Clima de transformações
Pedro J. Bondaczuk
A
China é o país onde atualmente ocorrem as maiores transformações de todo o
mundo, e essas vão desde as político-ideológicas, às econômicas. Por exemplo, o
Partido Comunista chinês, com 40 milhões de membros (o que corresponde
praticamente a toda a população do Irã) está procedendo a um expurgo.
“Até aí, nada demais”, diria o leitor, “já que os
chineses e russos são useiros e vezeiros nessa prática”. Acontece que, como
tudo o que se refere a essa sociedade nacional, esse processo está sendo o
maior da história, envolvendo pelo menos 17 milhões de filiados (quase 50% dos
membros), a maior parte dos quais que ingressaram no PC durante os caóticos dez
anos da Revolução Cultural, ocorrida entre 1966 e 1976.
Outra mudança de rumo da China é quanto à sua
economia. Os atuais governantes ficaram fascinados com o sistema capitalista do
Ocidente e estão implantando regras “revolucionárias”, em termos de marxismo,
no país, planejando a performance das empresas agora não mais visando apenas ao
seu aspecto social, mas buscando, sobretudo, tornar esses empreendimentos
também lucrativos. E para atingir esse objetivo, não estão respeitando nem
mesmo o princípio de garantia de emprego para todos, em vigor há 35 anos.
Segundo o suplemento “Diário Econômico”, que circula
junto com o órgão oficial do partido, Diário do Povo, as empresas chinesas
receberam permissão para demitir até 15% de seu pessoal e reduzir salários
entre 20 e 30%, se isso implicar em maior lucratividade.
Os economistas chineses esperam, com isso, estimular
o aparecimento do que chamam de pequenos empreendedores (o que para nós seriam
microempresas), até um total estimado de 11 milhões, que possam absorver
futuramente os 100 milhões de camponeses ociosos na zona rural e os 2,7 milhões
de jovens desempregados nas grandes cidades. Teoricamente, a tarefa parece
viável. Mas na prática não é muito difícil de se questionar sua possibilidade
de sucesso.
Entretanto, a observação que os analistas fazem com
maior freqüência em relação à China é quanto à estabilidade do seu atual grupo
dirigente com mentalidade reformista. Afinal, os principais líderes,
especialmente o grande mentor dessa virada no regime, Deng Xiaoping, já contam
com provecta idade e desconhece-se quem possa vir a substituí-los em caso de
seu desaparecimento.
Outro aspecto a ser levado em conta, é o que se
refere à influência da Revolução Cultural sobre os chineses. Dez anos de
pregações e militância não se apagam apenas através de decretos, ou de expurgos,
ou de simples boas intenções.
Nada garante que não possa haver uma nova virada
ideológica entre os 1,1 bilhão de chineses, com os juizes de hoje sendo
colocados no banco dos réus de amanhã. Só há uma maneira do processo tornar-se
irreversível: é que as novas medidas, em vias de implantação, surtam os efeitos
delas esperados e beneficiem a maior quantidade possível de chineses. Caso
contrário...
(Artigo publicado na página 9, Internacional, do
Correio Popular, em 30 de novembro de 1984).
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