Ineficiência perdulária
Pedro J. Bondaczuk
Os
serviços de infraestrutura em países em vias de desenvolvimento pecam por
excesso de burocracia. A conclusão é de um relatório, divulgado na
segunda-feira, em Salvador, elaborado por técnicos do Banco Mundial. Esse
desperdício de tempo e de dinheiro acarreta, entre outras coisas, a
ineficiência.
Outro
ponto destacado pelo documento é a ausência ou limitação da concorrência em
áreas como transporte público, energia elétrica, abastecimento de água e
telecomunicações. Esse fato leva as empresas, em geral monopólios, à
acomodação. Os desperdícios acabam, via de regra, sendo repassados aos usuários
que, além de contar com um serviço de qualidade precária, acabam pagando muito
caro por ele.
Os
técnicos do Banco Mundial concluíram que o aumento da eficiência poderia
produzir uma poupança estimada em US$ 55 bilhões por ano, que equivale a um
terço daquilo que é investido pelos países em desenvolvimento em
infraestrutura. Aliás, nem sempre essas inversões são feitas com critério.
Projetos
que acabam se transformando em verdadeiros "elefantes brancos" têm
sido priorizados, em detrimento de outros mais baratos e necessários. Exemplo
gritante dessa distorção é o caso da usina nuclear de Angra dos Reis, apelidada
pela população de "vaga-lume", pois funciona na base do
"pisca-pisca". Opera por alguns dias e fica desligada na maior parte
do tempo.
Os
bilhões de dólares investidos ali dariam para recapear todas as estradas
federais do País, asfaltar as que ainda não são asfaltadas e ainda sobraria
"troco" para investir em duas ou mais hidrelétricas convencionais de
médio porte.
E
por que ocorrem esses equívocos na determinação de prioridades, tendo em conta
a escassez de capitais para investimento? As razões são várias, mas uma delas,
talvez não a principal, destacada pelo 17º Relatório do Banco Mundial, é a
ausência de envolvimento dos usuários na elaboração dos projetos. O
destinatário das obras nunca é consultado.
Há
uma certa arrogância, uma indisfarçável prepotência por parte dos técnicos. Daí
existirem tantas pontes ligando "o nada a lugar algum", por exemplo,
em várias partes do País, notadamente nas regiões Sul e Sudeste, como
monumentos à irresponsabilidade e à incompetência administrativas.
A
sociedade, que banca, de uma forma ou de outra, esses "elefantes
brancos", tem o direito e o dever de cobrar eficiência dos administradores
aos quais delega poderes.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 23 de junho de 1994).
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