
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