Tuesday, March 24, 2015

A criatividade é ilimitada


Pedro J. Bondaczuk

O potencial humano de criatividade é imenso, quem sabe infinito, mas nem todos desenvolvem e aplicam suas habilidades para melhorar suas condições e as da comunidade em que vivem. Aliás, é possível afirmar, com base em observações, que uma ínfima minoria pensa nisso. Quem detecta suas aptidões, aperfeiçoa-as e cria, seja lá o que for, desde que original e útil, ou belo, tende a se destacar. Há os que levam essa capacidade ao extremo e são considerados (com justiça) gênios nas respectivas atividades. Estes, todavia, infelizmente são raros. As grandes obras, intelectuais ou artísticas, são solitárias. São individuais, personalizadas, frutos do conhecimento, da experiência e da vontade de quem as elabora. E da sua imaginação, claro. Originam-se de uma visão particular de mundo e, após elaboradas, se popularizam e ganham acréscimos, aperfeiçoamentos e ampliações alheios. Mas suas concepções são individuais.

Muitos relutam em criar por temor do ridículo. Temem não serem compreendidos (e os criadores, volta e meia, não são) e, por isso, sufocam seu potencial de criatividade, não importa se artesanal ou artístico ou de que natureza for. Dão importância excessiva às opiniões alheias. A estes, o genial Pablo Picasso recomenda, do alto da sua experiência: "Não devemos ter medo de inventar seja o que for. Tudo o que existe em nós existe também na natureza, pois fazemos parte dela". O processo de criação literária, por exemplo, e, principalmente, o teor do que é criado, têm muito a ver com a cultura, a vivência, a autodisciplina, o talento e  ambientes que o escritor freqüentou. E com sua personalidade. Depende, também, das pessoas que conheceu e de seu grau de observação, além do óbvio: de sua técnica, seu estilo, seu domínio do idioma e sua visão de vida.

Por outro lado, cada gênero (poesia, crônica, ensaio, conto, novela e romance) tem seus próprios macetes, suas peculiaridades, suas regras características. O escritor personaliza sua obra com o toque de criatividade que aplica, tanto na sua concepção, quanto, e principalmente, na execução. O que deve prevalecer, no entanto, acima de tudo, é o bom gosto. Para ter sucesso, é necessário que a obra literária tenha a capacidade natural de prender a atenção do leitor. E, mais do que isso, fazer dele um cúmplice, uma espécie de parceiro do ato criativo, o que é muito mais difícil do que parece, porém é compensador. Já escrevi a esse propósito em outras tantas ocasiões, mas nunca é demais reiterar.

Muitos entendem que a capacidade de criação tem limites e que, após criar uma, ou duas ou uma quantidade limitada qualquer de obras que tenha em mente, ela se esgota. Discordo. Ela é ilimitada e pode (e deve) ser exercida enquanto tivermos vida e, principalmente, lucidez. O maior veneno para a criatividade é a acomodação. Essa é uma tendência até natural de escritores, pintores, compositores, ou inventores etc.etc.etc. que se empolgam com o eventual sucesso do que já criaram e acham que não precisam fazer mais nada. O cientista e escritor de ficção científica, Isaac Asimov, escreveu (e publicou) 511 livros, além de contos esparsos, de artigos e de ensaios e nenhum desses trabalhos foi repetitivo, chato ou monótono. E só não fez mais porque foi “atropelado” pela morte.

Steve Jobs, reconhecido, com justiça, como um dos grandes gênios contemporâneos, que morreu recentemente, declarou o seguinte, a propósito, em uma de suas tantas entrevistas: "Eu penso que se você fez algo que tenha resultado muito bem, deve logo começar a fazer outra coisa maravilhosa. Não deve ficar na primeira obra durante demasiado tempo. Em vez disso, tente adivinhar o que poderia vir a seguir e siga em frente". Ou seja, resumindo: não se acomode. Crie, crie e crie enquanto tiver vida e lucidez. Há pessoas que têm potencial imenso de criatividade, mas o desperdiçam por “n” razões, principalmente por falta de disciplina, método e comprometimento com o que quer que seja. Acham que lhes basta mera “inspiração” para inventarem máquinas, princípios, ideologias ou, até, para escreverem um livro, pintarem um quadro, esculpirem uma estátua, comporem uma sinfonia ou mesmo simples poema. Estão equivocadas.

E qual a diferença entre “criar” e “construir”? Existe alguma? Sim! Os que constroem se limitam a executar projetos alheios. Ou seja, fazem o trabalho “braçal” de determinada obra que não conceberam. Já os criadores “pensam” suas criações desde a concepção original até sua concretização, tirando-as do nada. Em termos de satisfação íntima, prefiro, óbvio, ser criador, embora respeite os construtores, já que, sem sua providencial ação, muito do que concebo ficará, apenas, no abstrato. O romancista inglês, Charles Dickens, estabeleceu, com clareza, o que, no seu entender, diferencia as duas condições: “A verdadeira diferença entre a construção e a criação é esta: uma coisa construída só pode ser amada depois de construída, mas uma coisa criada ama-se mesmo antes de existir”. É essa paixão que deve nos mover vida afora: a de criar, criar e criar, com diligência e competência.

Não desperdice, pois, seu talento, talentoso leitor, seja ele o de criador ou de construtor (melhor ainda será se for de ambos) por mera negligência, como tantas e tantas pessoas brilhantes, por um motivo ou outro, fazem. Aplique-se, concentre-se, estude e trabalhe, sem esmorecimento ou desânimo. Afinal, a vida é oportunidade única, sem nenhuma chance de reprise. E seu potencial de criatividade, caso você consiga conservar a lucidez, só se esgota com nosso derradeiro suspiro. Pense nisso.


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